As mil e uma sondagens

|Hélio Bernardo Lopes|
Não creio estar errado se disser que a grande maioria dos portugueses de há muito deixou de acreditar na generalidade das instituições, e logo a começar pelas que se ligam ao que ainda resta da nossa soberania. 

Até a banca, que sempre se mostrou uma estrutura tão segura e credível aos olhos dos portugueses, é hoje vista como uma fonte de onde poderá surgir, a qualquer momento, mais um elemento da já vasta sequência de desastres nunca antes imaginados.

Também toda esta reação está presente no tecido social português em face das mil e uma sondagens que por aí nos vão surgindo, e seja por entre nós ou lá por fora. Talvez o caso mais representativo seja o do sim contra o não que teve lugar na Grécia. Depois de, semanas a fio, as tais sondagens nos indicarem um empate técnico, eis que, afinal, o não, abominado pelos grandes interesses europeus, ganhou por um verdadeiro abismo de diferença.

Mesmo por cá, os resultados sempre previstos para o PCP e para o CDS/PP mostraram a cabalíssima falta de credibilidade que concitam as sondagens em Portugal. E, tendo em conta a opção direitista da generalidade dos canais televisivos, as referidas sondagens, tal como a sua interpretação, passaram a concitar uma pleníssima falta de credibilidade. Como metodologia decisória, penso relevar hoje do bom senso a recusa de olhar o que nos é indicado pelas sondagens.

A grande verdade é que a generalidade dos portugueses está pelas pontas dos seus maiores cabelos com a ação política da atual Maioria-Governo-Presidente. Simplesmente, apesar de ninguém ligar um infinitésimo à Operação Marquês e de tomar António Costa como um político bom e que não mente, sobrevém ainda a expectativa ao redor de um resultado que coloque o PS muito próximo da maioria absoluta. Até porque PCP e Bloco de Esquerda, como já está a ver-se de novo, estão desejosos de que a direita vença, de molde a poderem continuar a funcionar como realmente sabem ser o seu papel político.

Mau grado tudo isto, ainda existem – tal como penso, obviamente – sondagens com alguma credibilidade. Ao menos até à publicação do presente texto. Refiro-me às sondagens surgidas nas edições online dos diversos jornais. Vejamos, pois, três dessas sondagens. Assim, o Diário de Notícias, em certo dia recente, trouxe esta pergunta aos leitores: O debate entre Passos Coelho e António Costa vai influenciar o seu voto? Pois, dois ou três dias depois, os resultados eram estes: sim, com 172 votos, 8 %; não, com 2341 votos, 88%; e talvez, 157 votos, 4%.

Ora, pelo que se conhece das convivências correntes, não custa admitir o realismo destes resultados. Se os portugueses já pouco ligam à política e se descreem das instituições, que razões teriam para ligar politicamente aos debates? Eles estão já muito bem posicionados, oscilando entre a recusa do voto na atual Maioria e a abstenção. Uma realidade determinada, sobretudo, pela atuação do PCP e do Bloco de Esquerda.

Uns dias depois, lá surgiu o tal debate que os jornalistas, analistas e comentadores diziam ser decisivo, confrontando Pedro Passos Coelho e António Costa. Tudo estava dependente da atitude assumida pelo segundo, porque o primeiro nunca poderia explicar o que vai fazer nem quantificar qualquer medida... Sabe-se, porém, que será sempre e só mais do mesmo, dado que a política prosseguida nestes últimos quatro anos foi determinada por uma visão claramente ideológica e neoliberal.

Logo na noite do debate, o mesmo jornal, entre outros, voltou a colocar uma pergunta aos seus leitores da edição online: Quem pensa que saiu vencedor do debate entre Passos Coelho e António Costa? Dois dias depois, os resultados eram: Pedro Passos Coelho, com 1546 votos, 30 %; António Costa, com 3542 votos, 70 %. Com cambiantes, todos os jornais deram esta mesma e ampla diferença.

Por fim, um ou dois dias depois, lá teve lugar o debate entre Catarina Martins e Pedro Passos Coelho. Mais uma vez, o Diário de Notícias colocou esta pergunta: Pedro Passos Coelho esteve melhor no debate com Catarina Martins? As respostas, cerca de um dia e pouco depois, foram estas: sim, 577 votos, 27%; não, 1401 votos, 66 %; talvez, 84 votos, 4 %; iguais, 72 votos, 3 %. Refiro aqui que não fiz contas.

A tudo isto ainda se poderia juntar o debate entre Catarina Martins e Paulo Portas, sobre que não encontrei sondagens, mas em que sempre notei a ausência de regozijo entre os raros conhecidos, amigos ou familiares que acompanharam o debate. E poderia ainda juntar-se a dicotomia – parece que vai mudar – entre o PS e a coligação de Governo: a primeira, apostando tudo em António Costa, o tal político bom e que honra compromissos; a segunda, que quase escondeu Pedo Passos Coelho, evitando a sua necessidade de defender o impossível.

Um dado é certo: os portugueses conhecem já muitíssimo bem o que está em jogo e quem aqui é quem. Mesmo desde sempre desinteressados da política, a generalidade dos portugueses não pretende continuar um caminho de empobrecimento e sem um futuro pressentível, pelo que a atual coligação, em face destes resultados e com elevada probabilidade, perderá as eleições que se aproximam. Teremos a prova real dentro de menos de um mês.

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