Amar num tamanho 38

|Tânia Rei|
Uma época em que cada vez mais surgem movimentos que tentam provar que as mentalidades estão mudadas quanto aos estereótipos sobre o corpo e em que ser diferente não faz mal, questiono-me quanto ao lado prático da questão.

É que falar e partilhar vídeos do Youtube é muito fácil. O difícil mesmo é fazer realmente as pessoas sentirem-se bem como são. Sim – fazer com que elas se sintam. Isto porque elas até podem estar na boa com o seu físico, mas há sempre quem teime, por vezes sem querer, em incutir um espírito de “not good enough”.

Recordo-me de uma paixão arrebatadora que vivi (e que, logicamente, como vão perceber porquê, durou apenas um mês e meio) em que também fui confrontada com o facto de “ter que ser uma miúda à altura” de quem faz ginásio e come muita alface, assim como ter descoberto que pareço bonita “às vezes” nas fotos do Facebook”, ao passo que outras vezes sou “esquisita”. Por segundos ainda acreditei que era vital para a minha existência vestir um 32 de calças e ir à depilação semanalmente. Foram longos segundos, até que o meu cérebro me disse que ambos estávamos a avaliar mal a situação, porque há mais pessoas no mundo – umas irão servir para satisfazer os requisitos dele e outras irão gostar de mim tal como sou.

E esta é uma lição de vida que levo. As pessoas são como são, e se eu não gosto não tenho que fazer por gostar ou, pior, dizer ao outro como queria que ele fosse. Ser egoísta às vezes é bom, mas não nestes casos.

É que é errado achar que tem que toda a gente tem de se encaixar nos nossos padrões, ou nós nos dos outros. Assim como é errado achar que a “amiga gorda” não pode ir para casa com o rapaz mais bonito da festa, e que o “bexigoso” não pode ser super fixe e bonito. Mas o pior mesmo é que os visados se vejam com esses rótulos quando se olham ao espelho.

O problema? É que achamos que não somos tão bons quanto o resto da humanidade. O melhor exemplo é um dos tais vídeos de que falo linhas acima, e em foram filmadas as reacções de vários estudantes enquanto lhes diziam “acho-te bonito/a”. Muitos sorriram, a maioria não acreditou e alguns foram agressivos até.

A norma não deveria ser a surpresa estampada no rosto, porque alguém deveria ter dito antes “és bonito/a”. A norma deveria ser poder enfrentar o mundo com confiança, sem ter nas costas o peso de, eventualmente, “not good enough”. E hoje, em consciência, acho que amar e ser amado num tamanho 38 é tão fixe quanto num tamanho 32 – somente porque todos somos bons o suficiente.

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