E que tal uma novidade à grega?

|Hélio Bernardo Lopes|
Os recentes acontecimentos gregos mostraram, entre muitas outras coisas, que o Primeiro-Ministro Alexis Tsipras, passou do oitenta para o oito. Depois de ter convencido os seus compatriotas da decidir pelo não, acabou por aprovar o seu inverso, mas com o apoio do PASOK e da Nova Democracia.

Em face desta realidade recente, surge a questão: pode uma realidade deste tipo vir a ter lugar em Portugal a curto prazo? Pois a minha opinião é de que pode. Basta recordar, por exemplo, a eleição de Mário Soares contra Diogo Freitas do Amaral, na segunda volta da eleição para o Presidente da República: o PCP acabou por apoiar Mário Soares, que sempre tomou o PCP como o seu principal inimigo.

Interrogado pelos jornalistas sobre se aceitava os votos dos comunistas, Soares de pronto deitou mão deste argumento simplório, mas sempre eficaz: conhece-se o meu passado, que fala por mim – nunca fala –, pelo que quem quiser dar-me o seu voto sabe ao que vem. Tal como agora com Tsipras, ganhou a eleição presidencial com o apoio de quem sempre o tinha combatido.

Ora, na eleição para o Presidente da República que se aproxima, se os candidatos mais badalados vierem a concorrer na primeira volta, é certo que o académico António Sampaio da Nóvoa baterá de muito longe qualquer um dos seus adversários. Se não for na primeira volta, será na segunda. Acontece que nós já sabemos que Jaime Gama, tão defendido por Nuno Melo, não se candidatará. Uma acertadíssima decisão. Mas vão surgindo vozes – muito poucas – em favor de uma candidatura de Maria de Belém, como agora também se pôde ver com o apoio de Francisco Assis e de João Proença, qualquer deles pouco diferindo do pensamento político de hoje do PSD. O leitor mostrar-se-ia estranho se agora viesse a saber que aqueles dois militantes do PS se iriam transferir para o PSD? Claro que não!

A candidatura da antiga Presidente do PS será sempre copiosamente derrotada, exceto numa circunstância: se a atual coligação governativa a vier a apoiar, como o PCP fez com a candidatura de Mário Soares naquela longínqua eleição para o Presidente da República. Numa tal circunstância, Maria de Belém poderá mesmo ganhar logo na primeira volta, embora por uma margem mínima. E vencerá, naturalmente, a eleição da segunda volta.

A tudo isto, é essencial juntar a infeliz ideia de Eduardo Ferro Rodrigues, ao defender, em entrevista ao Expresso, que se o PS for Governo deve fazer um pacto sobre a Segurança Social. Mas qual pacto e com quem? Com o PSD ou o CDS/PP? Mas esse pacto só terá validade enquanto o PS for o partido mais votado, porque logo que a atual coligação regressar ao poder, tal pacto será simplesmente deitado para o cesto das velharias da História da III República. É, em boa verdade, o fim do sistema de pensões que a atual Maioria-Governo-Presidente tanto debilitou foi sempre – continua a ser – um objetivo estratégico do grande centrão político.

Portanto, caro leitor, esteja atento à hipotética candidatura de Maria de Belém e aos apoios que irá receber. Porque se Francisco Assis e João Proença apoiam tal candidatura e se é certo que António Sampaio da Nóvoa será o vencedor em condições competitivas correntes, a direita e a direita do PS preferirão sempre Maria de Belém a António Sampaio da Nóvoa.

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