É a emblemática festa do ramo de rosquilhas que segundo o Abade de Baçal metia também chocalhada (Alves ,1934) “mete também chocalhada dos moços, como em Algoso; grande pagodeira de todo o povo, que solenemente vai dar o vitorró ao senhor mordomo, gritando todos entusiasticamente e chocalhando vitorró, vitorró Sr mordomo! Merece registo esta palavra, que não vemos empregada noutra parte e parece corresponder a viva, viva o nosso mordomo!”
Tudo leva a crer que a festa do Vitorró é uma reminiscência de antigos cultos pagãos pré-cristãos, em que se desfia um cortejo de ritos e símbolos entre os quais o momento da aclamação do novo Mordomo, simultaneamente Rei e Sacerdote. Por outro lado o ramo é constituído por um conjunto de dádivas ou “presentes comemorativos festivos” propiciatórios de prosperidade e abundância do novo ciclo agrícola (Campos 2001,pág 36).
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Além do ramo, em Soutelo, assume particular importância a figura do Mordomo, o Mordomo é assim o Rei da Festa (em outras festas da mesma essência – Vinhais e Bragança, é mesmo chamado “Rei”) a quem se aclama com a saudação especial (bem como às mordomas) “ vitorró vitorró Sr. Mordomo(a)!
É o seu nome que é particularmente esperado, é ele que recolhe as dádivas e é dele que se espera a boa gestão do rendimento do ramo e das dádivas ao logo do ano e também o apoio incondicional às novas mordomas. Era também ele que noutros tempos tinha uma mesa farta para os forasteiros/festejeiros onde para entrar na casa era apenas necessário o cumprimento/ aclamação “ vitorró vitorró Sr. Mordomo!”
Mordomo provém do latim maioredomus,- o criado maior da casa, está bem patente a ideia de serviço em prol da comunidade, a razão de ser um jovem e, partindo da análise do pensamento primitivo, terá a ver com o facto, de como deduz Frazer, “O Rei deve ser investido nessa função quando está no auge da sua força, porque contagia essa força ao seu povo e à natureza, da qual o grupo depende”
A versão cristã do ramo foi descrita em 94 na primeira publicação do jornalzinho O Bi-tó-rô: “Desde os tempos primordiais desta humilde aldeia que aqui se instalou uma profunda fé cristã. Esta encontra-se retratada numa pequena igreja, no coração da aldeia, onde, num dos seus altares, uma criança diferente de Jesus, suporta um "mundo" na mão. Porém, há muitos anos, uma doença, - o carbúnculo -, transforma Soutelo numa enfermaria. Este povo humilde, guiado pela fé naquele menino em que acreditava, decide, então, prometer uma festa ao seu Santo Nome de jesusS em busca de uma cura. A doença, como por milagre, começou a desaparecer e, o povo agradecido, fez, então, a festa ao S.to Nome de Jesus. Janeiro foi o mês escolhido, 4 semanas após o Natal. É que se trata de um jovem Menino e jovens têm sido sempre os mordomos da festa.”
Muito se terá perdido da pureza etnográfica original mas a Tradição do Ramo mantém-se.Até há bem pouco faziam-se ainda as roscas (pão), mas agora fazem-se apenas as tão procuradas rosquilhas (pão doce).
Logo no primeiro dia da semana que precede o domingo de festa começa "A Semana das Rosquilhas". É tempo de todas as mulheres da aldeia se unirem às mães das mordomas para fazer as pequenas bolas de pão - “as roscas”, tendo em vista ajudar os mais pobres (com menor peso para menos pagar). Os dois dias a seguir são para se fazerem as famosas rosquilhas. No forno escolhido, as centenas de ovos, que todos deram, começam a ser quebrados, enquanto outras os batem com a força dos seus braços e lhes juntam os "milagrosos" ingredientes. No forno propriamente dito, começam a ouvir-se os estalidos dos picosos, que os pais das mordomas tinham ido buscar com muita antecedência, para estarem sequinhos, pois nas latas estão já as maravilhosas rosquilhas de todas as formas e feitios, uma espécie de amuletos. É, porém, no sábado que são postas no gigantesco andor, onde ficam a bailar sobre o verde dos buxos e onde a coroa e a hera lhe dão um ar de rei.
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Seguindo a tradição, continuam a ser as crianças quem as “arrematam”, com toda a sua audácia, como quem retribui as bençãos de Jesus, mas o gigantesco andor, já não vai para a igreja nem as rosquilhas são vendidas no adro nem custam mais de 100$00. Sinais do tempo!
Na segunda feira continua a fazer-se o chamado “Ramo da Segunda" com as linguiças, salpicões, cestas de ovos e tudo o mais que venha para pendurar no grande pau forrado a buxo que o novo mordomo arranja para ir de volta do povo com o bandolim e a viola, até chegar à Igreja, onde é arrematado.
E desta forma se cumpre a harmoniosa aliança do Sagrado e do profano na festa do Santo Nome de Jesus, ou a festa do “Vitorró” ou “Bitorró”, como quisermos chamar.
ALVES, Franscisco Manuel (200)- memórias arqueológico-históricas do distrito de Bragança. Câmara Municipal de Bragança/IPM- Museu Abade de baçal,2000, tomo IX 81ª ed., Porto ,1934)
CAMPOS Nelson. (2001) “O “ramo dourado” e o “bi-tó-rô” como expressão de aclamação do rei da festa”, in fórum terras de Mogadouro, 2001
TIZA, António A. Pinelo (1996)” O Sagrado e o profano nas festas de inverno no Nordeste” in Tellus, ver. De cultura transmontana e duriense, nº 25, Junho de 1996
MAGALHÃES Susana (1993). “ Fé e carinho ao Santo Nome de Jesus” in jornal “ o Bi-tó-rô, 1993
Tradição oral: testemunhos de Maria da Purificação Magalhães