Guerra e paz

|Hélio Bernardo Lopes|
Há já muitos anos, conversando com um amigo meu, mais novo e que veio a falecer muito cedo, tive a oportunidade de lhe referir que os Estados Unidos, se acaso viessem a ver-se ultrapassados por um outro qualquer país, acabariam por deitar mão da guerra, se necessário com armas nucleares ou termonucleares. Infelizmente, o meu amigo já não teve a oportunidade de assisstir ao atual desenrolar da vida do mundo.

A História da Terra, como se sabe, é em boa parte também a da vida humana. E a verdade é que os seres humanos, apesar da sua inteligência e da liberdade alta que hoje possuem, continuam a deitar mão da guerra quase todos os dias, se olharmos este tempo numa perspetiva global. Portanto, a História da Vida Humana é a de uma sucessão de guerra e paz. Até as grandes religiões se guerrearam sempre, tal como continua hoje a dar-se.

Ora, num dia destes, referindo-se precisamente à Paz, o Papa Francisco salientou que a mesma é possível, para tal pedindo a todos os cristãos do mundo que para se mostrem unidos. Simplesmente, a frase é muito vaga, porque os cristãos têm opções religiosas muito variadas. E completou: a Paz é possível, mas não é fácil demonstrar isso neste mundo.

E lá nos abriu um pouco a porta: em nome de Jesus podemos mostrar com o nosso testemunho que a paz é possível, mas é possível se estivermos em paz entre nós. Ou seja, os cristãos não estão em paz entre si, pelo que estão em conflito, seja do modo que for... Simplesmente, em certa viagem de avião, o Papa Francisco salientou, sorrindo, que não existia nenhuma guerra religiosa no mundo. E voltou a reforçar o seu ponto de vista: hoje é mais urgente do que nunca a união dos cristãos, caminhar juntos, trabalhar juntos e amar os outros. De molde que surge a questão: e qual o grupo de cristãos que comandaria? Anglicanos? Judeus? Católicos Romanos? Católicos Ortodoxos? Que grupo?

Estas palavras estão muito temporalmente ligadas às recentes declarações do Secretário da Defesa dos Estados Unidos, James Mattis – Cão Raivoso –, no Fórum Diálogo de Shangri-La, em Singapura, onde especialistas de todo o mundo se aperceberam de uma ameaça de guerra dos Estados Unidos com a China. Mattis – Cão Raivoso – foi muito claro, não excluindo a possibilidade de confronto com a China. Uma afirmação que se vem repetindo, ao mesmo tempo que sobre a mesma sobrevém o silêncio cúmplice e cobarde dos políticos europeus.

Tal como está já a dar-se com a recente questão do Qatar. Em síntese: a União Europeia, de facto, só existe no papel, ao mesmo tempo que vai deixando um rasto de pobreza nos seus povos. Mas se o Secretário da Defesa fez estas ameaças, Steve Bannon, conselheiro de Donald Trump, apontou a confrontação entre os Estados Unidos e a China para um prazo até dez anos... Simplesmente, o mais engraçado é ainda a realidade, a que tantos fecham os olhos, mas que Bashar Al Assad soube apontar com clareza: não vale a pena negociar com Trump, porque o Presidente dos Estados Unidos não tem poder, apenas faz o que lhe é consentido pelo sistema. E como até nós tivemos já a oportunidade de ter de viver com esta realidade!...

Ora, Bashar Al Assad também tocou num ponto raramente abordado pelos nossos jornalistas, analistas, comentadores e outros especialistas: o que se passa na Síria só é possível pelo apoio dado pela Turquia, Arábia Saudita, Qatar, Estados Unidos, França e Reino Unido aos grupos que criaram o terror e a guerra no país. É a objetiva verdade. Para o presidente sírio esta assistência aos grupos que levaram a guerra ao seu país significa a chegada de uma nova era, na qual o uso do terrorismo é possível para atingir fins políticos. E quem não percebeu já esta realidade?...

Num destes dias, na peugada desta evidência indicada por Bashar Al-Assad, o líder supremo do Irão, abordando o recente atentado de Londres, exprimiu esta evidentíssima realidade: criaram o inferno que se vê, e são agora eles os atingidos. No fundo, o que disse um antigo senador norte-americano, há já uns anos: vai ser difícil acabar com o Estado Islâmico, porque fomos nós que o criámos.

Mas tudo isto é recente, digamos assim, porque Kaddafi, quando a situação começou a toldar-se na Líbia, bem avisou que o seu país acabaria, com as primaveras árabes, por converter-se num outro Afeganistão, com os terroristas a caminharem para dominar posteriormente a Europa. Bom, aí está a materialização das palavras do antigo líder líbio.

Por fim, as palavras de anteontem de uma lusodescendente nossa nos Estados Unidos, Lúcia Soares: há muito ódio na América e isso preocupa-me, porque a América tem problemas. E completou deste modo a suas palavras: o meu maior medo é que tenhamos chegado ao momento em que esta grande experiência democrática esteja à beira de implodir, esperando eu que não, a bem de toda a civilização ocidental e da democracia. Pode estar enganada...

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