|Hélio Bernardo Lopes| |
E é igualmente conhecida a fantástica sucessão de inimagináveis acontecimentos que se desenrolaram desde esse dia, que se constituiu numa das páginas mais negras do nosso futebol e do nosso desporto. Infelizmente, o tempo destes dias, de parceria com a singularidade do caso, permitiram que todo o mundo passasse a conhecer aqueles acontecimentos, prejudicando gravemente o Sporting Clube de Portugal, instituição que não merecia passar por um tal inferno.
A passagem de Bruno de Carvalho pela liderança do Sporting Clube de Portugal foi sempre plenamente conhecida pelos sócios da instituição, bem como pelos portugueses mais ligados ao ambiente do futebol. A partir do gravíssimo caso de Alcochete, objetivamente destinado a punir e aterrorizar o plantel futebolístico do clube – pôr aquela malta na ordem, como facilmente se percebeu –, só com imensa dificuldade se não perceberia que se havia tratado de uma ação punitiva e de aviso através de um mecanismo aterrorizador. Havia, pois, que tratar o caso adequadamente e sem tergiversações, ou o modelo bem poderia vir a espalhar-se.
Surgiram depois, dentro do lamentável estado a que chegou a nossa grande comunicação social, perante a espantosa passividade das autoridades judiciais, sucessivos julgamentos opinativos operados através dos canais televisivos, invariavelmente baseados em hipóteses, sempre previamente garantidas como suportadas no desconhecimento das realidades entretanto apuradas pelas autoridades competentes!!
Infelizmente, este estado de coisas já chegou ao dia de hoje, quando os pais de Bruno de Carvalho e sua irmã o foram visitar ao lugar onde se encontra detido por ordem, creio, do Ministério Público. Seria humanamente natural que estes familiares fossem poupados a mil e uma perguntas dos jornalistas, a grande maioria das quais sem um ínfimo de lógica. Se Bruno de Carvalho estava bem?! Se está detido com ou sem razão?! O que pensa Bruno de Carvalho da nossa Justiça?! O que tem o causídico seu defensor a dizer?! Enfim, cenas ridículas e típicas de um jornalismo que parece precisar de sobreviver à custa de inenarráveis espetáculos. Lamentavelmente, espetáculos altamente lesivos da calma que os familiares de Bruno de Carvalho – ou de quem quer que seja –, já idosos, precisam de ter ao seu alcance nas presentes circunstâncias.
Constituiu para mim um espetáculo revoltante o que hoje mesmo pude ver, por mero acaso, no noticiário das 19.00 horas de que qualquer canal de televisão. Só pode gerar revolta um tal tipo de solicitações sem nexo junto de familiares de quem se encontra a passar um momento singularmente difícil. É revoltante assistir a um tal espetáculo ou ter de vivê-lo.