O dito e a realidade

|Hélio Bernardo Lopes|
Com toda a naturalidade, a recente tomada de posse de Rui Rio como líder do PSD, depois de conhecida toda a sua equipa diretiva, teriam de surgir mudanças na quase globalidade do nosso ambiente partidário. Sobretudo, no âmbito do PSD e do PS, porque pelo lado do CDS, PCP, Bloco de Esquerda e Verdes as mudanças foram ínfimas.

Claro está que estas mudanças no discurso do PSD são um mero baralhar e dar de novo, embora com as roupagens da moda imposta pelos êxitos da governação de António Costa, suportado pelo PS, Bloco de Esquerda, PCP e Verdes. Simplesmente, esta mudança no discurso do PSD é meramente aparente, porque só foi possível pelo facto do sonho da anterior liderança – com adaptações de circunstância, o PSD foi sempre um partido da nossa Direita liberal – se ter mostrado como quimérico e completamente destituído de realidade.

A prova de que é isto uma realidade está logo nas prioridades de consenso apresentadas por Rui Rio, sempre com o sonho de levar a uma destruição do atual e justo sistema da nossa Segurança Social Pública, a fim de lhe permitir passá-lo para o domínio privado. Um sonho que o PS, o Bloco de Esquerda, o PCP e Verdes sempre contrariaram em mais de quatro décadas de vida da nossa III República.

Esta diferença constituiu um separador matricial fundamental entre os que sempre se disseram de Esquerda e os da Direita que surgiu na sequência da Revolução de 25 de Abril, depois plasmada na Constituição de 1976, sucessivamente revista, e que só mereceu o apoio do PSD por razões de tática circunstancial. Hoje, já com os partidos europeus da Internacional Socialista generalizadamente rendidos à tática neoliberal e por isso quase extintos, o PSD voltou a mostrar a sua verdadeira face ideológica: um partido de Direita e neoliberal.

A vitória de António Costa na corrida contra António José Seguro evitou o fim de mais um partido da Internacional Socialista, mas porque o atual Governo, liderado por aquele, operou a justiça essencial para a enorme maioria dos portugueses que se viram atingidos pela política da anterior Maioria-Governo-Presidente. Essa justiça suportou-se, em essência, na promoção do Estado Social, ao invés da tentativa da sua destruição, que este terno político havia tentado.

Já todos perceberam que o Estado Social, tal como sempre funcionou ao longo da III República, é uma estrutura essencial no apoio dos portugueses ao PS. De igual modo, os mais lúcidos e desinteressados não duvidam de que outro é o sonho (de sempre) do PSD e do CDS. O que significa que se o PS acabar por ceder na estrutura do Estado Social aos objetivos estratégicos (de sempre) do PSD e do CDS, nesse mesmo dia iniciar-se-á o fim do próprio PS.

Com frequência, ouve-se dizer que o atual Governo vem produzindo bons resultados – é verdade e que tal se ficou a dever à ação do Governo, mas por igual ao essencial apoio do Bloco de Esquerda, PCP e Verdes – outra evidência. E ouve-se mesmo esta outra cassete: quem puser um fim nesta atual forma de governação, será fortemente penalizado. Simplesmente, isto só é verdade se o Governo não iniciar, fruto de conjugações políticas com o PSD – a Direita, portanto –, mudanças que levem a um desmantelamento do Estado Social, mormente nas vertentes da Segurança Social Pública, da Saúde e da Educação. Mexer no que quer que seja destas matérias, bom, será o início do suicídio...

Hoje, com mais de quatro décadas de vida política nesta nossa III República, o encanto dos portugueses com a política, mesmo com a democracia, está longe de ser forte. Se se virem desamparados no plano do Estado Social, naturalmente, os portugueses acabarão por abandonar os que possam ter abandonado o que sempre apresentaram como sendo o seu ideário: o Estado Social. Convém que os dirigentes políticos do PS nunca esqueçam esta realidade evidentíssima. E também que conjeturem sobre aonde teria chegado o PS se António José Seguro tivesse prosseguido pelo caminho que se ia percebendo.

Por fim, os fogos florestais do próximo verão. Como muito bem referiu o Primeiro-Ministro António Costa, eles para nós voltarão no tempo quente e seco que acabará por chegar dentro de meses. E ninguém pode hoje duvidar de que mais uns fogos como os do passado verão servirão muitíssimo bem a estratégia de tentar pôr em causa o Governo liderado por António Costa. Convém estar atento e não voltar a cometer certos atos de evidência forte, até sinceros e verdadeiros, mas que a nossa nefanda grande comunicação social logo transforma, de modo sensacionalista, em armas a alimentar contra a imagem do Governo da esquerdas, para usar as palavras de Assunção Esteves. Enfim, a ver vamos...

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