Dislates e descaramento

|Hélio Bernardo Lopes|
Está hoje a viver-se em Portugal um tempo em que os dislates e o descaramento atingem níveis nunca vistos. Infelizmente, tudo isto tem lugar nos nossos canais televisivos, hoje completamente alinhados com os grandes interesses veiculados pela Direita – PSD e CDS –, mas já também grandes vetores de promoção da Extrema-Direita já nascida. 

Uma realidade – esta última – conseguida por via de opções editoriais, ou por necessidades em termos de espetacularidade, alimento essencial das audiências.

A QUADRATURA DO CÍRCULO de ontem ofereceu-nos à saciedade um conjunto vasto de dislates. Sobretudo, por via das intervenções de Jorge Coelho, que sempre consegue parecer dizer alguma coisa, mesmo quando nada diz de verdadeiramente objetivo. Vejamos alguns dos dislates deste programa, ontem dado a ver aos seus espectadores.

José Pacheco Pereira salientou um dado há muito reconhecido por quase todos, desde que Rui Rio venceu Pedro Santana Lopes nas eleições que tiveram lugar no PSD: a generalidade dos políticos passistas, sabendo da seriedade do novo líder, e também que este não se deitaria a prosseguir a trajetória suicidária e sem saída do seu patrono espiritual, de pronto se deitaram a pô-lo em causa de todo o modo e feitio. E um dos mecanismos utilizados para conseguir tal finalidade foi, precisamente, a grande comunicação social, tarefa que sempre se tornaria facílima.

Naturalmente, Rui Rio deverá ter começado a fazer as suas contas, preparando uma saída forte desses barões do passismo, que só com tremenda dificuldade poderiam vir a deixar a vida política para se determinarem a ir trabalhar num regime mais duro e mais concorrencial. São gente da máquina partidária do PSD, sendo que a grande maioria nunca realizou tarefas de jeito noutro domínio para lá da vida político-partidária. Bom, acentuou-se, ainda mais, a vastidão das tropelias desses barões do passismo contra Rui Rio, com as coisas a atingirem o estado que pode hoje ver-se. Uma verdadeira luta de morte em torno da manutenção de lugares na vida do partido e na vida institucional do País.

Perante isto, que é hoje uma realidade por todos reconhecida, Jorge Coelho deitou mão do seu estilo explicativo, sempre acompanhado do seu “ora vamos lá ver”, mas também da sua já mui conhecida linguagem gestual. Deitou-se, então, a explicar que quem sabia da vida interna do PSD era José Pacheco Pereira, não ele, mas que era um erro meter tudo ao barulho, como, supostamente, havia feito José Pacheco Pereira. Simplesmente, quem acompanha o programa sabe de política, mesmo que pouco, e percebe, portanto, que o académico é que estava cheio de razão. Embora, há que reconhecê-lo, Jorge Coelho até consiga mostrar-se-nos engraçado.

Numa outra passagem, José Pacheco Pereira fez uma referência conhecidíssima e que é o facto de que uma boa parte destes saudosos do passismo são membros de lojas maçónicas. Como facilmente se percebeu, Pacheco Pereira não disse que é a Maçonaria que dirige o passismo, mas sim que há um conjunto de mações que, conjuntamente, há muito atuam na liderança do PSD, ou na tentativa de a ela regressarem. Simplesmente, isto é também uma conhecidíssima realidade. De resto, a palavra Maçonaria traduz um conceito vago e amplo, dado que existem muitas lojas maçónicas.

Jorge Coelho, como teria de dar-se, lá procurou manter-se a bem com Deus e com o Diabo, salientando logo que este tipo de temas nada tem que ver com a vida interna do PSD, ou de qualquer outro partido, o que não sendo verdade nem falso, também não esteve em jogo nas palavras de José Pacheco Pereira.

Mas se neste programa não faltaram dislates, logo hoje nos surgiu o fantástico descaramento populista de Pedro Santana Lopes, ao falar no MEL e ao tratar a temática da vida nacional na TSF. Mostrando uma aparentíssima falta de memória, queixa-se agora em nome das vítimas do estado atual do Serviço Nacional de Saúde, recusando reconhecer que a anterior Maioria-Governo-Presidente lá foi construindo a antecâmara da sua destruição, que foi um sonho de sempre da Direita portuguesa e dos da Extrema-Direita que tiveram, até ao surgimento de Trump, de viver numa espécie de clandestinidade.

Depois, também se mostrou contra tudo e as restantes botas do conjunto: contra os passes sociais, contra o fim das propinas, contra a nova estrutura aeroportuária, etc., etc.. No fundo, a posição de Pedro Santana Lopes é simples de definir: se o Governo de António Costa, ou a Câmara Municipal de Lisboa, aprovam, bom, sou contra. E por isso eu compreendo hoje bem que Jorge Sampaio o tenha posto pela porta fora, de resto aqui apoiado por quase todo o setor realmente importante na nossa vida social. Infelizmente, a História da III República mostrou esta realidade evidente: Pedro Santana Lopes é um pleníssimo perdedor da política, situação que deverá voltar a mostrar-se com as próximas idas às urnas da nova e efémera ALIANÇA. Talvez se Rui Rio levar Luís Montenegro de vencida – irão os votantes usar do bom senso que tanto tem pedido o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa? –, o ALIANÇA se veja bastante ampliado com a vasta debandada de barões do PSD, de pronto para ali passados com armas e bagagens. Um dado é certo: temos hoje à nossa disposição dislates e descaramento em profusão.

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