Aí estão eles

|Hélio Bernardo Lopes|

P
ois é verdade, aí estão eles, os resultados eleitorais da campanha para o Presidente da República. Como a maior probabilidade apontava, saiu vencedor Marcelo Rebelo de Sousa, o que acabou por não se constituir no elemento mais importante ao nível dos resultados desta eleição. 


Foram outros os mais referentes elementos de interesse na campanha. Como, de resto, eu de há muito estava à espera e repleto de ansiedade. E o que eu imaginava acabou por dar-se. Vejamos, então, os dados realmente interessantes desta campanha.

Em primeiro lugar, a completa derrocada da campanha de Henrique Neto, que terá conseguido um quinto dos votos do histórico Tino de Rans. Foi pena, como pude já escrever, que também não tivessem concorrido, por exemplo, António Barreto ou Henrique Medina Carreira. Um resultado – o de Henrique Neto – que mostra a cabalíssima distância entre o que nos foi expondo e o real sentimento dos portugueses. Um resultado que não ficou a dever-se a falta de notoriedade.

Em segundo lugar, a sexta posição de Tino de Rans, mostrando, deste modo, o que há dias escrevi: a sua sinceridade, a cabal evidência de nada ter que ver com os interesses que muitas vezes se ligam ao exercício do poder e o simbólico de se constituir numa candidatura estritamente ligada a uma vontade de cidadania, concedeu-lhe este histórico sexto lugar, a curta distância de Edgar Silva e de Maria de Belém.

Em terceiro lugar, o excecional resultado de Marisa Matias, com um terceiro lugar e com mais do dobro dos votos de Maria de Belém. Um resultado que vem mostrar que o Bloco de Esquerda, tal como os seus candidatos, estão já a assumir resultados deveras significativos no panorama político português.

Em quarto lugar, o estrondoso resultado de Maria de Belém, embora no mau sentido. Um resultado que mostra à saciedade que a antiga presidente do PS se constituiu, de facto, numa candidata que nunca foi levada a sério pelos eleitores. Sempre que se falava da mesma, nas convivências correntes, o resultado saldava-se num sorriso tradutor disso mesmo: nunca foi uma candidatura levada a sério.

Em sexto lugar, os restantes candidatos menos votados, que receberam resultados esperados. Mesmo o resultado de Edgar Silva está dentro da lógica eleitoral dos comunistas, dado que os candidatos presidenciais do PCP de há muito vêm perdendo significado, uma vez que se sabe que nunca se destinam a vencer a eleição presidencial, mas a marcar (inutilmente) uma posição do PCP.

Em sétimo lugar, a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa. Era a vitória que apresentava uma maior probabilidade de surgir, dado o modo como o candidato se foi ligando ao imaginário dos portugueses, mas muito para lá de qualquer valor realmente substantivo. Sendo essencialmente um mito, Marcelo criou um potencial que só poderia ser contrariado por uma unidade forte contra os defensores da anterior Maioria-Governo-Presidente e centrado numa personalidade de grande envergadura política.

Em oitavo lugar, o resultado bom do académico António Sampaio da Nóvoa, naturalmente prejudicado pela cabalmente inútil não candidatura de Maria de Belém. No fundo, depois de quanto pôde ver-se com a anterior Maioria-Governo-Presidente, ocorreram estes três resultados: baixíssimos níveis de apoio popular do Presidente Cavaco Silva, a que se segue agora a vitória do candidato apoiado pelo PSD e pelo CDS/PP; grupo parlamentar do PSD superior ao do PS; apoio muito forte e cimeiro a António Costa como Primeiro-Ministro, em contraciclo com o que se vem passando com o PS. Ou seja: o PS dá sinais de ter perdido alguma da sua credibilidade, mas não acompanhado aí por António Costa, que concitou, e desde sempre, grande prestígio governativo e como político.

E, em nono lugar, a fortíssima abstenção, mas que creio não ser tão grande ao ponto de assustar. É de evitar mudanças no Sistema Político, porque quanto mais mudanças existirem, maior será o sentimento de perda de referências. Como já expliquei, o problema só se deve à perda de resultados sociais de todo o tipo, pelo que se impõe conseguir esses resultados.

Iremos agora poder observar os efeitos da presença de Marcelo Rebelo de Sousa na Presidência da República. Como escrevi, existem riscos. E cá estaremos para ver se Pedro Passos Coelho continuará a liderar o PSD, ou se por aí dará à costa Rui Rio, ou algum outro militante laranja, que, certamente ajudado por Marcelo no domínio das sempre perigosas e inúteis revisões constitucionais, acabará por pôr um fim no tão essencial Estado Social. Um dado é certo: depois de um domingo eleitoral de sol, nesta segunda-feira os deuses já nos deram chuva...

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