As eleições europeias

|Hélio Bernardo Lopes|
Estão aí as eleições destinadas a escolher os futuros deputados ao Parlamento Europeu. Desta vez, em Portugal, surge uma nova onda de partidos políticos, para lá dos que já haviam conseguido eleger anteriores deputados. Partidos novos que, naturalmente, vão também apresentar-se a concurso em outubro, nas eleições destinadas a escolher os futuros deputados à Assembleia da República.

Acontece, como penso e já referi por diversas vezes, que os portugueses, de um modo muito geral, toleram bem a democracia, mas nunca a viveram com grande esperança e entusiasmo. Por estas razões, a probabilidade de surgirem resultados novos, muito distintos dos anteriores, é muito pequena. No fundo, a tolerância antes referida está acompanhada de alguma desilusão, apesar de ter o atual Governo de António Costa, suportado pelo PS, Bloco de Esquerda, PCP e Verdes, permitido que a grande maioria dos portugueses pudesse recuperar uma enorme fatia do poder de compra que lhe havia sido retirada pela anterior Maioria-Governo-Presidente.

Nas convivências correntes nota-se perfeitamente uma quase completa ausência de conversas sobre as eleições deste mês, as ditas Eleições Europeias. Aliás, no meu plano familiar mais amplo, com uma notável exceção, ninguém fala das eleições deste mês. Isto mesmo foi possível observar no Dia da Mãe, que congregou dez familiares. Falou-se, até, de política, mas apenas ao redor do caso dos professores, nunca das eleições que aí estão já à porta.

Esta omnipresente realidade tem raízes perfeitamente conhecidas. Desde logo, o modo completamente anónimo como Portugal aderiu às Comunidades, completamente ao arrepio de uma envolvência dos cidadãos. Depois, porque sempre seria de esperar pela materialização das mil e uma garantias dadas pela generalidade da classe política, a cuja luz os portugueses passariam a dispor de um nível de vida próprio dos Estados mais desenvolvidos da nova estrutura para onde iríamos entrar. E, por fim, perante a perda crescente de garantias sociais que se vêm avolumando, tudo percecionado numa incerteza dolorosa e cada dia mais forte.

Por tudo isto, o que é natural é o cabal desinteresse dos portugueses pela União Europeia. Além do mais, os portugueses não sentem uma sua nacionalidade europeia. Os portugueses, claro está, são portugueses, e só geograficamente europeus. E há que ter presente as fantásticas prebendas auferidas pelos deputados ao Parlamento Europeu, praticamente sem controlo e decididas em interesse próprio. Tudo, pois, é distante da vida dos portugueses e das suas reais preocupações, que são, muito acima de tudo o resto, conseguir ter casa, poder tentar salvar a sua saúde, conseguir estudar e viver uma velhice sem ser numa terrível pobreza.

Vejo de um modo confrangedor a fantástica luta dos candidatos pela ida dos portugueses às urnas, o que acaba por ser importante, mas por razões que se situam a anos-luz do que seria de esperar. De molde que se assiste a lutas onde quase nada é dito sobre a União Europeia. É uma prática que lá terá de ter lugar, mas completamente fora do sentir mais profundo da enorme maioria dos portugueses. Ainda assim, as coisas não deverão mudar muito em face do que vem de trás.

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