A simpatia e a realidade

|Hélio Bernardo Lopes|
Com um terrível azar, foi ontem mesmo, quando o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa visitava oficialmente o Papa Francisco, que se soube aqui, em Portugal, da decisão da Cúria Romana de afastar a língua portuguesa, uma das línguas oficiais da Congregação para a Causa dos Santos.

Tratou-se de uma decisão sem fundamento lógico, para mais aqui chegada ontem mesmo, quando o nosso Presidente da República realizava a sua visita de Estado à Santa Sé. Numa tal circunstância, o cardeal Clemente surgiu a terreiro, contestando o valor desta decisão e salientando que a língua portuguesa é a de um conjunto de povos católicos que se pautam por cento e sessenta milhões de seres humanos, para mais espalhados por todos os continentes.

Garantiu o cardeal Clemente que a estratégia de defesa da continuação da língua portuguesa no Vaticano será definida pela Conferência Episcopal Portuguesa, situação que nos deixa ansiosos, tanto pela estratégia em si, como pelos ecos que possa vir a recolher junto do Vaticano, mormente da sua Cúria.

Tendo presente que os católicos no mundo são cerca de mil e trezentos milhões, tal significa que os falantes católicos de língua portuguesa superam os dez pontos percentuais daquela totalidade. Em contrapartida, o castelhano continuará como uma das línguas usadas por aquela estrutura. É uma decisão lógica, neste caso, mas que não acompanha a que nos atingiu.

Ora, qual é o (inacreditável) argumento da Cúria Romana? Pois, o de ser o português muito complicado! De molde que a Cúria Romana, para o futuro, aconselha que a redação das sínteses dos processos de futuros santos sejam redigidas só em italiano, espanhol, inglês, francês e latim. Mas a Cúria vai ainda mais longe, mormente nas contas de mercearia com que trata este tema, argumentando que Portugal apenas tem vinte dioceses, muito menos que o Brasil!! Mas, afinal, qual é a língua oficial do Brasil, de Angola, de Moçambique, de Cabo Verde da Guiné-Bissau, de São Tomé e Príncipe, de Timor e até de muita gente de Goa? E mesmo a Guiné Equatorial também assegura que a língua portuguesa estará a progredir no país!

Quase com toda a certeza, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa não terá tratado esta inacreditável decisão com o Papa Francisco. Mas foi pena, porque para lá da evidência do erro que comporta, parece que Francisco conviveu com muitos dos nossos nacionais emigrados na Argentina. Para lá do ridículo da decisão, suportada em erradas contas de mercearia, tudo quase se parece com uma partida de mau gosto. Mas vamos esperar.

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