Mais duas

|Hélio Bernardo Lopes|
Tive ontem a oportunidade de escrever o texto, ESTRÓRDINÁRIA DESCOBERTA!!, ligado a conclusões tiradas pelo Banco Mundial sobre certo tema e que sempre poderiam facilmente ter sido abarcadas por via de um ato muito elementar de conjetura. 

A grande verdade é que esta se mostra quase completamente ausente nas tomadas de decisão do atual poder político, seja nacional ou outro.

Mas logo ontem mesmo nos chegaram duas novas dessas estrórdinárias descobertas, uma do cientista Stephen Hawking, outra da Amnistia Internacional. Em boa verdade, porém, só aquela pode apontar-se como descoberta estrórdinária, porque a segunda é conhecida de há muito, tendo mesmo merecido já documentários televisivos muito clarificadores. Eu mesmo, fazendo-me eco destes, escrevi, por vezes diversas, sobre o tema. Mas vejamos o que agora parece ter sido descoberto de modo estrórdinário, começando pela denúncia da Amnistia Internacional.

Pois, esta revelação da Aministia Internacional, não sendo uma descoberta, é uma denúncia estrórdinaria, porque a realidade em causa é cabalmente conhecida de todos os que vêm passando pelo poder, seja político, económico, militar ou religioso. Todo o mundo – como usa dizer-se – conhece este horror, embora do mesmo pouco se fale e muitíssimo menos se atue.

Trata-se aqui da utilização, por parte das grandes empresas de tecnologia, de autêntica mão-de-obra escrava, constituída por crianças, que em territórios congoleses trabalham em minas de onde extrai minério de cobalto, que vai incorporar os nossos telemóveis e computadores, após processamento adequado.

É uma situação completamente conhecida de todo o mundo, mormente de democratas, jornalistas, responsáveis políticos e religiosos, intelectuais, e, obviamente, de cientistas e empresários. Crianças exploradas em regime de verdadeira escravidão e sem um infinitésimo de acesso aos resultados do progresso do ambiente para que, em última análise, acabam por trabalhar. Fico até espantado com o facto, por exemplo, de não ver a Associação Internacional de Juristas, ou outras instituições do género, solicitarem uma averiguação destes casos junto dos tribunais internacionais competentes. Ou seja, uma denúncia estrórdinária, mais esta da Amnistia Internacional.

Em contrapartida, o recente alerta de Stephen Hawking para o facto de um desastre para o planeta Terra ser quase certo nos próximos mil ou dez mil anos, constitui, indiscutivelmente, uma descoberta estrórdinária. Em minha opinião, porém, erra num ponto, que é quando refere o tempo necessário para o desastre terreno. Pelo meu lado, estou firmemente certo de que esse desastre será incomensuravelmente mais próximo do tempo de hoje. De resto, o físico aponta mesmo as colónias no espaço como a possibilidade de sobrevivência do ser humano.

Diz o cientista que a Humanidade tem fabricado para si mesma e para o seu futuro terríveis riscos, o que qualquer um de nós conhece bem. E refere mesmo o que todos nós, desde que com um mínimo de calma e ponderação, facilmente conseguiremos deduzir: que o progresso tecnológico e científico criará várias formas de as coisas poderem correr mal, podendo mesmo significar um autogolo da Humanidade contra si própria. É a evidência!

Ao ler estas mais que evidentes considerações de Stephen Hawking, de pronto me veio ao pensamento o meu já falecido amigo, Luís Paulo Tomé do Val – era Val e não Vale –, porque ele acreditava no ser humano como se fosse um deus, dado que seria sempre capaz de criar as essenciais soluções para os males que fosse lançando no mundo. E não foram poucas as vezes em que lhe salientei que a realidade do mundo que se estava a construir era verdadeiramente suicida. Certo é que morreu sem acreditar no que agora Stephen Hawking nos veio expor, qual descoberta estrórdinária. O que me coloca esta questão: há quanto tempo Stephen Hawking percebeu tal realidade tão objetiva?

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