Tremenda surpresa

|Hélio Bernardo Lopes|
Ninguém deixou de reconhecer a surpresa em que se constituiu a recente ampla remodelação do Governo de António Costa. Uma remodelação que se norteou por uma condição necessária – a saída do académico José Azeredo Lopes – e por uma condição de fronteira – a aprovação do Orçamento de Estado para 2019.

Na circunstância dinâmica deste processo, como facilmente se percebeu, o Primeiro-Ministro, António Costa, operou, igualmente, as modificações por si consideradas essenciais a uma maior dinamização governativa. E depois, como também se percebeu, deitou mão de personalidades políticas mais ligadas à vida do PS, perante as eleições que já surgem no horizonte.

Infelizmente, José Azeredo Lopes teve a pouca sorte de ter de tratar com uma estrutura militar hoje muito longe de ser vista com prestígio pelos olhares portugueses. Sobretudo, o Exército, depois do que se pôde ver com as reações subsequentes ao caso do Colégio Militar, mas também pelo que se desenrolou com os instruendos dos Comandos que faleceram e da fantástica embrulhada que parece estar a montante do caso de Tancos e com ele se desenvolveu. O inimaginável num exército do Primeiro Mundo.

Compreendo perfeitamente o profundo desagrado de José Azeredo Lopes em face de quanto teve de passar à frente da pasta da Defesa Nacional, e também percebo muitíssimo bem que não se tenha dado ao trabalho de informar pessoalmente os chefes militares sobre a sua demissão da pasta que sobraçava. Tendo já recordado um caso parecido com Marcelo Caetano, volto a dizer que quem não se sente, não é filho de boa gente.

Substituído José Azeredo Lopes por João Gomes Cravinho, seria perfeitamente expectável que tivesse também de deixar o seu posto o general Rovisco Duarte, um malquerido desde o triste episódio do Colégio Militar, depois seguido do que se passou com os instruendos dos Comandos e com o caso de Tancos. Lá pelo meio, a inenarrável cena da deposição das espadas, com almoços e jantares à mistura, quais condições de perturbação. Por fim, a trapalhada da recuperação das armas, fazendo recordar uma situação que me recuso a designar.

Mas se no Exército foi esta uma parte essencial da barafunda existente, também na Força Aérea surgiu o caso das messes, cujo desenvolvimento judicial se aguarda. E também ao nível do Instituto de Ação Social das Forças Armadas – não é uma estrutura da Força Aérea – surgiu agora mais uma alegada barafunda com uma plataforma de alojamento local. Ou seja, não faltam casos com algum grau de choque e espanto.

Como pude já escrever, João Gomes Cravinho – sobretudo –, mas também Ana Santos Pinto, agora Secretária de Estado da Defesa Nacional, terão de se encontrar em boas condições em matéria de coração, porque a imagem interna atual das nossas Forças Armadas, sobretudo o Exército, está a anos-luz de possuir o prestígio que teve noutros tempos. De antes e de depois da Revolução de 25 de Abril. Uma imagem determinada pela energia interna, mais ou menos incontrolável, que assentou praça nas Forças Armadas, sobretudo no Exército.

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