|Hélio Bernardo Lopes| |
Num dia destes, logo que disponha de um mínimo de calma, escreverei um modelo explicativo meu, mais estruturado, sobre o que terá estado na base deste caso dos Papeis da Mossack Fonseca. A tal empresa que sempre me traz ao pensamento a expressão Mossad Fonseca. Até porque, por razões muito fáceis de perceber, a MOSSAD é um pouco como a histórica Bélarte: está em toda a parte.
De tudo isto, o que acabou por sobressair foi que o mundo ocidental, de facto, se suporta na grande criminalidade das offshores. E depois, que tudo isto, tendo vindo para ficar, só pode ser mantido, de facto, com a tolerância e o apoio da classe política. Com esta manobra dos Estados Unidos o que acaba por ver-se à evidência é que a dita democracia se transformou, depois do fim do comunismo soviético e do triunfo neoliberal, numa autêntica pantomina.
Que teria de ser assim, pois, houve quem dissesse e a tempo e horas. Simplesmente, a classe política, aqui muito apoiada pela grande comunicação social, entretanto tomada pelos grandes interesses, foi sempre negando. O problema foi esta Mossack Fonseca. Agora, muito para cá de um mínimo de erro, ficou a ver-se tudo às claras. Sendo esta a quarta empresa mundial do setor, percebe-se a verdadeira razão de cada um de nós viver acima das nossas possibilidades...
Tudo isto, como terá de compreender-se, está a gerar uma verdadeira reação em cadeia, tentando levar, em países diversos, os jornalistas a expor o leque de nomes por si já conhecidos. Ora, é fácil conseguir tal realidade, embora de um modo arriscado: um tribunal dos Estados Unidos poderá determinar que sejam entregues os tais triliões de informações. Simplesmente, para lá de outros riscos, o que assim se ficaria a saber é que onde houver gente com poder estará, com elevada probabilidade, alguém com pilim numa ou mais offshores.
Por tudo isto, pode o leitor perceber agora que a democracia, de facto, é uma pândega. No fundo, o que há uns anos – já muitos – escrevi: a democracia é uma ilusão, mas que funciona. Só que funciona cada vez pior. Portanto, caro leitor, vá contando os dias até ao momento em que as Nações Unidas venham a proibir as offshores... E por falar em Nações Unidas: com este caso da Mossack Fonseca a decorrer, reparou que António Guterres, na sua audição de ontem, não se lhe referiu, nem lhe foi o tema colocado?