Recordar a História

|Hélio Bernardo Lopes|
Como tem sido possível ver-se à saciedade, andam por aí terríveis calafrios com a candidatura do académico António Sampaio da Nóvoa. Hoje já cabalmente conhecido, António Sampaio da Nóvoa, afinal, é até proveniente da sociedade civil, onde se situariam os nossos concidadãos com real valor e que, por isso mesmo, não teriam subido na vida à custa dos partidos.

É claro que esta conversa dos nossos ditos experientes concidadãos, até de políticos de há muito, nunca passou de mera tentativa de ir alimentando a profunda descrença da generalidade dos portugueses para com a política decadente da atual III República, onde os portugueses, de um modo muito geral, descobriram que, afinal, são olhados apenas em função de sua riqueza. Bastou que tivesse surgido um dos tais portugueses oriundos da sociedade civil e logo tocaram campainhas de alarme...

Diz agora Pedro Marques Lopes que, admitindo que a sua carreira como professor possa ter sido brilhante, Pedro Marques Lopes diz que é preciso pensar duas vezes antes de eleger alguém que nunca teve atividade política. É uma frase triplamente inacreditável, mas que a plena liberdade de um programa televisivo ainda permite que seja dita.

É inacreditável porque Pedro Marques Lopes parece não saber bem se a carreira de António Sampaio da Nóvoa terá sido brilhante. Ele admite que sim. É-o igualmente porque Pedro se refere à sua ação como professor, quando tal ação é bastante acessória, dado que uma universidade não é nunca e apenas um liceu grande. O que Pedro Marques Lopes queria dizer era como académico, com currículo e que terá feito escola, situações de que só uma minoria de interessados clandestinos duvida. E é também inacreditável porque Pedro confunde atividade política com atividade partidária. Três asneiras que, com um mínimo de informação, podiam ter sido evitadas.

Mas Pedro Marques Lopes critica ainda e sobretudo o PS, mas por ter escolhido um candidato presidencial com base numa fezada, o que é gravíssimo. Mas o que poderia o PS fazer? Escolher no seu seio? Mas será que também Soares, Sampaio, Eanes e tantos outros da nossa sociedade e que tiveram uma longa intervenção político-partidária, estarão assim só comandados por uma qualquer fezada? Haverá de compreender-se que é um argumento ridículo.

Simplesmente, Pedro Marques Lopes acaba por dizer que um candidato presidencial terá de possuir o equivalente a um toque divino. Interroga-se mesmo sobre que toque divino terá o académico António Sampaio da Nóvoa para se imaginar como dispondo das condições para o exercício das funções presidenciais!!

É uma conversa sem nexo, porque se há Presidente da República com experiência política em Portugal, esse nosso concidadão é Aníbal Cavaco Silva. Bom, Pedro Marques Lopes, afinal, até concorda com a maioria dos portugueses sobre a ação do atual Presidente da República, hoje politicamente pelas horas da amargura. Nunca um Presidente da República atingiu um tão baixo índice de popularidade e de apoio. E cheio de experiência política.

Por fim, o ponto que me levou a escrever o pressente texto: o facto de ter sido o Presidente Cavaco Silva quem lançou António Sampaio da Nóvoa para a primeira linha da vida política. E então refere que o próprio ex-reitor deve ter-se esquecido disso, dado que utiliza Cavaco como um exemplo do que não será a sua eventual presidência. É uma fantástica afirmação, que logo me trouxe duas outras situações ao pensamento.

Em primeiro lugar, as críticas de Diogo Freitas do Amaral a Fernando Teixeira dos Santos, por, em nome de uma amizade e de uma lealdade pessoais, ter contemporizado com as exigências de José Sócrates. Para Freitas do Amaral, naturalmente, Portugal teria de estar primeiro que uma amizade e uma lealdade.

E, em segundo lugar, a posição assumida por Marcelo Caetano, como Presidente da Comissão Central da Ação Nacional Popular, face à escolha de Américo Tomás – era com Th e z no fim – para o seu terceiro e fatídico mandato. A (errada) explicação de Marcelo é a que nos contou no seu DEPOIMENTO, e que Pedro Marques Lopes entende que o académico António Sampaio da Nóvoa devia agora seguir. Simplesmente, o que está em causa é o interesse e o futuro de Portugal. Enfim...

E agora mesmo para finalizar: não foi Pedro Marques Lopes que acreditou piamente em Pedro Passos Coelho e em Aníbal Cavaco Silva, concidadãos com longa experiência político-partidária, mas tendo acabado por reconhecer estes seus dois erros? E não é de aceitar que quem assim falha estrondosamente duas vezes, falha três ou mais?...

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