A cartola do Coelho

|Hélio Bernardo Lopes|
Talvez tenha sido ontem que Pedro Passos Coelho deu a conhecer a sua mais recente ideia sobre o futuro da mais que sustentável Segurança Social: remeterá para a Concertação Social a definição do valor de plafonamento das pensões.

Trata-se, em todo o caso, de uma atitude política de passa-culpas, porque um Governo que assim proceda dirá sempre, no futuro, que a privatização e o desmantelamento da Segurança Social – o fim das reformas, portanto – não terá sido da sua autoria, mas sim da Concertação Social.

Acontece que tal só será possível se a coligação vier a vencer as eleições, uma vez que António Costa garantiu já que, consigo, as mesmas nunca descerão, antes vindo a ser repostas nos legítimos valores que possuíam antes dos tais coortes que Pedro Passos Coelho disse serem passageiros. Simplesmente, para que Pedro Passos Coelho tenha assumido uma tal posição é essencial que esteja convencido de que a vitória será da sua coligação. Se assim fosse, António Costa, num ápice, deixaria de ser o líder do PS, sucedendo-lhe, quase com toda a certeza, Francisco Assis, que não destoaria nada no PSD de hoje. Numa tal situação, de imediato o novo PS de Assis apoiaria a ideia de ser a Concertação Social a iniciar a destruição da Segurança Social e das reformas dos portugueses.

Esta realidade está bem espelhada nas palavras do líder do PSD ao redor do seu tal modelo de ser a Concertação Social a definir o modo de destruição da Segurança Social e das reformas: se estou a dizer que faremos um acordo na concertação social para fixar o valor de plafonamento, não vou avançá-lo. Ou seja, não seria o seu PSD, nem o PS de Assis, Carlos Silva e Maria de Belém – uma tal fatídica ideia só será possível se o PS de António Costa não vier a vencer as eleições –, mas sim a Concertação Social.

Acontece que tais palavras não passam de uma balela, porque Pedro Passos Coelho logo foi dizendo que só serão pensões que valem vários milhões de euros, as chamadas pensões milionárias, e que não incluem a grande maioria das pessoas. Ora, uma coisa é a percentagem de pessoas com as tais pensões milionárias, outra a do montante global que por aí se perde nos cofres da Segurança Social, situação que acabará por atingir todo o sistema, assim acelerando o seu caminhar para o colapso.

Mas Pedro Passos Coelho, sempre com amplíssima precisão, lá explicou um pouco mais e mais claramente: a pensão média, estatutária, em Portugal, anda por valores que não são muito superiores a novecentos euros, ou seja, estamos a falar de múltiplos disto, de três vezes isto, quatro vezes isto, cinco vezes isto, e não de uma coisa que deva, no essencial, preocupar a grande maioria daqueles que recebem uma pensão.

Indo ainda mais longe na sua fuga à clareza, Pedro Passos Coelho lá tentou explicar que os tais seiscentos milhões de euros de cortes na Segurança Social, comunicados a Bruxelas, também devem ser executados através de uma política decidida no seio da Concertação Social. Ou seja, o seu Governo, nestas matérias, não governa, antes deixa as decisões à Concertação Social...

Por fim, Pedro Passos Coelho saiu-se com esta historieta: as pensões estão congeladas, não há poupança nenhuma na ideia defendida pelo PS. Ora, o que o PS de António Costa disse foi que, ao contrário do que irá ter lugar com a coligação, se ganhar, é que com o PS as pensões não voltarão a ser cortadas – ficarão congeladas, sendo os seus valores repostos até se atingirem os existentes antes dos cortes –, o que é diametralmente oposto ao dito por Pedro Passos Coelho. A verdade é que nada disto é de estranhar em Pedro Passos Coelho, para o que basta olhar o seu mais recente lapso, que já tentou rapidamente corrigir...

Estas eleições, como pude já referir, poderão vir a pôr um fim no grau de bem-estar – de liberdade, portanto – que os portugueses foram conhecendo ao longo dos últimos quarenta anos. E poderão também, se o PS não vier a vencê-las, pôr um outro fim na candidatura de António Sampaio da Nóvoa, porque com Assis à frente do PS, o apoio deste à fatídica candidatura de Maria de Belém será uma certeza. E quem sabe, se assim vier a ser, se PSD e CDS/PP não virão a apoiar a candidatura da militante do PS? E será que a generalidade dos portugueses conseguirá dar-se conta do que lhe poderá vir a suceder? Perceberão os portugueses que irá dar-se com a Saúde, a Educação e a Segurança Social o que já está a dar-se com a Justiça, completamente inacessível à enormíssima maioria dos portugueses? A verdade é que os portugueses nunca se interessaram muito pela democracia...

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