|Hélio Bernardo Lopes| |
Como já se tornou corrente, também Sousa Tavares nos veio referir que a paz na Europa só se conseguiu fora dos Estados-Nação. Segundo o que pensa, a paz que se vem mantendo desde a assinatura do Tratado de Roma só foi possível, precisamente, por via do mesmo e pelo modo como, nos termos do que se tem visto, lá se acabou por chegar à atual União Europeia. Simplesmente, não tem razão.
A paz europeia começou por ter sucedido à guerra. Uma guerra que durou anos. E uma paz que teria sido difícil de conseguir sem o esforço titânico dos Estados Unidos e do Reino Unido. Da França, como se viu, o que sobreveio foram a capitulação e o colaboracionismo com a Alemanha de Adolfo Hitler.
Claro está que, terminada uma tal guerra, devastadora e desumana, não se iria começar uma outra! Simplesmente, o que manteve a paz no espaço europeu e no mundo do tempo foi a OTAN e a posse de armas nucleares por parte dos Estados Unidos, da União Soviética e do Reino Unido. Um terno mais tarde ampliado com a França – os Estados Unidos ainda pensaram em executar De Gaulle...– e com a República Popular da China. Foi a OTAN, muito acima de tudo o resto, e por via da capacidade de destruição mútua assegurada, que mantiveram a paz que se vivido ate aos nossos dias na Europa e no mundo.
Tem a mais cabal razão Marine Le Pen, quando agora grita, nos seus comícios, que os povos da Europa de hoje já se não revêem na União Europeia que se criou. É o que se diz, a cada dia que passa, nas convivências correntes. Raros olham hoje com bons olhos a União Europeia e o futuro que cada dia mais se percebe estar a reservar-se à generalidade dos povos da Europa. De resto, se a União Europeia tivesse hoje uma boa imagem junto dos europeus, nunca teriam o lugar cimeiro que se vai vendo os tais líderes pejorativamente apontados como populistas. A esta luz, o próprio Papa Francisco seria também um populista. Só não merece tal epíteto por ser um líder religioso e por viver a fé, muito acima de tudo o resto, da necessidade humana natural.
O espaço europeu que se conhece apresenta evidentes unidades internas. Desde logo, os Estados escandinavos, que bem poderiam criar entre si um espaço global próprio, porventura agregando e ajudando ao progresso da Estónia, Letónia e Lituânia. Seria uma unidade com todo o potencial para desenvolver um ambiente de progresso para lá de um ínfimo de dúvida.
Um segundo grupo poderia envolver a Alemanha, a França, a Áustria, a Bélgica, a Holanda, a Croácia e o Luxemburgo. Seria mais um pelotão da frente, à semelhança do anterior. Porventura, poderiam entrar aqui também a República Checa e a Polónia.
Um terceiro grupo deveria incluir os ditos Estados do Sul: Portugal, Espanha, Itália e Grécia. Um grupo que, com boa-fé, inteligência e vontade política, deveria, por igual, incluir a Turquia e estender o seu modelo aos Estados do Norte de África: Egito, Líbia, Tunísia, Argélia, Marrocos e Mauritânia.
E um quarto grupo constituído pelos Estados restantes da União Europeia, mas mais ligados, por razões históricas, à Rússia: Roménia, Hungria, Sérvia, Macedónia e outros. Cada um destes grupos, marcados por uma homegeneidade forte e típica, seguiria o seu caminho, podendo, em todo o caso, manter relações de tipo diverso com todos os restantes. E no caso do grupo onde se incluiria Portugal, o mesmo poderia igualmente incluir a República da Irlanda e o Reino Unido, mas à custa de uma grande estratégia virada para parcerias com os Estados que nasceram das descolonizações. De resto, a presença de Portugal e de Espanha no terceiro grupo potenciaria muito as ligações com todo o espaço mundial hispânico.
Estou firmemente convicto de que este seria um excelente caminho para um futuro da Europa com desenvolvimento e progresso material, moral e social, embora haja a tentação de Estados sempre apontados como mais pequenos na Europa pretenderem estar onde não lhes é favorável. O que hoje se percebe ser certo é que o estado a que chegou a União Europeia simplesmente não tem saída. Seguir em frente, como defendem os sonhadores de um fatal e trágico federalismo, seria simplesmente fugir para diante. Seria o mesmo, mas com Estados federados avançados e outros na cepa torta. Essencial é ser realista e conhecer bem a História do Mundo.