O Acordo Ortográfico

|Hélio Bernardo Lopes|
Só agora, tanto tempo depois de ter surgido o Acordo Ortográfico, volto a dispor da oportunidade de escrever um pouco sobre o tema. Não ao nível técnico, porque não sei o suficiente para tal, mas sobre o lado político do tema, muito exacerbado nos últimos tempos, como mais uma linha (artificial) de rutura entre a atual maioria e o PS.

Começo por indicar os resultados de uma sondagem do Diário de Notícias, na sua edição online: nessa sondagem aos leitores – já tem umas boas semanas – perguntava-se, seis anos depois de surgido o referido acordo, se o leitor já escrevia segundo as novas regras. A resposta, no momento em que recolhi os dados, era esta: sim, 62 %; não, 33 %; apenas parcialmente, 5 %; e tudo num total de cerca de cinco mil e setecentos sondados. Esta sondagem é muito significativa, mormente se compaginada com o que cada um de nós vai podendo ver à sua volta. E o que vejo ao meu redor é que ninguém fala desta questão, antes de coisas incomensuravelmente mais graves, como adiante mostrarei.

Claro está que nunca me passaria pela cabeça, se acaso fosse o Primeiro-Ministro de Portugal, colocar este tema na agenda política. Teria objetivos imediatos, a decidir nos primeiros cem dias, outros a operar no primeiro ano de governação, mas tendo em conta a constante do ano civil, e a definição de uma grande estratégia para Portugal, olhando a nossa História, os nossos interesses essenciais e permanentes e o possível devir, até onde o mesmo é suscetível de ser estimado.

Simplesmente, se o titular da pasta da Educação, de parceria com o da Cultura, me surgissem com tal ideia, não a recusaria liminarmente, mas socorrer-me-ia de apoios técnicos essenciais, muito maturados com os autores desses apoios e depois de falar, certamente de um modo longo, com os meus colegas dos outros Estados da Lusofonia. Bom, sendo assim a metodologia seguida, não seria impossível que o acordo em causa viesse a ser aprovado e a entrar em vigor. O que já me parece fantasticamente estranho é a loucura persecutória da direita portuguesa, alicerçada no volta-para-trás.

Acontece que pelo tempo da anterior sondagem António Vitorino de Almeida concedeu uma entrevista, creio que ao i. Aí nos explicou que vive com uma reforma de 288 euros, vendo-se mesmo obrigado a sair de casa para caçar. E então remata: os políticos são uma classe muito ignorante. Um aspeto que, para além de verdadeiro, é hoje reconhecido em quase todo o mundo, mormente em Portugal. Raros deixarão de concordar com tal realidade, embora existam outras classes profissionais que conseguem mesmo ir mais longe.

Um pouco adiante, mostra o que também os portugueses pensam de um modo muito geral: não vê perspetivas de isto melhorar e, podendo ter confiança em certas pessoas, sabe que não são milagreiras. Por fim, tal como um dia contei a uma grande amiga, mente-se muito em Portugal, país que o compositor e pianista considera estranho. E remata deste modo, que tanta sensibilidade me causou: diz-se, por exemplo, que Lisboa tem muita oferta cultural, mas é mentira, é ridículo dizer isto, porque Lisboa não é uma capital europeia, já que em Madrid, em Paris, em Viena ou em Roma, existem duas óperas com programação diária. Pois, caro leitor, é a realidade, muitas vezes confundida por via dos nossos bicos de pés. Veja-se, por exemplo, o caso da Grécia, onde os nossos governantes preferem apoiar os chantagistas da União Europeia, no lugar de o fazerem com os gregos. E nós que o digamos...

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