Uma história mal contada

|Hélio Bernardo Lopes|
Nas noites de anteontem e de ontem a RTP 2, através de João Fernando Ramos, tentou esclarecer o recente burburinho surgido no Porto ao redor da futura candidatura autárquica encimada por Rui Moreira. E conseguiu fazer alguma luz sobre quanto se tem vindo a passar. É pelo que disseram Rui Moreira e Manuel Pizarro que me determinei a escrever este texto.

Já só raros duvidarão do que realmente esteve por detrás do recente divórcio entre o tal movimento (dito) de independentes, de Rui Moreira, e o PS. Neste momento tudo está já bastante claro, embora me pareçam úteis algumas palavras ao redor do que se passou e sobre o que está em jogo com este caso e com o movimento (dito) independente, de Rui Moreira.

Disse Rui Moreira que não é contra os partidos, mas percebe-se a incoerência desta afirmação, dado que logo juntou que os seus diretórios é que são maus. Simplesmente, não existem partidos sem diretórios, nem movimentos (ditos) independentes sem comissões políticas. Hoje, como muito bem referiu ontem Manuel Pizarro, o tal movimento de (ditos) independentes, já possui também uma comissão política, caminhando – procura caminhar – para a situação típica de um partido. A verdade é que, ao contrário do que diz Rui Moreira, não pode ser de outro modo.

Acontece que o concurso à condução dos destinos concelhios do Porto se faz através de listas sufragadas pelos eleitores. Significa isto que é total a falta de lógica de Rui Morreira ao salientar que nunca falaram de listas porque não é essa a lógica de um movimento!! Mas será, então, que as listas já caem feitas, a partir do céu?! Como se escolhe quem fica em que lugar? Claro está que bastidores e mercearia têm sempre de estar presentes!

Ao referir Rui Moreira que já na anterior eleição autárquica tinham surgido dificuldades por parte do PS, a verdade, como expôs Manuel Pizarro, é que tal situação nunca impediu o acordo que se criou nem se constituiu em obstáculo condicionador absoluto. Basta recordar o que nos referiu Rui Moreira: Manuel Pizarro e Tiago Barbosa Ribeiro foram dois apoiantes indefetíveis do acordo levado à prática.

Quando o PS Porto pretendia manter a coligação, tal resultava da lógica das coisas e do bom trabalho de toda a equipa que dirigiu os destinos do Porto. A isto nunca o PS Nacional se teria agora oposto, não tivesse sido a inesperada tomada de posição da comissão política de Rui Moreira, e que este logo reforçou na curta entrevista concedida à SIC. Ou seja: Rui Moreira acabou por ceder à mercearia da sua comissão política, onde estarão muitos dos boys que irão preencher os jobs que a legislação determina. É sempre este o caminho em eleições democráticas. Cá e por todo o mundo.

O que é, então, com elevada probabilidade, que se tem vindo a passar no Porto? Desde logo, Rui Moreira nunca terá militado em partido algum desde a Revolução de 25 de Abril de 1974. E também desconheço alguma iniciativa sua de luta contra o regime constitucional da II República. De um modo que ninguém contesta, Rui Moreira é um concidadão nosso com valores que são típicos da Direita do tempo que passa.

Ao mesmo tempo, Rui Moreira e os tais (ditos) independentes que o acompanham vêm assistindo ao triunfo neoliberal, acompanhado da derrocada dos partidos da área do dito socialismo democrático, por terem renunciado, na prática, à defesa dos seus valores, enfileirando no movimento estratégico neoliberal e globalizador.

Esta realidade também está presente, embora de um modo mais moderado, nos partidos históricos da Direita. Qualquer um perceberá que o neoliberalismo globalizador teria de vir a pôr em causa a própria democracia. De molde que se criou o ambiente propício para pessoas ditas independentes, como se dá com Rui Moreira, mas que é, como se sabe, um concidadão da Direita política.

Sem terem de pagar o ónus de se apresentarem como um partido, optam por colocar-se numa posição de crítica aos diretórios partidários – aos partidos, portanto –, assumindo-se antes como movimentos (de dita cidadania). Tudo passa a estar, pois, em encontrar alguém que possua uma imagem com alguma atratividade junto dos cidadãos: fato e gravata, forte aparência escrupulosa, e que se mostrem numa posição crítica e acima do que tem existido desde a manhã de abril. Invariavelmente, defendem a mudança constitucional e do Sistema Político, ao mesmo tempo que pedem as tais reformas estruturais… E, neste caso de Rui Moreira, chegou-se até ao ponto de se admitir o regresso de uma ditadura, tal como a Ditadura Nacional de 1926, mas que não foi trazida por Salazar...

Para mal de Rui Moreira e dos estrategistas do seu movimento, creio que terá morrido o sonho que se desenvolveu quanto à possibilidade futura de Rui Moreira poder vir a ser um futuro líder nacional, com o seu movimento a terminar num movimento de (dita) unidade nacional, agora supostamente renovada com a aragem dos tempos. Terá visto o seu fim, com elevada probabilidade, o que Mariana Mortágua por aí escreveu e sobre que se tentou evitar falar. Espero, pois, que o PS, o PSD, o PCP, Verdes e Bloco de Esquerda saibam retirar deste facto político recente os evidentes ensinamentos. Está tudo à vista e bem escancarado...

www.CodeNirvana.in

© Autorizada a utilização de conteúdos para pesquisa histórica Arquivo Velho do Noticias do Nordeste | TemaNN