|Hélio Bernardo Lopes| |
Também eu, naturalmente, tive um comportamento similar, referindo o cambau quando ouvia o apito do comboio de mercadorias que estaria a atravessar a linha de Alcântara. E quando me deitava e a minha mãe fechava a luz, era frequente exclamar: ai, luz cu! Em contrapartida, quando me era feita uma pergunta e não recordava o que estava em jogo, respondia, com um modo conformado: num lemba... Dizia assim não me lembrar do que estava em jogo na pergunta colocada.
Recordei estas realidades, por acaso a partir deste meu caso antes referido, a propósito dos nossos concidadãos que desempenharam o cargo de Ministro das Finanças, que também hoje quase nada recordam do que está em jogo nas mil e uma broncas que se passaram em Portugal nos domínios financeiro e económico em Portugal, já lá deverão ir umas boas décadas. Umas boas décadas e de então para cá, claro está. Objetivamente, num lembam...
Facilmente se percebe que este tipo de tomadas de posição são incomensuravelmente mais graves que o não problema ao redor das escolhas e nomeações de membros do Governo e dos gabinetes dos detentores do poder. A grande e objetiva verdade é que nada resulta desta singular e global falta de memória. Se num lembam, tudo terá de ficar por aqui – em nada, portanto –, dado que nada se pode aquilatar dos desastres que foram tendo lugar ao longo da nossa III República.
Esta realidade que está agora a ser vivida em Portugal mostra bem como é difícil governar Portugal em democracia, até porque os governantes escolhidos, ou os nossos banqueiros, muitos dos nossos principais empresários, naqueles domínios em que se impõe esclarecer as graves situações criadas aos portugueses, lá nos vêm dizer o que já todos puderam ver, apenas com manifestações de ampla risota: aquela rapaziada – e raparigada, claro – num lemba... É isso: temos a democracia, para mais conduzida por europeístas dos quatro costados.