"Ajuda de custos"

|Hélio Bernardo Lopes|
A recente vitória de Marcelo Rebelo de Sousa na eleição para o Presidente da República, como facilmente se percebe, terá de ter implicações na globalidade da vida política portuguesa. Por muito que Marcelo se tenha esforçado por garantir que todos irá respeitar, a verdade é que logo salientou não abdicar do seu estilo nem das suas convicções. 

Uma expressão que, sendo lógica e natural, também mostra que Marcelo Rebelo de Sousa não irá apenas passar por Belém, nem deixará de se manter fiel ao seu ideário político, ou seja, o do PSD. Mais histórico ou mais alinhado com os atuais comandos neoliberais.

Igualmente verdadeiro é o facto de ninguém atento ter esquecido aquelas históricas palavras de Pedro Passos Coelho, em certa reunião do seu partido, em torno do imperativo de se não vir a apoiar um qualquer catavento político. Uma frase que adquiriu o significado que logo ao tempo o próprio Marcelo tomou como a si referente. Por muito que o atual líder do PSD venha agora negar a realidade que todos tomaram como a evidente, a verdade é que a História irá sempre registar o que é lógico e plausível.

Objetivamente não parece simples a possibilidade de Marcelo Rebelo de Sousa poder, mais diretamente ou ao invés, intervir na vida interna do PSD. E os seus atuais dirigentes conhecem esta realidade evidente: se Pedro Passos Coelho deixar a liderança do partido, consigo arrastará a vasta equipa que, por todo o País, sempre o acompanhou. Como se percebe, não será uma situação fácil de aceitar.

É neste sentido que tem de se interpretar a recente entrevista de Diogo Freitas do Amaral a uma rádio nacional: para que a Direita possa preparar-se para uma intervenção futura adequada será essencial uma mudança de liderança no PSD, o que até já teve lugar no CDS/PP.

É claro que a esmagadora maioria dos portugueses nunca irá esquecer facilmente o que PSD e CDS/PP fizeram às suas vidas e às das suas famílias, mas a grande verdade é que, ainda assim, o PSD conseguiu mais votos e mais mandatos – poucos – que o PS, sendo que a mudança de líder no CDS/PP se terá ficado a dever, quase com toda a certeza, a uma candidatura de Paulo Portas ao Presidente da República, dentro de cinco anos. Se Marcelo Rebelo de Sousa, como tudo indica, se determinar a cumprir um só mandato presidencial.

Mas se desta vez foi Diogo Freitas do Amaral a vir a terreiro aconselhar a saída de Pedro Passos Coelho – quase com toda a certeza, o Presidente eleito pensará de modo igual –, num dia destes surgir-nos-á aí Manuela Ferreira Leite, de pronto seguida de Ângelo Correia, todos entrevistados em profusão e ao ritmo conveniente. Até a fação direitista do PS – os seus homens da Terceira Via, que tão dedicados se mostraram no desastre anunciado da candidatura de Maria de Belém –, com elevada probabilidade, por aí deverá também surgir a apontar os benefícios da saída de Pedro Passos Coelho da liderança do PSD. Tudo, pois, com o pensamento posto num futuro Bloco Central. Com evidência forte, cada um virá mais tarde culpar o outro do falhanço que surgirá a seguir, sendo quase certo – a História da III República mostra-nos isto mesmo – que lá voltará o PS a pagar a fatia grande desse falhanço.

Hoje, depois da recente vitória de Marcelo Rebelo de Sousa, este terá já percebido a singularidade da mesma. E, como pude já referir a muita gente amiga ou conhecida, esta vitória está longe de ter sido assim tão estrondosa. Basta saber fazer bem contas com números reais, É essencial conhecer o universo que votou validamente e ver o montante de votos conseguidos por cada um dos candidatos, comparando os dados de Marcelo com os de candidatos anteriores, mormente na primeira volta eleitoral, ou também na segunda, no caso que se conhece.

Desta análise, o futuro Presidente da República facilmente retirará duas conclusões: perceberá que os portugueses estão hoje fortemente descrentes da política e que da sua vitória esperam uma melhoria do nível de vida da grande maioria, realidade só possível com uma moralização de todo o Sistema Político e uma muito maior eficácia do Sistema de Justiça, o que envolve um fosso salarial mais pequeno, e consiga repor condições de mobilidade social que são o timbre da esperança. Precisamente a esperança que vem sendo recuperada com o atual Governo e que quase desaparecera com a anterior Maioria-Governo-Presidente. E cá fico à espera de poder ver de onde mais virão as “ajudas de custo” à intervenção política do futuro Presidente da República...

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