A Barca do Inferno

|Hélio Bernardo Lopes|
Pois é verdade, caro leitor, A BARCA DO INFERNO era verdadeiramente infernal, mas também um excelente exemplo de como um programa só com mulheres pode redundar numa completa inutilidade e numa autêntica balbúrdia. E espero que não me venha agora Raquel Varela dizer que esta minha opinião é uma manifestação de machismo.

Nunca verdadeiramente acompanhei o programa, dado que na primeira vez que tentei visiona-lo, para lá das tomadas de posição da académica Raquel Varela, o que restava, de um modo que não era uniforme, era quase o conjunto vazio de conteúdo. Em contrapartida, era uma verdadeira balbúrdia a cada esquina da conversa. Uma completa inutilidade, foi a minha decisão.

Em todo o caso, sobretudo nesta última manifestação de Manuela Moura Guedes, não foi possível deixar de tomar conhecimento do que se passara, dada a pleníssima referência ao seu abandono do programa por tudo o que era jornal. De modo que lá tive que ir tentar visionar o que se havia passado, o que não foi fácil, dado que o conteúdo estava colocado num outro tempo de emissão.

Fiquei, pois, com a ideia de que Manuela se terá considerado vítima de má educação, até porque Raquel Varela, uns minutos antes, terá dito que os números da Manuela não interessavam. E tinha razão, como agora irei tentar mostrar.

Num dos programas, já com uns meses – escrevi um texto sobre tal efeméride –, Manuela Moura Guedes chegou a dizer a quem a escutava que a Câmara Municipal de Lisboa teria dez – ou doze? – funcionários por cada cidadão residente no concelho. Ou seja, teria, numa tal situação e no mínimo, perto de quatro milhões e tal de funcionários. E, algo inacreditavelmente, ninguém ali presente referiu que tal era simplesmente impossível. Ou seja, de facto Raquel teve razão: os números da Manuela não têm interesse.

Por sorte, parece que o programa terá o seu fim pelo final do próximo mês. Mas o que tudo isto me trouxe ao pensamento foram dois outros momentos de Manuela Moura Guedes, mas enquanto apresentadora do noticiário da hora do jantar: um, passado com António Marinho e Pinto, quando este era Bastonário da Ordem dos Advogados; e um outro, num entrevista feita a Paulo Futre, a propósito de certa transferência deste como futebolista.

O primeiro caso teve lugar há menos de meia dúzia de anos e quase todos recordarão. Foi um tremendo azar, porque António Marinho não esteve com meias medidas, desancando Manuela em meia dúzia de minutos. Pouco tempo depois, Manuela Moura Guedes deixava o telejornal, tendo ouvido de António Marinho o que nunca havia imaginado.

Mas o que muitos já não recordarão é a entrevista de Manuela a Paulo Futre. A dado passo, Manuela, brincando um pouco, quis saber de Futre o montante negociado e a todos os níveis. Simplesmente, também aqui se enganou, porque Paulo Futre respondeu com nova pergunta: quanto é que ganhava Manuela Moura Guedes? Como então se pôde ver, o esclarecimento público transparente nunca é para ser praticado pelos jornalistas.

Enfim, foi um momento de rara felicidade, este mais recente, porque terá acelerado o fim de um dos piores programas televisivos de que tenho memória. Mesmo que olhado só com a finalidade de fazer rir, era cansativo para lá do segundo episódio.

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