Uma pergunta cheia de lógica

|Hélio Bernardo Lopes|
Escrevi há dias sobre o crime em que se consubstancia a situação dos refugiados no espaço da União Europeia, completamente entregues à ação dos elementos, com muitos a morrerem, outros a ficaram com sequelas para sempre. Porventura, a generalidade com uma esperança de vida muito baixa neste momento.

Devo dizer que nada nisto me causa admiração, dado que o tempo que se vive – modelo neoliberal global, com oito cidadãos do mundo com a mesma riqueza dos quase quatro mil milhões mais pobres do mesmo espaço – se materializa na sobreposição dos interesses aos Direitos Humanos. Primeiro o lucro, depois, se possível, os cidadãos do mundo e de cada Estado.

Em face de uma tal realidade, compreendo muitíssimo bem a pergunta há dias feita por Mario Balotelli, a jogar atualmente no Nice: é normal que os adeptos do Bastia façam barulhos de macaco, com 'uh uh', durante todo o jogo, e ninguém do Conselho de Disciplina diga nada, ou será que o racismo é legal em França?

A pergunta tem toda a pertinência, mas a realidade é uma outra. Por um lado, a União Europeia só nos textos tem valores, mormente o combate ao racismo. Na prática, como cada um de nós conhece bem, isso é mera conversa escrita. Basta olhar, precisamente, o que tem vindo a dar-se com os refugiados. Ou a reação europeia aos mil e um pontapés dados por Israel aos Estados da União Europeia ou a esta mesma estrutura. Ninguém com bom senso leva hoje a sério a União Europeia. E é isso mesmo que Mario Balotelli tem podido ver nos jogos de futebol em que participa.

Por outro lado, as autoridades francesas do futebol, ou as europeias, ou mesmo as mundiais também não tomam medidas drásticas sobre estas manifestações racistas. Num certo sentido, nem podem tomá-las, porque a globalidade do que está em jogo no futebol de hoje só se suporta nos negócios e no dinheiro, nunca em valores ou em princípios. Se assim não fosse, não se teria chegado ao que pôde ver-se com a FIFA e mesmo com a UEFA.

Legalmente, o racismo não existe em França, mas existe na prática, sendo que as instituições deixaram de funcionar capazmente e já não respondem a situações como esta de Balotelli, ou como as mil e uma restantes que conduziram o mundo ao seu estado atual. E se existe espaço onde esta realidade está presente, esse espaço é o da União Europeia, verdadeiro tudo em nada onde é possível a um dos seus líderes dizer que a França é diferente de Portugal – por exemplo – porque é a França. E cá estaremos para ver no que terminará o depósito de resíduos radioativos de Almaraz.

Aqui está, nesta pergunta de Mario Balotelli, um tema que bem merece uma palavra do Papa Francisco. Tal como o caso da atitude de Israel em prosseguir com a construção de colonatos em território do Estado da Palestina. A verdade é que Francisco também acabou por se fazer eco sobre a vitória de Donald Trump, conseguida pelo método de sempre. Mas poderá o Papa apontar o dedo à prática israelita, ou à França? Duvido muito, porque de Israel a resposta poderia ser muitíssimo contundente...

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