O espantoso caso turco

|Hélio Bernardo Lopes|
Já nem o próprio comissário da União Europeia, Johannes Hahn, que tem em mãos o caso da possível entrada da Turquia naquela estrutura, duvida de que a lista dos milhares de detidos na Turquia, depois do dito golpe de Estado, se encontrava preparada de antemão, de molde a poderem estas detenções ser operadas à primeira oportunidade. Já ninguém duvida de uma tão fortíssima evidência.

Fala-se agora em cerca de quinze mil detidos e demitidos, pelo que me determinei a operar uma conta simples. Tendo a Turquia oito vezes mais população que Portugal, dividindo aqueles quinze mil – virão a ser mais – por oito, obtém-se cerca de mil oitocentos e setenta e cinco. E isto com generais e almirantes, juízes e procuradores, membros do Tribunal Constitucional, polícias e altos quadros do Estado. O que nos permite esta pergunta simples: em quarenta e oito anos da nossa II República existiu por aqui algo de minimamente semelhante a este caso turco? Claro que não! A verdade é que da dita esquerda europeia o que sobreveio foi um razoável silêncio. Dessa Esquerda, da própria União Europeia e mesmo dos Estados Unidos.

Só mesmo um tolo, ou alguém sem um mínimo de coragem moral, pode negar o fantástico isomorfismo entre este caso de Erdogan, na Turquia, e o de Hitler, na Alemanha, antes da Segunda Guerra Mundial. Para nosso risco, a União Europeia de hoje e os seus líderes gozam já da mesma fraqueza e do desprestígio dos que estavam presentes pouco antes de 1939. E Erdogan conhece isso muitíssimo bem. Ele soube compreender o que realmente é hoje a famigerada União Europeia, autêntico barco à deriva, e como os povos europeus seriam sempre incapazes de pegar em armas para se defender, ou mesmo limitarem-se a vir para a rua, tal como ele mesmo nos está a mostrar ao longo de uma semana.

O ditador turco conhece já hoje bem que o seu papel no apoio ao Estado Islâmico, tal como o da Arábia Saudita, estão postos a nu. E sabe que estes dois países estão já numa fase de ostracização por parte dos Estados Unidos, a última porta que possuíam para a manutenção de terríveis ditaduras, violadoras dos Direitos Humanos a um ritmo diário. E imagina que o seu papel como membro da OTAN é insubstituível. E por isso tratou, bem a tempo e horas – ainda antes desta cena macaca do dito golpe de Estado –, de escrever a Vladimir Putin, reconhecendo o erro no abate do avião russo e pedindo desculpa, em seu nome pessoal, pelo sucedido. Num ápice, terminou o anterior corte de relações. Ele está convencido de que a Turquia, como costuma dizer-se, é essencial na OTAN à defesa da Europa e dos Estados Unidos. Felizmente para nós, assim não sucede. Simplesmente, é imprescindível que os Estados Unidos tenham a coragem de ser claros na política externa, mostrando-se determinados onde realmente é preciso.

A correnteza que vai da Grécia à Croácia, de parceria com as dificuldades de hoje da Grécia, mostram o imperativo para a OTAN de colocar a Grécia como o posto avançado de defesa da Europa na zona sudeste europeia. A Turquia, em boa verdade, depois do que hoje se sabe do papel que tem tido no apoio ao Estado Islâmico, tal como a Arábia Saudita, deixou de dar garantias de ser um Estado de Direito Democrático, para mais com um movimento de islamização em desenvolvimento acelerado. Num prazo que poderá não vir longe, a Turquia, tal como a Arábia Saudita, podem bem vir a ter de ser considerados como perigosos estorvos para a liberdade no Ocidente. Têm, pois, de ser assim colocados, ou passará o Ocidente a ter de colocar-se de cócoras perante a Turquia e uma islamização crescente e agressiva, que vai deitando mão de tudo o que possa servir.

A União Europeia e os seus Estados têm de assumir um papel de exigência ao nível do que poderá vir a passar-se com os ora detidos – a tal pena de morte é mero bluff –, mostrando em cada chancelaria a capacidade de dizer, aos diplomatas turcos e no plano público, que se impõe acompanhar o que virá a passar-se com os que estão a ser alvo da perseguição de Erdogan. É um domínio onde se tornam essenciais as instituições internacionais de advogados, de magistrados e do Tribunal Penal Internacional.

Este caso do dito golpe de Estado na Turquia é incomensuravelmente mais perigoso que todos os atentados que têm tido lugar no espaço europeu, porque do desenvolvimento deste caso poderá toda a ação de islamização fanática hoje presente no mundo vir a sofrer um impulso difícil de apreender e de estancar. E convém, de uma vez por todas, pôr um fim na perigosa ideia de aceitar a Turquia na União Europeia. Nunca poderão existir garantias do que quer que seja por parte da Turquia, para o que basta olhar os casos da Polónia e da Hungria, para mais caldeada a Turquia com um movimento acelerado de islamização fanática, conduzido por um ditador. Ainda temos algum tempo...

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