O PSD e a ética na política

|Hélio Bernardo Lopes|
Há já muitas décadas, Francisco Sá Carneiro salientou que é essencial a Ética na política, afirmação ao tempo muito glosada por parte da Direita que se manifestou à luz das novas regras criadas na sequência da Revolução de 25 de Abril. 

Uma Direita que, como se sabe, nunca realmente se movimentou na defesa da democracia ao tempo do regime constitucional da II República. De resto, naturalmente acompanhada da generalidade dos portugueses.

Aquela tomada de posição, em si absolutamente correta, esteve sempre fora da realidade da vida política, espaço onde a Ética raramente está presente. É e foi sempre assim por todo o mundo. Mesmo agora, na sequência da vitória de Rui Rio na corrida à liderança do PSD, não faltaram jornalistas, analistas e comentadores a garantir-nos que o vencedor irá rapidamente ver aumentado, de modo exponencial, o número dos seus (ditos) amigos, incluindo, claro está, os que de si disseram o que os muçulmanos não dizem do toucinho.

Tudo isto, porém, é pouco, porque já por aí nos surgiu Manuela Ferreira Leite defendendo que da mesma forma que o Bloco de Esquerda e o PCP têm vendido a alma ao diabo – como é vasta a imaginação! –, exclusivamente com o objetivo de pôr a Direita na rua, ao PSD ficar-lhe-á muito bem se a venda da sua alma – mas o PSD teve alma alguma vez?! – ao diabo se destinar a pôr a Esquerda na rua. É a Ética na política, certamente com o pensamento no espírito sonhador de Francisco Sá Carneiro.

Sem nada de realmente concreto para dizer, também não podendo revelar os reais objetivos do PSD – os que se viram com Pedro Passos Coelho –, Manuela lá nos foi salientando que a eleição de Rui Rio para a liderança do PSD significa um desejo de mudança. Simplesmente, tal não corresponde à realidade, porque os votantes no vencedor foram uma ínfima parte dos militantes do PSD e porque a votação foi, sobretudo, contra Pedro Santana Lopes, mesmo que de um modo injusto. Questiono-me, por exemplo, sobre qual seria o resultado se Rui Rio tivesse como adversário Luís Montenegro, mesmo Maria Luís Albuquerque ou Paulo Rangel.

Ora, foi interessante ouvir Rui Rio garantir que seguirá o legado deixado por Francisco Sá Carneiro, porque se trata do tipo de afirmação gongórica sempre feita por todos os líderes do PSD. Além do mais, nunca existiu qualquer legado deixado por Francisco Sá Carneiro, apenas o mito criado ao redor do nosso antigo político. E é por ser esta a realidade que o PSD nunca teve ideologia, chegando-se mesmo ao atual momento com uma sua antiga líder a defender a venda da sua alma ao diabo. Uma afirmação cuja lógica radica nesta conhecida e simples realidade: o PSD nunca teve ideologia, pelo que não possui alma de qualquer espécie. Essa alma inexistente nunca poderá ser vendida, sobretudo ao diabo. O que Manuela Ferreira Leite nos referiu agora é que o caminho a seguir deverá ser o da política do vale-tudo. E aqui sim, Manuela defende o legado da maior parte da História do PSD: o tudo em nada.

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