Duas lástimas e três glórias

|Hélio Bernardo Lopes|
A vida de cada povo compõe-se, naturalmente, de momentos bons e de outros maus. Não faltam lástimas e glórias em tal vivência. Precisamente o que se deu recentemente com a nossa comunidade nacional. Por um lado, duas lástimas: o caso Ricardo Robles e o cabalíssimo vazio da nossa Direita em matéria de propostas políticas para o País e para os portugueses. Por outro lado, três glórias: os casos dos académicos Margarida Silva Carvalho e Manuel Antunes, e o do médico e político, João Semedo. Comecemos, pois, pela parte má deste texto.

Foi de uma extrema infelicidade o que se veio a passar com o ex-vereador do Bloco de Esquerda na Câmara Municipal de Lisboa. A verdade é que, embora tarde, Ricardo Robles lá conseguiu perceber que o que de si foi noticiado se havia já tornado irreversível. A verdade objetiva é que a sua iniciativa, de parceria com sua irmã, era absolutamente incompatível com o que sempre havia defendido no domínio do essencial direito a possuir habitação.

Claro está que o erro foi ter embarcado na tal iniciativa que, desde sempre, havia condenado de um modo claro e pleno de razão. E fizera assim muitíssimo bem, embora se tenha depois deixado levar pela força das circunstâncias. A verdade é que mais vale tarde que nunca, até porque as posições do seu partido estão corretas e devem ser prosseguidas. E já agora, uma notinha: de facto, o tal diploma, já aprovado na Assembleia da República, para ser lei, só falta ser promulgado pelo Presidente da República. Tinha Catarina Martins toda a razão, embora na proporção inversa da nota de oportunidade político-partidária da Presidência da República. Um momento que, por este lado, bem deveria ter sido de silêncio.

Na sequência desta baralhada de Ricardo Robles, a segunda lástima que aqui refiro hoje: voltou a perceber-se, com as mais recentes intervenções do PSD – também do CDS, claro –, que a Direita simplesmente não tem propostas para apresentar. Ou antes, talvez até as possua, só que não pode explicitá-las, porque as mesmas se reduzem à continuação da política da anterior Maioria-Governo-Presidente: cortes, pobreza, emigração, destruição do Estado Social. Outra lástima.

Em contrapartida, também nos surgiram glórias ao caminho. Em primeiro lugar, o prémio atribuído à nossa académica, Margarida Silva Carvalho, destinado à melhor tese de doutoramento em certo período de tempo e em certo espaço geográfico. Um indiscutível fator de orgulho para todos os portugueses, também para a galardoada, para a nossa Academia e para quantos se interessam pelo domínio do saber que se desenvolve na fronteira do conhecimento. Neste caso, no domínio da Investigação Operacional, mormente na Teoria dos Jogos. Um primeiro momento de glória.

Em segundo lugar, a jubilação do académico Manuel Antunes, catedrático e cirurgião torácico de referência, interna e internacional. Com enorme orgulho, foi agora possível ficar a saber que apenas trabalhou, ao longo da sua vida, no Serviço Nacional de Saúde, operando milhares de concidadãos. Até do mundo! Um enormíssimo fator de orgulho para qualquer português.

E, em terceiro lugar, a perda de João Semedo, médico e político. Um concidadão profundamente empenhado na defesa de todos os portugueses, mormente naqueles domínios que mais importam a todos. Tal como referi ao tempo da morte de Miguel Portas, também neste caso, indiscutivelmente, eu senti a perda de um irmão.

Temos lástimas, naturalmente, mas temos muito mais glórias. Citei aqui três destas, mas podia ter igualmente referido a nossa ascensão ao topo do futebol europeu de Sub-19. Infelizmente, não faltam nuvens no horizonte, desde as mais altas e brancas, a outras mais escuras.

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