|Hélio bernardo Lopes| |
Desta vez foi mais um caso que terá envolvido o INEM. Num ápice, logo nos surgiram explicações para gostos os mais diversos: que sim, que não, que antes pelo contrário. No fundo, a histórica regra lusitana, a cuja luz tudo é sempre nada. Ou, vá lá, quase nada.
Interessante é recordar agora as célebres palavras de Luís Montenegro, segundo as quais Portugal estaria menor, embora assim se não desse com os portugueses. No fundo, se virmos com um mínimo de atenção e de saber, pode até encontrar-se aqui uns ligeiros laivos de totalitarismo, dado que, aceitando tal realidade como natural, o País está primeiro que a dignidade mínima dos cidadãos: bom é estar o País bem, porque os cidadãos logo se verá.
Sem espanto, eis que a Ministra das Finanças nos veio agora repetir este raciocínio de Luís Montenegro: Portugal tem os cofres cheios. A verdade, como muito bem referiu António Costa, é que os bolsos dos portugueses estão (quase) vazios. Para já não referir o sentimento seguro de ausência de futuro, ou o já reconhecido de que seremos apenas seis milhões pouco depois do meio deste século, ou mesmo o que já começa a ser percetível por parte de muita gente de real saber: poderemos vir a perder a independência.
A tudo isto respondeu, ontem mesmo, Manuela Ferreira Leite, com apenas uns seis segundos de atraso em face da minha conversa com a família: também Salazar tinha, em plena II República, os cofres cheio de ouro, mas o País seria um dos mais pobres da Europa. O dinheiro e o ouro do País não podem ser tudo, e muito menos serem vistos como acima da dignidade humana.
As palavras de Maria Luís Albuquerque, depois do que se havia escutado a Luís Montenegro, são bem uma espécie de segunda via, e mostram a mentalidade que subjaz ao pensamento político da atual Maioria-Governo-Presidente: primeiro o dinheiro – as empresas e a banca, acima de tudo o resto – e o País, só depois a dignidade humana. Bem pior, pois, que uma pobreza franciscana.