Amar pelos três: Fátima, Futebol e Fado

|João Pedro Batista|
Portugal está, hoje, na boca do mundo, e novamente, pela velha e tão bem conhecida trilogia dos três “efes”: Fátima, Futebol e Fado (ou festival), como há muito não se via. 

Este fim de semana ficou marcado por um lado, com a celebração do centenário das aparições em Fátima que proporcionou a vinda do Papa Francisco para a canonização dos pastorinhos Jacinta e Francisco e, por outro lado, pelas inéditas vitórias no futebol (na conquista do tetracampeonato pelo Benfica) e no festival da canção (pela vitória de Portugal na Eurovisão).

Comecemos por Fátima. Neste ponto, limitar-me-ei a falar sobre o que sucedera, exclusivamente este sábado, em Fátima, sem me referir a um fenómeno que me obrigue a um ato de reflexão que implique a sobreposição da razão à crença ou à fé, pelo que me cabe, desde já, referir que o ponto alto da vinda do Papa Francisco a Portugal nada teve a ver com a canonização dos pastorinhos, mas antes pela importância que este desempenha no incentivo à comunhão, à paz e à união entre a humanidade.

Como ateu que sou, não interpreto as aparições de Nossa Senhora, na Cova da Iria, como os milhares de peregrinos, que vindos de todo o mundo, marcaram lugar em Fátima em veneração e devoção à Virgem Maria e aos pastorinhos Jacinta, Francisco e Lúcia. No entanto, reconheço e admiro a força e a crença que levara à presença de milhares de crentes no santuário, acreditando que essas pessoas se possam encontrar a si mesmas, desafiando as leis da física, convivendo com algo que as transcende e que as torna mais confiantes, felizes e, sobretudo, mais livres.

O que me leva a considerar o Papa uma figura não apenas importantíssima na defesa e manutenção da paz e da harmonia entre a humanidade, mas também uma figura extremamente necessária para um mundo no qual escasseia, cada vez mais, os valores que nos unem e nos fazem felizes. Contudo, um Papa não enquanto figura pública ou representante máximo da igreja católica, mas sim enquanto homem da paz, consciente e digno de dar o exemplo a todos os Homens, independentemente, da religião a que pertencem.

Já relativamente ao segundo “éfe”, o Fado, ou melhor, o Festival, Portugal ganhou pela primeira vez, num dia cheio de emoções para muitos portugueses, o Festival Eurovisão da Canção. À semelhança do Europeu de Futebol de 2016, Portugal volta a estar nas bocas do mundo graças ao esforço e dedicação de mais um “patinho feio” que os portugueses tiveram a “amabilidade” de rebaixar, desmotivar e de subestimar. Salvador Sobral que ganhara o festival da canção com a música “amar pelos dois”, tal como sucedera com tantos outros portugueses, foi-lhe reconhecido o talento e o mérito primeiramente pelos estrangeiros e, só posteriormente, e porque estava dado como um dos favoritos pelas sondagens a vencer a Eurovisão, pelos portugueses que agora aprenderam rapidamente a gostar da sua música e a admirar a sua voz, não por ele cantar magnificamente ou por desempenhar uma enormíssima performance enquanto o faz, mas por ter sido reconhecido no estrangeiro e por ter sido vencedor.

No entanto, Salvador Sobral surpreendendo tudo e todos, ganhou o festival. Sobral representou Portugal da melhor forma possível, com uma música emocionante, tocante, extremamente nostálgica que beneficiara, e muito, do acompanhamento de uma performance sentida e emotiva, que revela uma exclusividade nata do cantor em interpretar cada poro que compõe a letra. Contudo, é bom que se reconheça a coragem de toda a equipa em cantar uma música em português. É, pois, de louvar esse ato! Como dizia Fernando Pessoa, “a Língua Portuguesa é a minha pátria”, e nada melhor que cantar na nossa língua para que as nossa identidade e cultura sejam reconhecidas.

Para terminar este ponto, resta-me enaltecer Salvador Sobral não apenas como cantor, mas pela pessoa que demonstrou ser. Sobral além de levar a música portuguesa a todos os cantos do planeta, fez notar a todo o mundo, através da sua mensagem humanitária – S.O.S refugees – a sua preocupação com a situação dos refugiados que representa também a de muitos portugueses.

Faltando apenas um “éfe”, o Futebol, que à semelhança do fenómeno Fátima, movimenta multidões e tem um papel extremamente emotivo junto de várias famílias portuguesas, verificou-se, nesse dia de emoções fortes para todo os portugueses, o acentuar da hegemonia benfiquista, há muito esquecida. Este tetracampeonato representa não somente um feito histórico para o Benfica, mas também o início da mudança de rumo no futebol português, com um Benfica a quebrar a hegemonia de anos e anos do F.C Porto.

Desta feita, os portugueses encontram-se hoje, novamente, rendidos à mística trilogia dos três “éfes” que caracteriza o povo português e que, no sábado, os fez viver enormíssimas sensações desde manhã, com a presença do Papa Francisco, até ao final da noite com Salvador Sobral a dar uma lição àquele português mesquinho e agourento que adora apontar o dedo nas situações mais difíceis.

Haja crença! Haja Música! Haja Futebol e os portugueses estarão no seu melhor!

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