O tempo a passar

|Hélio Bernardo Lopes|
Mesmo nas ditas Férias Grandes o tempo não para. O que significa que cada um de nós se vê bombardeado com o usual caudal informativo, sujeito, embora, às cambiantes e ao valor próprios deste tempo. A verdade é que o tempo continua a passar, assim nos dando a conhecer novos acontecimentos. Vejamos alguns deles e que parecem ser dos mais referentes.

MEDALHAS LÍMPICAS 
 Muitos portugueses se deixaram contaminar pela vitória de Portugal no recente Euro 2016. A raros ocorreu que também a Dinamarca, até a Grécia, conseguiram tal proeza, sendo que dessas vezes os nossos comentadores sempre salientaram tratar-se de mero acaso, num acontecimento difícil de repetir. Fosse o período de retorno o que fosse.

A verdade é que boa parte dos portugueses sempre se deixou contaminar pela ideia de que também nestas olimpíadas o recente acontecimento do futebol europeu iria repetir-se. Bom, não repetiu. Para já, porque ainda faltam algumas provas quando escrevo este texto. Em todo o caso, a probabilidade de poder surgir um acontecimento inesperadamente agradável é agora muitíssimo mais limitada que ao início desta competição. Os políticos, abordando os resultados económicos e financeiros, diriam que estes resultados estão em linha com o historial olímpico português. Nada, de novo, ou de discrepante. Apenas em desconformidade com o modo português de sonhar acordado.

FESTIVAIS E O RESTO 
 Tempo de verão, ao menos em Portugal, é tempo de festivais de todo o tipo. Lugares onde se procura o inexistente e onde o método utilizado é o do abanar do capacete. Como teria de dar-se, tais lugares são sempre muito marcados pela presença de estupefacientes. Como usa dizer-se, teria de ser assim. Num destes festivais, porém, surgiram também duas mortes. E, como usualmente, sem mais nos surgiram vozes diversas a salientar que as mesmas nada tiveram que ver com drogas. E tudo muitíssimo antes de se iniciarem, sequer, as investigações. Bom, dá para entender...

SINAIS DE RIQUEZA 
Quem vá acompanhando a grande comunicação social televisiva, de há muito conhece o que, por todo o mundo, se vai dizendo sobre a fuga ao Fisco em Portugal. Se a isto se juntar uma vivência prolongada no nosso País, facilmente cada um de nós, se desejar ser sincero, compreenderá que o conhecimento do montante das contas bancárias se constitui num excelente indicador do que, porventura, possa passar-se se alguém tiver um vencimento pouco acima do ordenado mínimo nacional, mas possuir uma conta bancária com muitas dezenas, ou centenas de milhares de euros. Será, naturalmente, um alerta para as autoridades se determinarem a investigar o que possa estar em causa. É, ao final das contas todas, a aplicação da tal equação de balanço por mim expressa há décadas: o que declara, o que possui, de onde lhe vem. Bom, caro leitor foi o fim da picada, o que se constitui num excelente indicador do estado moral dos portugueses.

Seria muito interessante que as nossas televisões se determinassem a entrevistar muitos membros das nossas comunidades nos Estados Unidos, de molde a que pudéssemos saber o que pensam deste tema os nossos compatriotas. Um dado é certo: não existe, pelo meio dessa nossa comunidade, nenhuma pressão sobre congressistas, no sentido de se colocarem limites à ação das entidades fiscais. Por aqui, como se sabe, raros não entrarão em pânico sempre que este tema é tratado. Um excelente indicador...

MALANDROS DOS RUSSOS 
Raro é o dia em que a nossa grande comunicação social televisiva, estrategicamente alinhada com os Estados Unidos, não aponta o dedo à Força Aerospacial Russa, responsabilizando-a por atingir civis, mormente crianças, velhos e senhoras grávidas. Mas só os russos, ou também a Arábia Saudita, agora já fora dos interesses dos Estados Unidos, fruto do petróleo de xisto. Ao mesmo tempo que os aviões ligados aos Estados Unidos só atingem alvos militares, os da Rússia, ou da Síria, tal como os da Arábia Saudita ou dos Estados consigo coligados só atingem crianças, velhos e senhoras grávidas!! Uma realidade contada a um ritmo diário, para mais agora quando o ditador ucraniano, Poroshenko, vai preparando o terreno para o Ocidente lançar a tão desejada e preparada guerra contra a Rússia, com o argumento da Crimeia e do leste ucraniano de maioria russófila. A democracia em movimento...

