As nossas ideias geniais

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Entre anteontem e ontem foram-nos dadas a conhecer três ideias geniais, como já se constitui numa marca muito nossa: o (suposto) imperativo da saída de Paulo Bento do comando da Seleção Nacional de Futebol; a nova revisão constitucional em condições que referirei à frente; e a nova estratégia de comunicação que o PSD pretende levar por diante. Vejamos, então, estas três novíssimas ideias.

Em primeiro lugar, o (suposto) imperativo da saída de Paulo Bento do comando técnico da seleção nacional. Um tema que retiro, acima de todos os restantes comentadores, a partir do TEMPO EXTRA, na SIC Notícias, sob proposta de Rui Santos, que terminou a sua intervenção com a sua ideia de substituir Paulo Bento por Manuel José.

Devo dizer que me fartei de rir, porque quem viu aquela intervenção de Rui Santos – sabe, de facto, de futebol – terá ficado com a ideia de que entre cinco negativos ou só dois, se pode concluir ser possível chegar a um dezassete. Ou, vá lá, um quinze. É uma tão velha quão fantástica ideia, porque andamos em sua defesa há muitas décadas. Décadas que se vêm espraiando através de diversos regimes constitucionais e de mil e um sistemas políticos, varrendo vários séculos. Uma realidade que pode sintetizar-se deste modo: a culpa foi dos outros. Foi sempre assim na bola, na música, na literatura, etc.. Os outros querem-nos mal e não nos concedem o que é merecido.

Se eu conhecesse Rui Santos, dar-lhe-ia, entre mil e um outros exemplos, o caso das nossas participações olímpicas: quatro medalhas de ouro num total de vinte e três, sendo que o Zimbabué tem três de ouro... A Finlândia, com metade da nossa população, tem cento e uma de ouro, num total de quase trezentas. E a Suécia, com dez milhões de habitantes, realizou as suas primeiras olimpíadas de verão em 1912...

Em segundo lugar, a nova revisão constitucional, agora proposta pelos deputados madeirenses à Assembleia da República, naturalmente apoiada pela direção do PSD, embora não no domínio público. Por enquanto, claro está...

A ideia de um mandato presidencial único de dez anos, à partida, é extremamente favorável à direita, porque com a recusa histórica do PS em se ligar aos partidos de esquerda, preferindo sempre os da direita, facilmente permitirá que o candidato (único) da direita vença as eleições. Em dez anos, bom, terminará, definitivamente, tudo o que possa subsistir na sociedade portuguesa oriundo da Revolução de 25 de Abril. Será o dealbar da histórica ideia de Alberto João Jardim de criar uma IV República, que será um isomorfismo muito adaptado da II República.

Como teria de dar-se, lá surgiu a ideia de pôr um fim no Tribunal Constitucional, transferindo para uma Secção de Assuntos Constitucionais do Supremo Tribunal de Justiça as respetivas funções. E qual foi a principal razão invocada? Pois, a de que ali os juízes são de carreira, o que até não é verdade, porque os partidos do Bloco Central já se encarregaram de criar juízes conselheiros sem provirem da carreira da magistratura, mas sim por serem (supostamente) personalidades de grande mérito jurídico... É este o argumento apresentado.

Simplesmente, para que esta revisão constitucional seja possível é essencial o apoio do PS. Ora, neste aspeto há um dado que é certo: com António José Seguro à frente do PS esta ideia não passará. Mas já acredito que Alegre, Santos, Amado, Augusto Mateus, Lamego, Vera Jardim, Assis, Lacão, Mário Soares, Vítor Constâncio, Vítor Ramalho, Guterres, Pina Moura, Sócrates e muitos outros logo apoiarão a ideia. Talvez até Jorge Sampaio. Será, pois, o fim da Revolução de 25 de Abril e da Constituição de 1976. Ou seja, será a cabalíssima institucionalização da miséria geral entre os portugueses. Ficarão de fora da razia social que sobrevirá os detentores de soberania, talvez os (poucos) militares (que venham a restar) e os polícias – na zona do pouquinho. E sempre, como é evidente, com a democracia.

E, em terceiro lugar, a nova estratégia de comunicação que o PSD pretende levar por diante. Achei interessante a ideia, que logo me trouxe ao pensamento esta realidade já muito velha de Abril: até neste domínio o PSD se prepara para levar de vencida o PS. E também achei graça pelo facto daquela estratégia pretender voltar-se para a comunicação social regional ou local. De há muito percebi o enorme potencial que este setor da comunicação social possui. Se formos a ver bem, a enorme maioria dos portugueses consome muitíssimo mais a comunicação regional e a local escrita que a nacional.

Por fim, esta pergunta e uma recomendação: vai o PS, depois de Seguro, embarcar na destruição da Constituição de 1976 e do Tribunal Constitucional? Claro! E iremos todos ter a oportunidade de poder ver que os que por aí atacam António José Seguro nada irão fazer para se opor à destruição da Revolução de Abril e da Constituição de 1976. Até porque, de facto, tudo isto está destruído desde há muito e teve sempre o apoio do PS nessa senda destruidora. É a cereja no cimo do bolo.

A recomendação é a seguinte: fui encontrar no Repositório da Universidade Nova de Lisboa uma Dissertação de Mestrado de Carlos Ademar Fonseca, intitulada, Vítor Alves – O Revolucionário Tranquilo (Contributos de Vítor Alves para a instauração da Democracia em Portugal). Ainda a não li e só devo estudá-la durante agosto. Penso, em todo o caso, que os mais velhos e interessados irão ali encontrar um tema muito útil e agradável. E podem aceder-lhe facilmente através da INTERNET.

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