Uma histórica falta de coragem

|Hélio Bernardo Lopes|
Tirando o caso de Salazar, durante os anos do último conflito mundial, o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros, sendo abrilhantador, não acarreta grandes exigências. Quem por ali passa, se não for um asno, sai sempre por cima.

Mas se a nossa escola diplomática é antiga e traquejada, a verdade é que a coragem política não está nunca presente na política portuguesa no domínio dos Negócios Estrangeiros. Não faltam exemplos corroboradores desta realidade, sendo o mais recente o que envolveu a posição portuguesa em face do mais que justo e natural Estado da Palestina. O mundo espera, quase desde o final do último conflito mundial, pelo respetivo nascimento.

Por tudo isto, e mais uma vez, o nosso Governo lá se ficou, em face do reconhecimento do Estado da Palestina. Procurando estar a bem com Deus e com o Diabo, o Governo – mesmo o PS – lá se deitou a aconchegar-se à sombra da bananeira da União Europeia, incapaz de falar claro e com uma justeza natural e lógica.

Neste sentido, em vez de reconhecer o Estado da Palestina, o Governo preferiu que fosse a Assembleia da República a aprovar, há dias, por maioria – PSD, CDS/PP e PS –, uma recomendação para que o Governo reconheça o Estado da Palestina, mas no âmbito de uma apontada coordenação da União Europeia sobre o tema.

Ora, são já cento e trinta e cinco os Estados que reconheceram a existência do Estado da Palestina, sendo que apenas a Suécia, no seio da União Europeia, procedeu assim. Uma realidade que explica a razão da decadência da Europa, onde até num caso de objetiva aplicação do Direito Internacional, prefere, com a significativa exceção da Suécia, jogar sem jogar. O tudo em nada dos Estados da União Europeia. Um histórico problema de tibieza, mas que permanece.

Se olharmos esta realidade atual ao redor do Estado da Palestina, lá encontraremos a cabalíssima semelhança com o silêncio de Pio XII face ao nazismo e aos campos de concentração. A verdade objetiva, porém, terá sempre de medir-se pela cabalíssima decadência da Europa e pelo enorme falhanço da União Europeia. É a histórica falta de coragem política da Europa.

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