FOGO INIMIGO
Ao contrário do fogo amigo, o que nos atingiu neste verão foi um verdadeiro e doloroso fogo inimigo. E, como mais ou menos sempre foi tendo lugar em Portugal, bastou a temperatura estar alta, com tempo seco e algum vento, para que, também aqui, nos víssemos colocados em linha com o nosso passado histórico. Mais um naturalíssimo desastre social e humano. Num ápice, eis que nos surgiu um autarca a reclamar contra a falta de tempo de intervenção, simultaneamente com um outro que já o não é mas foi bombeiro, e que nos veio dar o seu palpite: terá havido uma ação terrorista por detrás deste novo desastre com fogo inimigo. Uma explicação que, a ser verdadeira, terá de ter estado também presente em todos os casos passados noutros anos. As coisas estão em linha…

De molde que, num outro ápice, a Ministra da Administração Interna, perante os queixumes daquele primeiro, de pronto determinou um inquérito ao que possa ter-se passado. Quase com toda a certeza, o inquérito irá concluir que as autoridades atuaram bem, mas que os meios, que estavam a ser bem empregues, foram realmente escassos para se poder evitar o desastre de S. Pedro do Sul. Malgrado tudo, e mesmo tendo em conta a falta de jeito expressivo do líder autárquico de S. Pedro do Sul, ficou-me a sensação de que lhe deverá assistir razão.

IMI CATÓLICO 
Sempre que se chega ao problema da Igreja Católica pagar os seus deveres sociais para com a comunidade, bom, caem de novo Carmo e Trindade. Isso mesmo se deu hoje com o caso do IIMI que, com toda a moral, deve também ser aplicado às instituições geridas pela Igreja Católica e que não tenham uma finalidade estritamente religiosa.

Acontece que esta prática esteve sempre presente e desde o início da nova versão da Concordata entre o Estado Português e a Santa Sé. Simplesmente, nós não ouvimos o protesto de hoje durante a vida da anterior Maioria-Governo-Presidente. Bastou surgir um Governo do PS, apoiada pelos partidos da Esquerda, para que de pronto a Igreja Católica tenha surgido a protestar contra a obrigação que lhe compete à luz daquele acordo. Um verdadeiro escândalo, com uma estrutura religiosa que faz tudo para deixar de cumprir os seus deveres perante a comunidade, tal como se dá com todos os outros portugueses ou suas estruturas coletivas. Um escândalo.

A CAIXA, POIS CLARO! 
Ao mesmo tempo, a mais recente barraca com a Caixa Geral de Depósitos, com o Banco Central Europeu a indicar escolas europeias de grande nomeada no domínio da Gestão Bancária para algumas das nossas apregoadas luminárias da gestão privada portuguesa. É caso para que se grite: ao que Portugal se tem sujeitado com a inenarrável e destruidora presença no seio desta famigerada União Europeia! E ainda há quem persista em dizer-se europeísta dos quatro costados!!

ANGOLA, É NOSSA
Chega a causar sorrisos ouvir jornalistas portugueses, completamente ligados à Direita Portuguesa, virem a terreiro levantar objeções as mais patéticas contra o MPLA e o seu congresso. E então depois de se terem escutado as palavras, mais que sensatas, do deputados Hélder Amaral, do CDS/PP, que se limitou a apontar a realidade das atuais relações entre Portugal e Angola. Estes nossos jornalistas da Direita fazem por esquecer as causas do estado a que se chegou em Angola, fingindo acreditar que uma democracia de tipo ocidental europeu poderia ser aplicada em Angola – até em África –, para que, de imediato, tudo logo passasse a funcionar sobre rodas e com o povo e melhorar a sua qualidade de vida a um nível crescente.

Uma terrível falta de vergonha, que faz por passar ao lado dos desastres da Síria, da Líbia, da Tunísia, do Iraque, do Afeganistão, da Turquia, do Iémen, da Somália, da Ucrânia, etc.. Ah!, e dos milhares de casos de mortos ou maltratados por parte da famigerada União Europeia. Quantos anos teremos ainda de esperar, a este ritmo, até aqui chegarem os tais badalados dez mil refugiados? E que é feito das tais famílias para quem o Papa Francisco pediu um aposento em cada paróquia? Pois, eu respondo: no Dia de S. Nunca...

E assim tem vindo a passar o tempo quente deste verão, hoje já com alguma chuvica, que me chegou pouco depois do meio-dia. A cada dia sempre mais do mesmo e de mal para pior.

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