É difícil ouvir falar verdade

|Hélio Bernardo Lopes|
É extremamente interessante poder constatar, até com uma frequência longe de ser pequena, como certos mitos vão sendo mantidos no dia-a-dia das comunidades humanas, mormente por via de uma errada ação da grande comunicação social. Refiro-me aqui às considerações corretas do Presidente Donald Trump a propósito das inenarráveis considerações de certo jornalista da Fox News, ao redor do Presidente Vladimir Putin.

Questionado pelo referido jornalista, Donald Trump respondeu que respeitava o presidente russo, mas que teria de vir a perceber como seriam as relações futuras entre os dois. E logo respondeu com esta singeleza: direi que é melhor alinhar com a Rússia do que não o fazer. Bom, é uma verdade simplória, sempre válida, exceto naqueles casos em que deixe de sê-lo.

De um modo patético e bestial, o entrevistador saiu-se com esta máxima, muito ao jeito do próprio presidente americano: tendo sido antigo membro e líder do KGB, é um assassino! Sem mais, completamente dentro da frequência que o jornalista também acabara de usar, Donald Trump respondeu: há muitos assassinos... E logo juntou: que é que acha, o nosso país é inocente?

Num ápice, mormente entre os bem pensantes da nossa comunidade, mormente nas televisões, como que caíram Carmo e Trindade! A uma primeira vista, todos se mostraram espantados com estas palavras, ao invés de o fazerem com o jornalista, que assim criava embaraços ao seu presidente, além de enxovalhar o chefe de um Estado estrangeiro com quem os Estados Unidos mantêm relações diplomáticas e que é até membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas!

Estes mesmos jornalistas – também analistas, comentadores e especialistas – não perdem um momento para referir os (supostos) crimes cometidos por Estados onde está presente o Islão, ou em países africanos, ou mesmo na China, na Rússia, no Iraque, no Afeganistão, etc.. Em contrapartida, sobre a vastidão de crimes cometidos pela CIA e por outras estruturas policiais, ou de espionagem, dos Estados Unidos, da França, do Reino Unido, da Austrália, do Japão, da Coreia do Sul, ou da Alemanha, entre tantos outros, nem uma palavra e muito menos uma reportagem.

Estes nossos concidadãos jornalistas, se acaso pretendessem fazer luz sobre os crimes de guerra praticados pelo Exército dos Estados Unidos no Iraque – por exemplo –, poderiam ter-se dado ao trabalho de conseguir uma entrevista com a brigadeiro-general Janis Karpinsky, que tanto solicitou que a levassem a tribunal marcial, a fim de explicar o que sabe e o que realmente se passou nas prisões americanas do Iraque, precisamente com...a CIA e militares que lhe obedeciam sem pestanejar.

Em contrapartida, apresentam-se como dados certos os relativos a determinada prisão síria, onde teriam sido executados cerca de treze mil detidos, depois de barbaramente torturados, com os corpos a serem depois cremados... Ou seja, não se virão nunca a encontrar os referidos corpos. Um dado a que se impõe juntar esta realidade muito objetiva: os Estados Unidos perderam com Bashar Al-Assad. É certo que com a ajuda russa, mas a verdade é que também os Estados Unidos estiveram na base dos tais grupos de (supostos) rebeldes, como igualmente fizeram com a (dita) revolta ucraniana... E quanto ao Estado Islâmico, bom, lá está já nas páginas da História dos Estados Unidos aquele estranhíssimo pedido de Barack Obama a Donald Trump para que não pedisse a nomeação de um procurador especial com a finalidade de averiguar o caso dos emails de Hillary Clinton, manuseados a partir do seu servidor pessoal. E já reparou o leitor como os democratas tudo estão a fazer para evitar a nomeação do próximo Procurador-Geral dos Estados Unidos? É que, a ser nomeado o tal procurador especial, é o Procurador-Geral que tem de fazê-lo... É fácil, não é?

Como pude já explicar, se fosse norte-americano e pudesse votar, nunca o teria feito em Donald Trump. Ele é, objetivamente, um bronco. Mas também não teria votado em Hillary Clinton. Ou seja, não votaria. Mas há um dado que tenho de reconhecer no atual Presidente dos Estados Unidos: é frontal, corajoso e fala muitíssimo claro, o que sempre terá metido muito medo à fantástica máquina de corrupção que é comandada a partir de Washington e que faz mexer quase todo o mundo.

Termino comparando Donald Trump com Otelo Saraiva de Carvalho, numa entrevista deste ao Expresso em 1975: o massacre de Wirihamu foi feito por tipos da PIDE. Desta vez, porém, a verdade histórica foi colocada no seu devido lugar, mas graças à pronta intervenção, em Londres, do histórico padre Hastings. E – convém não esquecer – tratou-se de um crime de guerra, já assim considerado ao tempo, mas sem que ninguém se tivesse mexido a fim de punir, nos termos da lei, os que assim haviam procedido. Pois, Donald Trump fez o contrário, atalhando logo com a verdade que o referido jornalista, qual pimpão, fingiu nunca ter conhecido. É o jornalismo livre do nosso Ocidente... E sabe o leitor o que lhe digo? Coitados do Assange e, sobretudo, do Edward Snowden.

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