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|Hélio Bernardo Lopes| |
Passaram, porém, as semanas que refiro ao início, e aí nos surgiram novas confirmações da realidade descoberta e já praticamente confirmada. E, como me parece evidente, os livros de História sempre terão de recordar Lech Walesa e o seu Solidariedade. Mas por igual acabarão por tratar o caso que se tornou já claro: consoante o vetor resultante, assim Walesa se direcionava e assumia um sentido político. Se o comunismo parecia estar de perda e cal, ele colaboraria com a polícia política. Se um papa polaco desenvolvia a sua ação em Roma, ele deverá ter percebido que o tempo poderia dar-se ares de mudança.
Acontece que Czeslaw Kiszczak, antigo Ministro do Interior da Polónia, faleceu há uns meses poucos, assim colocando Walesa de novo à beira do abismo. Um abismo que se foi abrindo por via da ação de Piotr Naimski, que foi o líder dos serviços secretos que ajudou a descobrir quem tinha colaborado com a polícia política comunista, ajudado aí por Antoni Macierewicz, antigo membro do Solidariedade. Obtiveram, deste modo, uma lista com mais de seis dezenas de antigos colaboradores da polícia política comunista, que incluía Lech Walesa, designado pelo nome de código, Bolek.
Será agora interessante estar atento ao que vai seguir-se, de modo a poder perceber se, de facto, na livre Polónia destes dias – é piada, claro – a lei é igual para todos. De um modo muito geral, por quase todo o mundo não é tal que tem lugar, pelo que o que deste caso vier a sair será muito significativo.
Existe já uma obra publicada sobre a colaboração com a polícia política na Polónia. Este livro mostra, precisamente, as provas que incriminam Lech Walesa. O tal Prémio Nobel da Paz... Felizmente, para lá de nada dever vir a acontecer-lhe, ainda teve a sorte de, estando zangado com um dos Kaczinsky, não ter sido convidado, assim não falecendo no desastre do avião que levava a comitiva polaca à cerimónia do massacre de Katyn.
Enfim, Walesa já disse tudo e o seu contrário ao redor deste caso, desde uma explicação infantil à completa negação. As coisas da luta política mostram, quase sempre, a frágil condição humana.