Regresso do (ultra)mar

[vc_row][vc_column width="2/3"][vc_column_text css=".vc_custom_1616261250633{margin-right: 30px !important;}"]Regresso do (ultra)mar

Vem numa caixa de pinho / do outro lado do mar
desta vez o soldadinho / nunca mais se faz ao mar
(Zeca Afonso)


Regresso do mar lendo poemas guerrilheiros.
Havia também poetas por entre os “turras”?


Ai ué, ai ué
a ingenuidade infantil pela inocência adulta transmitida,
gente subjugada pelos carrascos dos profetas da verdade,
da superioridade, da razão                   e da raça até então


Ai ué, ai ué
regresso ao Doiro e subo as águas das muitas partidas,
para as quais por duas vezes              empurrado fui
pelos sublevados e discordes angolanos


Ai ué, ai ué
aqueles que afinal, tinham também poetas entre si,
poetas que compunham marchas guerreiras,
cantavam a Liberdade e estendiam a mão
ao inimigo soldado regular, mão ensanguentada
e alma ferida, com esperança de paz


Ai ué, ai ué
todos bravos combatentes
da bravura o sofrimento
das feridas a ânsia do fim da guerra
Mas o soldado de um ou outro lado,
é sempre pelos sem-razão usado


Comandado!


Ai ué, ai ué
porque se submetiam às ordens os rapazes?
Ai ué, ai ué


tanto néscio, tanto cretino,
tanto ignorante                 do leme apoderado


Ai ué, ai ué
tanto amorfo, tanto acéfalo,
tanto cobarde amedrontado


Ai ué, ai ué
“levaram-no p’ra S. Tomé”
e no Bate-pá se rendeu


Ai ué, ai ué
– monangambééé…!
– “eu vou de carro, tu vai a pé”


Carlos d'Abreu[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/3"][zoomsounds_player source="http://docs.google.com/uc?export=open&id=17Pd9bWp0PSPrPyt1dja0L10G1gnHcsLa" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="Regresso do (ultra)mar" songname="Poemário de Carlos d’Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="9453" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" shape="square" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" button_block="true" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F" css=".vc_custom_1616260416753{margin-top: -20px !important;margin-left: 0px !important;}"][vc_column_text css=".vc_custom_1616260309139{margin-left: 0px !important;}"]“Regresso do (ultra)mar”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos“, de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem.
A narratividade dos poemas, associada ao tom coloquial, constitui outro traço distintivo da poética do autor. Muitos dos carmes, em todos os andamentos, evocam as narrativas mágicas e imemoráveis que vão passando de geração em geração. Esta narratividade, coadjuvada pelo ritmo rápido e cadenciado da quadra, predetermina a atenção do leitor para a reflexão e a procura de ‘novos sentidos e possibilidades’”.

Créditos da imagem:Pepe Posse (Ferrol, 2018)[/vc_column_text][better-ads type="banner" banner="3814" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][/vc_column][/vc_row]

" O Capitão", poema de Jusús Lizano

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text css=".vc_custom_1602411417845{margin-bottom: 100px !important;}"]O capitão

O capitão
não é o capitão.

O capitão
é o mar.

Jesús Lizano[/vc_column_text][better-ads type="banner" banner="3814" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="left" show-caption="1" lazy-load=""][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="http://docs.google.com/uc?export=open&id=1mH50lztXk1HT_69aVjE-WJ99rkEIQZOc" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``O Capitão``, poema de Jesús Lizano" songname="Poemário de Carlos d’Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" shape="square" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" button_block="true" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||" css=".vc_custom_1602411312896{margin-top: -20px !important;}"][vc_column_text]Jesús Lizano foi um poeta e um pensador libertário espanhol, ligado ao movimento anarquista. Defendeu o Misticismo Libertário que concebia a evolução a partir do mundo selvagem, onde convergem todos os animais excepto a espécie humana, que agora está estagnada no mundo político real, a caminho do mundo real poético .

Estudou filosofia e leccionou, onde foi alcunhado “Antiseñor Lizano” por garantir a aprovação de todos os alunos. Publicou periodicamente “A coluna poética e o poço político” na revista libertária Polémica publicada em Barcelona. Escreveu em jornais.A Sua poesia era oral, o que o levou a participar em numerosos recitais participativos e apaixonados, dos quais existem alguns testemunhos em vídeo que ele editou.

“…exemplo de luta em defesa da humanidade
e de todas aquelas causas justas às quais dedicou a vida… que a sua figura e a sua obra de luta social a favor dos desiguais seja seguida e recordada por muito tempo…”

Créditos da imagem: Jorge Abreu Vale[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

"perpetuum mobile", poema de Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]perpetuum mobile

Ó vento da Senábria
sabeis novas do meu Amigo?

E o cieiro de Riballago
nada me diz!

Ó barca d’Alvia
tendes novas do meu Camarada?

E a névoa de Vegaterrón
nada me diz!


Ó graben do vale Arícia
haveis novas do Leandro?

E o revérbero tectónico
nada me diz!

