Liberdade religiosa

|Hélio Bernardo Lopes|
Sem especial admiração, foi como tomei conhecimento de um movimento de concidadãos a favor da proibição de ser criada uma nova mesquita na zona lisboeta da Mouraria. Muito em especial, se forem utilizados dinheiros públicos no apoio à edificação daquela estrutura. Muito sinceramente, não fiquei admirado.

Desde há uns bons anos que se ouve falar do direito de liberdade religiosa. Em absoluto, não é possível pôr esta defesa em causa. Simplesmente, como este caso da mesquita vem mostrar, as coisas da vida, mormente as da vida em sociedade, são sempre claramente relativas. Num ápice, eis que de pronto surgiu um movimento destinado a tentar que se impeça a construção da tal nova mesquita da Mouraria.

O Estado Português, naturalmente, é laico. Em todo o caso, existe um sentimento de raiz católica em Portugal, embora longe de uma vivência forte e geral do magistério da Igreja Católica. Basta falar com a generalidade dos portugueses, e de pronto se percebe que o tal traço de cristandade que atravessa a sociedade portuguesa é difuso e tem uma marca própria e conhecida.

Acontece que o Estado Português sempre apoiou instituições religiosas diversas, e por razões muito variadas. Uma realidade que, para mais depois das constantes grandes parangonas do ecumenismo, deveria tolerar, com toda a naturalidade, o apoio à construção de um templo religioso, mesmo assim de modo muito parcial. Infelizmente, o que sobreveio foi uma objetiva manifestação de islamofobia.

Ora, foi também sem estranheza que pude assistir à inenarrável tomada de posição de Clara Ferreira Alves sobre este tema, no mais recente EIXO DO MAL. Católica conhecida, Clara Ferreira Alves – ora se diz de esquerda, ora parece não o ser, assim como quem parece procurar o Santo Graal –, sem argumentos minimamente válidos, ali se nos mostrou defensora de que o apoio a dar à construção da mesquita em causa não venha a ter lugar. Até conseguiu compreender a tal petição entretanto posta a correr!

O que esta tomada de posição de Clara Ferreira Alves mostrou foi a real islamofobia que hoje varre o Ocidente, logo mesmo ao nível de uma boa imensidão dos seus designados intelectuais. Precisamente os que constantemente aplaudem o Papa Francisco e choram os refugiados criados pela má moral do Ocidente.

Fazendo lembrar a lengalenga da defesa dos Direitos Humanos pela Administração dos Estados Unidos, esta defesa dos refugiados – só conversa sem fim, claro está – e das posições do Papa Francisco estão a servir, em todo o caso, para mostrar que o direito de liberdade religiosa, de facto, é mera conversa. Liberdade para os católicos, porque para os muçulmanos o melhor é assobiar para o lado... Simplesmente lastimável.

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