Um significativo momento televisivo

|Hélio Bernardo Lopes|
Sem um infinitésimo de conhecimento, foi como na noite deste passado sábado fui encontrar António Marinho e Pinto no programa da SIC Notícias, A PROPÓSITO. 

Desconhecendo cabalmente tal presença ali, para mais àquela hora, a verdade é que me fartei de rir com mais uma sucessão de sonhos políticos de António Marinho. Não sendo nada de realmente novo, a verdade é que consegue sempre trazer-nos satisfação. Ri com gosto.

Já pelo início dos últimos cinco minutos da entrevista, disse aos que me acompanhava esta minha impressão: tenho quase a certeza de que esta intervenção do António Marinho é a que terá comportado maior dose de paleio sem eira nem beira. Bom, os que comigo estavam sorriram, tendo um deles dito que Marinho havia sido sempre assim.

Como normalmente, sempre sem nada dizer de concreto, António Marinho definiu princípios políticos realmente universais, porque todos sempre os indicam. Medidas realmente concretas, bom, nem uma. O que também se pode compreender bem, dado que António Marinho facilmente perceberá que pouco irá conseguir nas eleições que se aproximam. Direi mesmo que, num destes dias, se acaso conhece Vital Moreira, Luís Amado, Henrique Neto ou Medina Carreira, de pronto lhe tributarão o seu pranto de simpatia e de apoio.

Objetivamente, António Marinho, aí um pouco depois do meio da entrevista, começou a posicionar-se em defesa do PSD – da coligação, obviamente – e no ataque aberto ao PS e a António Sampaio da Nóvoa, tendo terminado a elogiar Rui Rio. Bom, caro leitor, simplesmente maravilhoso...

Mas o mais engraçado foi poder assistir a António José Teixeira tirar a conclusão que António Marinho dizia não poder ser tirada: ele apoiará Rui Rio. Se a isto juntarmos que passou pela UEC, durante um ano, e de lá saiu; que tinha estado detido, mas sem grandes consequências; que teve mil e uma funções; que foi bastonário da Ordem dos Advogados; eurodeputado, de onde logo saiu, bem como do partido em que estivera; e que criou um novo partido, que certamente irá terminar dentro de uns meses, bom, percebe-se que lhe resta a estratégia já enunciada: aceitará coligações com quem quer que seja, desde que se destine a defender os interesses de Portugal. Como este enunciado é tão vasto quão vago, percebe-se que se lhe impõe um qualquer parceiro de coligação.

Não sendo adivinho nem fazendo sondagens, fica-me a impressão, no entanto, que os portugueses já não se irão deixar levar por este nosso concidadão, grande debitador de palavras. António Marinho já perdeu a oportunidade de poder fazer política, e por mil e uma razões. A principal delas, porém, é que nem sequer é capaz de dizer se devolve os bens tirados aos aposentados. Elogiou-os, disse que eram vítimas, mas nada para além destas palavras. Bom, é nada. Precisamente o que pensam Rui Rio, Marcelo, Santana, Passos ou Maria Luís. Nada de devoluções, antes tirar ainda mais.

Simplesmente, António Marinho e Pinto defende também – é o que defende o Governo de Pedro Passos Coelho – que a Constituição da República deve adaptar-se aos tempos, pelo que, vivendo-se o triunfo neoliberal, com a sua catapulta da globalização, os portugueses, sempre sem serem consultados, devem ser atirados para tal precipício social. Se é essa a linha material triunfante, pois António Marinho está com ela. Esquerda? Direita? Isso está fora de moda. É preciso, nos termos do que agora se percebeu, aplicar, rapidamente e em força, o neoliberalismo triunfante.

Por fim, o estado do País e os maus políticos que temos tido, e que são quase todos, com a ligeira exceção de Eanes, mas que também teve uns probleminhas poucos. E do próprio Marinho, claro está. Ainda assim, há um acontecimento que justifica que lhe concedamos um prémio de consolação: o ter dado a conhecer o fausto que é pago aos eurodeputados. Até o PCP e o Bloco de Esquerda fizeram dessa realidade um fantástico segredo: vinte mil euros por mês, sem impostos, com direito a mais três anos de vencimento depois de deixar o exercício de funções. Apoio à reintegração... Como não haverá esta rapaziada da nossa política de ser europeísta?... Enfim, um novo apoiante, de facto, da atual maioria e de Rui Rio.

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