Realidades pesadas

|Hélio Bernardo Lopes|
Disse há dias Rodrigo de Sousa e Castro que Portugal vive numa democracia muito limitada e que é preciso um sobressalto cívico, as pessoas têm de se mexer, porque há uma crescente perda de legitimidade dos eleitos. Bom, é uma realidade já com muitos anos. Num certo sentido, começou logo a desenvolver-se depois da própria Revolução de 25 de Abril.

Basta recordar, no mínimo, o 28 de Setembro, o 25 de Novembro, o denegrir constante do Conselho da Revolução e de boa parte dos seus membros, as guerras movidas contra Eanes, etc., etc.. Com razoável aproximação, o desmantelamento da democracia e o apodrecimento da III República começou logo a seguir à própria Revolução de Abril.

Mais engraçado foi quando salientou que os dois últimos primeiros-ministros são os maiores mentirosos que já viu, mas há uma hierarquia, sendo que Passos foi muito pior que Sócrates. E completou este quadro referindo que Pedro Passos Coelho privatizou muito além do que a Tróyka exigia, vendendo tudo e reduzindo o património do País a zero, sendo que nem (mesmo assim) diminuiu a dívida. Mesmo por fim, lá referiu a realidade que desde há muitos anos eu mesmo venho salientando: Cavaco é o pior Presidente da democracia.

Quanto ao sonho de Francisco Sá Carneiro, falhado por ter sido materializado por um grupo de políticos menores, a verdade é que seria sempre algo deste tipo que viria a ter lugar. Para a velha direita o que se pretendia era seguir a cartilha dos grandes poderes do mundo, parando a defesa das antigas províncias ultramarinas e concedendo independências.

Uns queriam que estas fossem para a UNITA e para a RENAMO – digamos assim –, outros que fossem para o MPLA e para a FRELIMO. Mas não existiria nunca meio termo. Nem por lá, nem por cá. A única grande diferença seria manter a democracia partidária aqui, onde o PCP seria limitado a ser tolerado, mas sem acesso ao poder. Era o que os Estados Unidos exigiam. Era e ainda é, mesmo já sem comunismo e à beira de um ataque nuclear preventivo dos Estados Unidos à Rússia e à China. E volta Sousa e Castro a ter razão ao redor dos cortes sobre os reformados e pensionistas, salientando que foi como uma espécie de assalto à mão armada.

Li estas palavras na noite de ontem, de parceria com dois velhos amigos, ao mesmo tempo que encontrei no DN mais três perguntas, com as correspondentes respostas, a questões da ordem do dia.

Em primeiro lugar, o caso do fracasso da venda do Novo Banco. Perante a pergunta: o adiamento da venda do Novo Banco é um fracasso do Governo, como classifica o PS? As respostas, naquele momento, eram: sim, 2038 votos, 68%; não, 974 votos, 32%.

Em segundo lugar, a pergunta do DN sobre o debate de ontem, nas rádios: quem ganhou o segundo debate? A essa hora as respostas eram: Passos Coelho, 834 votos, 34%; António Costa, 1454 votos, 60%; Empataram, 155 votos, 6%.

E, em terceiro lugar, a mesma pergunta, mas no JN: quem ganhou o debate na rádio? Pois, no momento, as respostas eram: António Costa: 52%; Pedro Passos Coelho: 48%. Não sei se os restantes jornais apresentaram perguntas sobre estes ou outros temas, mas eu não as encontrei. Devo dizer, contudo, que não acompanho O Diabo, o Observador e os jornais de negócios.

Simplesmente, já precavido com o diálogo que ontem ia ter lugar, determinei-me, logo após o almoço a procurar sete lugares diferentes ao redor da minha residência, por acaso acompanhado do meu neto, que connosco havia almoçado. Uma seca para o meu netinho, mas que lá conseguiu não me pressionar demasiado.

Em todos esses sete lugares encontrei gente conhecida e com quem costumo trocar impressões. E descobrimos isto: nenhuma dessas treze ou catorze pessoas ouviu o debate. Uma parte maior das mesmas referiu que está farta da política, sendo que duas senhoras, de aspeto clássico, aposentadas, me disseram acreditar na boa vontade política e na seriedade de António Costa. Portanto, a partir destes dados, é esta a minha convicção firme: os portugueses não irão voltar a enfiar o barrete.

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