O slalom de Manuela

|Hélio Bernardo Lopes|
Desde há muito referi que, sendo cada um para o que nasce, Manuela Ferreira Leite está longe de se mostrar dotada como analista dos assuntos políticos. Dos do País e dos internacionais. Cada um, de facto, é para o que nasce.

Ora, uma das marcas centrais das intervenções semanais de Manuela Ferreira Leite é a de um silêncio sepulcral ao redor da ação política do Presidente Cavaco Silva. Quando Paulo Magalhães, porque possa justificar-se, aborda uma qualquer intervenção do atual Presidente da República, de imediato Manuela Ferreira Leite se coloca ao lado deste último. Seja o que for que esteja em causa, desde que tenha de opinar sobre a ação política do Presidente Cavaco Silva, Manuela só tem excelentes reparos a fazer.

Talvez o caso mais notável desta atitude de Manuela Ferreira Leite tenha sido a da defesa que fez de que os deputados não são criancinhas, pelo que o Presidente da República nada teria que dizer do que a Assembleia da República tivesse de aprovar ou de reprovar. Bom, sabemos que as coisas não são assim. E sabíamos, já nessa altura, que o Presidente Cavaco Silva pedira a fiscalização preventiva de aspetos do Estatuto Político-Administrativo dos Açores, mesmo depois deste ter sido aprovado por unanimidade na Assembleia da República e na Assembleia Regional dos Açores. E voltou a pedir, mais tarde, a apreciação sucessiva de outros aspetos desse mesmo diploma.

Ora, nesta sua última intervenção na TVI 24, Manuela Ferreira Leite mostrou-se muito desagradada com o académico António Sampaio da Nóvoa, já candidato ao Presidente da República, por este ter referido que não será, se vier a ser eleito Presidente da República, uma pessoa passiva. Devo dizer que se me soltou uma risada quando comecei a escutar as palavras da pergunta de Paulo Magalhães. E foi lógica essa minha reação, porque logo Manuela se mostrou deveras desagradada com as palavras do candidato presidencial.

Simplesmente, o País é imensamente mais que o Professor António Sampaio da Nóvoa, sendo hoje uma realidade indiscutivelmente evidente a profunda perda de prestígio político conseguido por Aníbal Cavaco Silva como Presidente da República. O próprio Vasco Pulido Valente, de cujo pensamento político, ao longo destas quatro décadas de vida da III República, me encontro a anos-luz, pôde há dias salientar que Aníbal Cavaco Silva, apesar de vinte anos de poder, nunca verdadeiramente percebeu o que era a política, como não percebe o enorme problema que a sua obstinação criou ao País.

Eu até compreendo que uma amizade sólida possa não ser compaginável com críticas públicas, mesmo que corretamente formuladas. Mas já me custa aceitar que se possa ser analista político num momento em que tais críticas possam ter de ser feitas. Seria, então, preferível que se estabelecesse, logo de início, que se não comentariam as intervenções do Presidente Cavaco Silva. Objetivamente, ninguém levaria a mal. Assim, o que me surge ao pensamento é a ideia de uma espécie de slalom.

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