Dourada, prateada ou bronzeada?

|Hélio Bernardo Lopes|
Como será do conhecimento da generalidade dos que me leem, uma mão chega para contar o número de textos de António Barreto por mim lidos. Vivo, de facto, a anos-luz das suas posições políticas atuais.

Por um acaso, ao ler (e depois guardar) o texto de ontem de Viriato Soromenho Marques – SUPORTAR O INSUPORTÁVEL –, dei-me conta de um texto de António Barreto, também no Diário de Notícias de ontem, intitulado, SERVIÇO E AMBIÇÃO. Tirei a conclusão de que o mesmo teria de debruçar-se sobre a chegada de Marcelo Rebelo de Sousa ao alto cargo de Presidente da República. Não me enganei, embora apenas me tenha interessado esta frase que surge logo no primeiro parágrafo: Todos os presidentes da República pensam que o seu cargo não é o fim da carreira. Nem uma recompensa, muito menos uma reforma dourada. Truncando esta frase, quedo-me nesta outra, que penso traduzir o que Barreto quis também dizer: Todos os presidentes da República pensam que o seu cargo não é (…) uma reforma dourada.

É muito provável que a frase traduza a realidade do pensamento dos que foram já Presidentes da República, mas a verdade é que o conceito de reforma dourada é vago. Em todo o caso, esta imprecisão só se prende com quem quiser dar-lhe uma definição precisa, o que não é o caso da esmagadora maioria dos portugueses. E é muito fácil provar esta realidade. Basta recolher a opinião dos seus familiares, amigos e conhecidos a esta pergunta: preferes viver com o que tens, ou ser Presidente da República, com tudo o que este cargo confere aos que o exercem, mormente no domínio material?

Mesmo no sentido meramente estrito de reforma após o exercício da função presidencial, até após um só mandato, a situação material de um antigo Presidente da República é verdadeiramente singular no plano nacional. Passa a dispor de um imóvel do Estado, com secretária e meios inerentes, carro do Estado e motorista, para lá do montante da reforma que lhe é inerente.

Claro está que banqueiros, administradores de grandes empresas, grandes futebolistas ou treinadores e mais um ou dois milhares de portugueses, poderão ter uma condição melhor, mas a esmagadora maioria dos portugueses fica a anos-luz de uma tal situação. A tudo isto, claro está, poderão ainda juntar-se outros benefícios, se o antigo Presidente da República vier a colher os seus legais e legítimos dividendos por outras ações a que venha a estar ligado.

À laia de conclusão, fica-me a dúvida se uma tal reforma poderá considerar-se dourada, prateada ou bronzeada. Certo é que só um número muito reduzido de portugueses não trocaria a sua atual situação por aquilo que, no plano material, é inerente à situação de se ser, ou ter sido, Presidente da República.

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