A verdadeira realidade

|Hélio Bernardo Lopes|
Nunca acreditei que a detenção recente de Temer, no Brasil, viesse a ter desenvolvimentos judiciais. Este meu sentimento suportava-se em quanto se passou com Lula e com Dilma, mas também com Chávez e Maduro na Venezuela. Para já não falar de Cuba e de tudo o que se desenrolou como projeção da Doutrina Monroe. Em todas estas situações, os Estados europeus foram sempre respondendo de cócoras, com as notáveis exceções de Salazar e Franco.

Não se trata aqui de simples opinião, porque ainda há dias Mike Pompeo, em conversa telefónica com Sergei Lavrov, salientou que os Estados Unidos não irão ficar de braços cruzados perante o apoio da Rússia de Putin a Maduro, que os Estados Unidos dizem não ter legitimidade. O mesmo se deu, como desde há décadas se tem podido ver, com o reconhecimento pelos Estados Unidos de Trump de que os Montes Golã são parte integrante de Israel. Atitudes de que os designados líderes europeus fingem não se dar conta, incapazes de defender, de facto, a soberania dos seus Estados perante sucessivas violações do Direito Internacional Público por parte dos norte-americanos. Políticos de plasticina, mas da pior que por aí a vida política vai conseguindo oferecer.

Foi interessante o modo veloz como os nossos políticos da Direita e da Extrema-Direita, tal como os mais diversos jornalistas, analistas e comentadores, vieram a terreiro tentar vender a ideia de que, perante estes acontecimentos com Temer, cairia por terra a ideia de uma perseguição a Lula e a Dilma, bem como ao Partido dos Trabalhadores, (PT). A verdade é que a detenção de Temer ia completamente contra a corrente conhecida dos acontecimentos históricos do Brasil atual, incluindo aquela transferência para Itália de certo magistrado que já havia estabelecido algumas potenciais ligações entre elementos da família Bolsonaro e crimes diversos, mormente ao redor do homicídio de Marielle Franco e de quem a acompanhava.

A prisão de Temer poderia abrir uma autêntica caixa de Pandora, porque é perfeitamente natural que este conheça imenso sobre o que se passou com o homicídio de Marielle, envolvendo, naturalmente, a Direita e a Extrema-Direita brasileira que ajudaram a eleger Jair Bolsonaro. O que significa que o anterior Presidente do Brasil bem poderia vir a entrar num perigoso jogo de delação premiada. Perigoso, muito acima do mais, para as ambições dos Estados Unidos para a retoma do controlo da sua quinta do Sul, que é o subcontinente americano. A prisão de Temer poderia levar a ter de vir a ser assassinado, correndo-se o risco de abrir a tal caixa de Pandora.

Por fim, uma nota sobre um comentário de Daniel Oliveira no último programa EIXO DO MAL: o que está aqui em causa, neste caso da entrada e saída de Temer, é de natureza geopolítica, embora a luta da classe média e média alta contra o elevador social posto em andamento por Lula também tenha estado subjacente à perseguição movida contra Lula, Dilma e PT. Como também está hoje a dar-se com Maduro, que é também um enormíssimo culpado pelo estado a que chegou a Venezuela. Por isso termino como em tantas outras situações: temos a democracia...

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