Confirmação

|Hélio Bernardo Lopes|
A notícia hoje surgida em diversos jornais, e já confirmada de viva voz nos noticiários televisivos da noite deste domingo, ao redor da recusa das dioceses do Porto, Lamego e Santarém em constituírem as tais comissões destinadas a tratar os casos de pedofilia, ou de abusos sexuais, por parte de sacerdotes, veio confirmar o que há dias escrevi a propósito da infeliz ideia de José Pacheco Pereira de ver tratado na CIRCULATURA DO QUADRADO os temas acima referidos, para mais com a presença de um os nossos bispos.

Como se percebe facilmente, este tipo de práticas terá de ter tido lugar também em Portugal – porventura, continuará a ter –, porque assim no-lo garante a natureza humana, mas por igual o facto de serem tais acontecimentos oriundos da própria estrutura da Igreja Católica Romana, uma estrutura que não se pauta por regras típicas de um Estado de Direito, e onde os seus membros se encontram ligados por votos de castidade, obediência e pobreza. Diferente, porém, é a realidade das coisas, porque a grande comunicação social de língua inglesa nos trouxe a verdade que está presente no seio da Igreja, levando-a também aos tribunais.

A cultura sobre a sociedade portuguesa e sobre as restantes, felizmente ainda muito forte ao nível dos que mais se interessam pelo que vai pelo Mundo, mostra que o comportamento das comunidades humanas é muito diverso no nosso planeta. E é por ser esta a realidade que sempre me causou uma estranheza forte o surgimento público de diversas facetas do desenlace conjugal entre Bárbara Guimarães e Manuel Maria Carrilho. Mormente a este nível social e profissional, a probabilidade de tal vir a terreiro público é baixíssima. E muitíssimo mais baixa é a probabilidade de alguém, hoje já bem adulto, porventura casado e com filhos e netos, vir agora a público queixar-se deste ou daquele sacerdote.

Uma vez que tudo isto é para mim líquido e transparente, nunca duvidei de que o resultado global de todas estas comissões será completamente nulo. Nem mesmo casos amorosos, até com o surgimento de descendentes pelo meio, merece um ínfimo de reprovação por parte das populações conhecedoras de tais realidades. Só delas se fala entre amigos seguros e sempre com risadas e gozações à mistura.

A própria grande comunicação social faz de tudo isto tábua rasa. BCP, BPP, GES/BES, BANIF, etc., etc., são coisas terríveis, de que se fala a cada dia, sobre que se fazem programas televisivos em barda, mas do Banco do Vaticano – de facto, o IOR – não surgem documentários, muito menos em doses amplas de programas.

Essa grande comunicação social brinda-nos, quase a um ritmo quinzenal, com o caso da IURD, mas nunca com uma série de diversos programas, cada um dedicado aos casos já conhecidos e reconhecidos operados por sacerdotes da Igreja Católica Romana um pouco por cada país do Mundo. Uma realidade já reconhecida oficialmente desde Bento XVI, ao tempo da sua vinda a Portugal. Foi o seu célebre reconhecimento de que o mal está cá dentro. E de tudo isto, retiro três conclusões.

Em primeiro lugar, entendo ser preferível não constituir nenhuma comissão numa diocese, naturalmente sem resultados quaisquer, do que criar uma comissão que acaba por não conseguir quaisquer resultados, com ou sem queixas.

Em segundo lugar, penso hoje que o Papa Francisco, por via do seu profundo espírito cristão, o que acaba é por pôr em causa o bom nome da própria Igreja Católica Romana. Por um lado, porque há muito se conhecem todas estas realidades. E, por outro lado, porque tudo irá continuar na mesma, dado que o problema em causa é estrutural e a estrutura da Igreja é altissimamente inercial.

E, em terceiro lugar, iniciativas como a de José Pacheco Pereira estarão sempre votadas ao falhanço. Mesmo admitindo que houve vítimas em Portugal, até muitas, a verdade é que as mesmas não virão a público, apresentando queixas contra sacerdotes visados nos Tribunais. Desde logo, não dispõem de meios materiais para pagar a um bom advogado. Depois, tenho dúvidas de que um bom advogado estivesse na disposição de defender um queixoso contra um sacerdote da Igreja Católica Romana em Portugal. E, por fim, a generalidade dos portugueses está a anos-luz de dar crédito à Justiça.

O que esta decisão de três das nossas dioceses mostra é a completa inutilidade, em Portugal, de tentar tratar estes temas no domínio público. Será assim como tentar reaproveitar o leite depois de derramado.

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