A Europa em movimento

|Hélio Bernardo Lopes|
Foi com alguma surpresa que recebi os resultados de ontem da eleição presidencial austríaca e do referendo italiano. E foi assim porque sempre me convenci que o candidato austríaco vencedor seria o que agora foi derrotado. Em todo o caso, as coisas poderão vir a ser diferentes do que aparentam.

É essencial constatar que as situações da Áustria e da Itália são completamente distintas, talvez mesmo diametralmente opostas. Mas há hoje na União Europeia um dado muito comum ao que agora se passou com estes dois países. Uma realidade que também vem estado presente um pouco por todo o mundo: o sentimento de perda do valor da vida e da sua dignidade em face do triunfo neoliberal e do seu alastramento através da globalização. São estes dois fenómenos que vêm minando a crença na democracia, coisa que também deixou de valer, mesmo minimamente, para os políticos hoje gerados por via dos mecanismos eleitorais.

De um modo que já todos perceberam às claras, a generalidade dos povos europeus está farta do euro e da União Europeia. Ao mesmo tempo, percebeu-se que a ação política se desenvolve, de facto, em função dos grandes interesses financeiros, desde os nacionais aos mundiais. As populações, cada uma com os seus traços históricos e culturais típicos, teriam sempre de reagir ao controlo unilateral de um ou dois, completamente à revelia da vontade que sempre se disse ser marcada por eleições livres.

Para se perceber o estado em que se encontra o pensamento dos medíocres políticos de hoje, basta recordar o caso do concurso, O MAIOR PORTUGUÊS DE SEMPRE, e as recentes cerimónias fúnebres de Fidel Castro. No primeiro caso, e como tão bem se poderia prever, saiu vencedor Salazar; no segundo caso, assistiu-se a um acompanhamento maciço dos cubanos, que tributaram a Fidel Castro a homenagem que se viu. Os vencidos políticos de hoje, muito suportados numa comunicação social amestrada e cúmplice, apresentaram o primeiro caso como sem valia técnica e o segundo como orquestração!! Simplesmente, esta emenda é ainda muito pior que os dois sonetos ensaiados...

O que agora se pôde ver na Áustria – a derrota pode vir a não ter importância por via das eleições que se aproximam – e na Itália mostra esta realidade simples de perceber: os povos europeus estão fartos da grande mentira em que se tornou a dita União Europeia e o euro. Não querem nada de comum e de verdadeiramente alternativo e concreto, apenas não querem a mentira que hoje se vive, com uma dita democracia onde só se perdem direitos essenciais e se caminha para o desemprego e a pobreza. O que mais pode dizer-se, depois de quanto se vem vendo, de um modelo que conseguiu gerar, para já, vinte e cinco milhões de crianças e jovens a viver na pobreza? Um modelo que defende o fim do acesso ao saber e à cultura? Que defende o fim do acesso gratuito a cuidados de saúde? Mas um modelo onde a esmagadora maioria dos povos é chamada a pagar os biliões gerados pelos desmandos dos banqueiros, quase sempre sem castigo? Fingem-se de parvos...

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