Dois eclipses?

Hélio Bernardo Lopes
De um modo muito geral, a nossa grande comunicação social está a anos-luz de cumprir a função que, idealmente, se poderia esperar que cumprisse. Invariavelmente, está quase ausente o jornalismo de investigação, mas também o adequado poder crítico para tratar muitos dos principais temas que vão surgindo na vida das comunidades. E quem diz falta de poder crítico, diz também o compreensível medo de represálias. É verdade que vivemos numa (dita) democracia, mas tudo não passa de mera formalidade.

Ora, nesta passada quinta-feira surgiu uma notícia, ao redor da candidatura de Portugal ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, a cuja luz especialistas nesta matéria assinalam as diferenças entre a imagem externa e a prática interna, neste domínio, em Portugal.

Dizem estes técnicos que Portugal projeta para fora uma imagem de bom aluno em matéria de Direitos Humanos, mas que dentro falta passar da teoria à prática. Bom, é uma realidade conhecida de todos.

Isto mesmo é constatado por Catarina Albuquerque, relatora especial das Nações Unidas: parece que temos dois países, o país para fora e o país para dentro, sendo o primeiro o do Conselho de Direitos Humanos, que poderá vir a representar Portugal nas Nações Unidas, e que é o que até ratifica os tratados, não tendo reservas sobre estes, ou seja, é o tal bom aluno.

Tal como pude já escrever, é esta maneira de estar na vida – mormente na política – que faz com que, quarenta anos depois da Revolução de 25 de Abril, sempre sob protesto, os portugueses votem permanentemente nos mesmos. É a nova imagem do que se passou no tempo da II República, onde só muito poucos se interessavam pela política e muito menos pela democracia.

Vem tudo isto a propósito do modo como Barack Obama e o Papa Francisco têm sido tratados pela nossa grande comunicação social. Num ápice, fruto da moda do tempo, sempre de um modo superficial, passaram a ser vistos como maravilhas da Humanidade. O primeiro, algo inacreditavelmente, foi mesmo galardoado com o Nobel...da Paz! Embora – é bom não esquecer – também Winston Churchill tenha recebido o Nobel...da Literatura!!

Por outro lado, num ápice, a nossa grande comunicação social, contra toda a evidência histórica e cultual, transformou a História da Igreja Católica em dois tempos distintos: antes de Francisco I e depois de Francisco I. Este iria revolucionar a atitude da Igreja Católica perante as realidades do horroroso Mundo atual. O que vinha de trás e de errado, bom, iria ser cabalmente mudado.

Quanto ao primeiro – Obama – tudo está em saber quando vai lançar de novo os Estados Unidos em nova guerra, mas também quando terá um fim o campo de concentração de Guantánamo e quando serão julgados os responsáveis pelas torturas da CIA, já publicamente reconhecidas.

Sobre Francisco I, seguindo os sinais que vão chegando de Roma, parece que, depois de nada ter sido alterado em matéria do acesso das mulheres ao sacerdócio e do celibato dos padres, também a ortodoxia católica perante os divorciados e os homossexuais irá manter-se. E não teriam estes casos de ter um tal desfecho? Claro que sim! A grande verdade é que Francisco I, nada realmente tendo trazido de novo, também não pode ser responsabilizado por ter sido quase endeusado pela acéfala grande comunicação social. Até porque o direito à asneira é livre.

Por tudo isto, interrogo-me sobre se, ao nível da opinião pública mundial, não estarão por aí a surgir como que dois eclipses?... Mais uns dois dias, e já ficaremos com a resposta ao nosso alcance. Para já, a minha opinião é que os eclipses são já visíveis.

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