Os meninos e as meninas

|Hélio Bernardo Lopes|
Talvez pelo meio da semana que vem de passar, surgiu no seio da nossa comunidade, mormente por via da grande comunicação social, o já histórico caso dos livros de certa editora, diferentes para meninos e para meninas. 

Bom, caro leitor, sorri, já de um modo muito aberto, embora me pareça esquisito proceder ao lançamento de tais obras, uma especificamente para meninos – mais ativa e musculada –, outra para meninas – mais soft e apelativa à calma física.

É do conhecimento de todos que o desenvolvimento global do ser humano se faz ao longo de muitos anos, e onde estão presentes, até perto dos quinze, as grandes influências da família, em casa, e da escola, hoje de muito boa qualidade e muito ampla no plano curricular. A partir daquela idade, até à obtenção de emprego, sucedem-se diversas experiências, surgindo, como terceira influência, a dos grupos de que se vai fazendo parte. E este é, porventura, o período mais perigoso dos três referiidos. De resto, ele é também um período multifacetado e fortemente experimental, quer pelo conhecimento de novos ambientes e situações, quer por se situar aqui a grande importância do que se aprendeu, em termos de autonomia, conduta e moral, nos dois períodos anteriores.

Acontece que tenho um neto, com quinze anos, e uma neta, a menos de uma semana de completar os seus onze anitos. Recordo bem a cor de rosa em mil e uma coisas da vida da minha netinha, de parceria a sua ausência na do meu neto, onde predominaram sempre os azuis, os verdes, os pretos e os brancos. E se este é um evidente rapaz, a neta é uma menina plena de sensibilidade. Realidades que se repetem por toda a família ampla e que só causam excelente agrado aos dois e a todos os restantes, mormente aos pais e avós.

Como referi antes, no terceiro período apontado surgem sempre riscos, mas a verdade é que a sua materialização em nada depende do que estava agora em jogo com os livros para meninos e meninas. E a razão é simples de entender: os riscos em causa dependem, muito acima de tudo o resto, da educação recebida em casa e na escola, mas também da liberdade entretanto já assumida aos quinze anos. É essa a razão que leva a que em famílias razoáveis ou amplas haja os que atingem grande projeção profissional e outros com quem tal não se dá.

Tenho pena de que o Ministério da Educação e as editoras não incitem e não exijam aos autores dos livros a necessidade de tratar a defesa da paz, de promovver a educação cívica, de ensinar primeiros socorros e de que as escolas não agiornem os alunos com a finalidade de ajudar o ambiente envolvente que possa necessitar de algum apoio de tipo diverso. Dar a conhecer a situação dos portugueses, em particular, e do mundo, em geral, tudo numa perspetiva de Direitos Humanos e de dignidade, seria sempre uma importantíssima tarefa e com repercussões grandes no futuro, com meninas ou meninos. Com esta recente polémica o que acabou por fazer-se foi tapar o Sol com uma peneira.

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