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|Hélio Bernardo Lopes| |
A uma primeira vista, porém, parece não se ter conseguido responder à questão que foi colocada, mas eu penso que posso contribuir com um mínimo, naturalmente ao meu nível.
O que é verdade, como há dias escrevi, é que reinam hoje no mundo o desnorte e a mentira. E reinam no mundo, em geral, mas também na vida interna de uma grande maioria dos Estados. Como ontem escrevi, a propósito do texto de José Souto de Moura sobre a eutanásia, o falhanço cabal dos mecanismos da Justiça tem sido um dos fatores que mais têm contribuído para o que se vai vendo no mundo de hoje. Em todo o caso, um falhanço que se suporta num experimentalismo político que deitou por terra valores muito essenciais à defesa dos Direitos Humanos e da dignidade das pessoas.
É verdade que reina hoje uma anarquia forte no mundo, mas cada um de nós sabe que a mesma terá um fim, a que se seguirá, quase com toda a certeza, uma ditadura. Ou uma ditadura global, suportada em espaços regionais ou nacionais ditatoriais. De resto, o mais recente relatório da Amnistia Internacional refere mesmo que está a dar-se um recuo no domínio dos Direitos Humanos em todo o mundo. Ora, essa ditadura global terá de ter um suporte religioso.
Nos dias que correm assiste-se, precisamente, a uma corrida no domínio religioso. Tenta-se, a todo o custo, aglutinar as grandes correntes religiosas desavindas do Cristianismo, ao mesmo tempo que se assiste a uma destruição, que deriva de fatores intrínsecos mas é acelerada por catalisadores políticos externos, no seio do Islão. E quanto ao judaísmo, a verdade é que o mesmo está longe de se constituir num fator de complicação para o que está já a decorrer.
Olhando com alguma atenção, constatam-se algumas vitórias do Catolicismo, mormente na ocupação – ou na tentativa de atingir tal – de lugares de poder internacional. Poder que, mesmo que simbólico, permite dominar o respetivo funcionamento e influência. Esta é uma razão para que eu compreenda a reação da maioria da população britânica contra a sua presença no seio da União Europeia, porque a família real, bem como o Anglicanismo, correriam um sério risco de se diluírem no seio de uma Europa que, a ter uma religião de Estado, seria a Católica.
Isto mesmo salientei eu na minha apreciação às ESCOLHAS DE MARCELO para o Conselho de Estado, porque só na aparência Eduardo Lourenço e António Guterres se podem tomar como socialistas. O que realmente são, como todos os restantes convidados, é católicos. Isso, sim, é o que terá estado em jogo na sua escolha, para lá de amizades e da qualidade indiscutível.
Por fim, as recentes palavras do Papa Francisco sobre Donald Trump. A verdade é que não faltam muros por todo o lado. Desde Israel à famigerada União Europeia o que não faltam são muros e cercas. O que significa que não poderá o prolongamento do muro já existente no Sul dos Estados Unidos ser coisa assim tão singular. No meu entendimento, o que esteve em jogo nas considerações do Papa Francisco foi o facto de Donald Trump ser um batista. E foi por pensar deste modo que, por alturas das dúvidas sobre a corrida presidencial de António Guterres, eu escrevi ter algumas dúvidas sobre as suas possibilidades, dada a sua ligação muito forte à Igreja Católica. Do ponto de vista da Igreja Católica, pois não há melhor, mas na perspetiva geopolítica dos Estados Unidos a escolha de alguém da Europa de Leste será o melhor. De preferência, uma mulher. Além do mais, a experiência política e a real preparação, nestas situações, é o que menos importa.
Assim, nos termos do que acabo de escrever, o facto de reinar hoje o caos no mundo, com mil e uma guerras em franco desenvolvimento, não passa de um interlúdio, porque o caos acabará por passar. O que conta é o que surgirá no seu rescaldo. Com Donald Trump na liderança dos Estados Unidos, é quase certo que as relações entre a Rússia e os Estados Unidos voltarão ao estado que todos desejam. Para o mundo católico ocidental, porém, sempre é preferível uma retoma da unidade entre católicos e ortodoxos, sobretudo, se Trump vier a ficar fora do poder.
O que importa é perceber que o caos terá de terminar, sendo certo que se lhe seguirá uma ditadura global de base religiosa. Pode, até, comportar cambiantes, regionais ou nacionais, ou mesmo plurirreligiosas, mas onde existirá uma componente francamente dominante. Já quanto à democracia, ela irá ser reorganizada, de modo a que, continuando sempre a dizer-se presente, nada conceda aos cidadãos em termos de real poder. Precisamente o contrário do referido por Durão Barroso, que se mostrou descrente de uma cabala da grande riqueza mundial, embora tenha evitado tratar a hipótese desse poder mundial sobrevir oriundo da religiosidade. De resto, que melhor ingrediente poderá existir, para esta minha previsão, que o caos e o desnorte? Não dispondo de divisões militares, as estruturas religiosas dispõem da infinda legião dos soldados da fé. É uma realidade que vem sendo montada desde há muitas décadas.