Original e cópia

|Hélio Bernardo Lopes|
Vivemos hoje, como se sabe bem, num mundo verdadeiramente louco. Uma loucura em mui boa medida alimentada pela grande comunicação social, mormente a televisiva. E um dos fatores mais presentes desta loucura que varre o mundo é a bola nossa de cada dia.

Uma realidade que se reduzia a dois programas noturnos no tempo da II República – ao domingo à noite e à segunda-feira, também a essa hora –, está hoje presente em quase todos os dias da semana, horas sem limite. Quase tudo se lhe submete. Uma verdadeira loucura!

A grande comunicação social, hoje também sem grande norte no domínio dos valores, vai vivendo desta mesma loucura. De molde que logo deita mão da mais ínfima inutilidade verbal, mesmo que esta realmente não tenha um ínfimo de valor substantivo. Precisamente o que acabou por passar-se ao redor das mais recentes palavras de Jorge Jesus, quando salientou que uns criam, outros copiam.

A grande verdade da vida, até da História do Mundo, é que tal realidade foi-o sempre de um modo omnipresente. Houve sempre os que criaram – alguma coisa e num tempo limitado, claro está –, e os que depois seguiram as potencialidades dessa criação. Se é verdade que Humphry Davy construiu a primeira fonte luminosa – o nascer da lâmpada incandescente –, logo uns outros melhoraram tal dispositivo, até que Edison veio a construir a primeira autêntica lâmpada incandescente, depois comercializada em 1879.

De um modo muito geral, existem constantes criações, a que se sucedem cópias sucessivas e progressivamente adaptadas. Mesmo melhoradas. E chega mesmo a dar-se o facto de certa criação não ter retirado o seu criador da miséria em que sempre viveu, para mais tarde essa mesma criação vir a ser vendida ou adquirida por valores incomensuravelmente superiores aos pagos ao tempo da criação.

Esta inútil conversa de Jorge Jesus, ao redor da ideia de que uns criam e outros copiam, só serviu para mostrar que, afinal, a cópia, neste caso da bola do passado fim de semana, superou o original. Nada que não seja frequente na História da Humanidade. No meio disto tudo, o mais ridículo – até trágico – ainda continua a ser o desenvolvimento que a grande comunicação social continua a atribuir a acontecimentos com um relevo social quase nulo. Um sinal dos tempos.

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