Até que soa uma voz rouca e tronante
proveniente das Arribas sempre a Leste:
– sossegai, sossegai, que o vosso paisano
ainda não encenou o último acto!

– Mas a que peça pertence esse acto? – perguntei.
– À do Teatro em (perpétuo) Movimento! – respondeu!

Carlos d'Abreu[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia801407.us.archive.org/4/items/perpetummobile_202010/perpetummobile.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``perpetuum mobile``" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" shape="square" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" button_block="true" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||" css=".vc_custom_1601734711750{margin-top: -20px !important;}"][vc_column_text]“perpetuum mobile”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos“, de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem.

In Leandro Vale em movimento (2.º acto: amigos nos camarins), coord. Carlos d’Abreu, Carviçais, Lema d’Origem Editora / RIBACVDANA, 2016, p. 49 (com o pseudónimo Álvaro Diz de Mazores).
A narratividade dos poemas, associada ao tom coloquial, constitui outro traço distintivo da poética do autor. Muitos dos carmes, em todos os andamentos, evocam as narrativas mágicas e imemoráveis que vão passando de geração em geração. Esta narratividade, coadjuvada pelo ritmo rápido e cadenciado da quadra, predetermina a atenção do leitor para a reflexão e a procura de ‘novos sentidos e possibilidades’”.

Créditos da imagem:Jorge Abreu Vale[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

"O poético polícia", poema de Jesús Lizano

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]O poético polícia

Todos os dias
o encontrava na rua
escrevendo na sua caderneta
ou caderno
suponho que denúncias,
multas, avisos,
suspeitas…
Todos os dias,
com a sua farda e armas,
silencioso, apoiando-se
nos carros,
nas árvores,
sentado em algum banco…
sem deixar de anotar
o que suponho anotam
os polícias…
Que invenção
a Polícia …
O caso é que já levava
sem o ver algum tempo
quando o vi de novo
sem armas, sem farda
mas escrevendo, anotando
notas e mais notas
no seu caderno
ou caderneta.
Pensei:
Quem sabe já não pertence
à polícia municipal mas à secreta …
Tinha as minhas dúvidas…
Encontrei-me
com um mamífero amigo
e contei-lhe a surpresa
em que me encontrava
face a essa mudança …
Como? Não sabes?
Já não é polícia
disse-me.
Abandonou esse “ofício”,
esse uniforme, esse domínio.
– Mas continua escrevendo
no seu caderno como sempre,
todos os dias…
E revelou-me o segredo:
Não podia continuar
dentro de um uniforme
(qualquer uniforme …),
aquela forma de vida …
Uniforme à vida?
Era poeta:
como podia ser polícia…?

Jesús Lizano[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="http://docs.google.com/uc?export=open&id=1uWxMMdvfRHiwxyZs_ab3s4YLJQFIAjRB" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="O poético polícia" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" shape="square" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" button_block="true" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||" css=".vc_custom_1600527909877{margin-top: -20px !important;}"][vc_column_text]Jesús Lizano foi um poeta e um pensador libertário espanhol, ligado ao movimento anarquista. Defendeu o Misticismo Libertário que concebia a evolução a partir do mundo selvagem, onde convergem todos os animais excepto a espécie humana, que agora está estagnada no mundo político real, a caminho do mundo real poético .

Estudou filosofia e leccionou, onde foi alcunhado “Antiseñor Lizano” por garantir a aprovação de todos os alunos. Publicou periodicamente “A coluna poética e o poço político” na revista libertária Polémica publicada em Barcelona. Escreveu em jornais.A Sua poesia era oral, o que o levou a participar em numerosos recitais participativos e apaixonados, dos quais existem alguns testemunhos em vídeo que ele editou.

“…exemplo de luta em defesa da humanidade
e de todas aquelas causas justas às quais dedicou a vida… que a sua figura e a sua obra de luta social a favor dos desiguais seja seguida e recordada por muito tempo…”

Créditos da imagem: Jorge Abreu Vale[/vc_column_text][better-ads type="banner" banner="3814" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][/vc_column][/vc_row]

"Nocturna fronteira", poema de Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]Nocturna fronteira

                    A Chus Sánchez Villasante

Larga é a noite
Do outro lado tu
Entre nós os montes
por onde ecoa a tristeza
da distância-fuligem
e da solidão-geada

Longe está agora a raia
Mais perto a fronteira
alçada p’ra desunir
o nosso país interior

Marcos são os teus olhos
da permeável fronteira
Contra(o)bando sou eu
que passo            a passo
sem passador-guia
vereda acima e trilho abaixo
circundando a serra
de mil sombras-lobishomens

Entro    saio    volto a entrar
e só tu sabes porque arrisco
só tu sabes porque insisto
em esperar a madrugada

Mil vezes caminho andei
mil vezes fiz caminho
Contornei      ludibriando
e derrubando furtei
todas as fronteiras
desde que ao cemitério fui
deixar carta a minha Mãe!

Carlos d'Abreu[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601401.us.archive.org/33/items/podcast-poemario-28/Podcast%20Poem%C3%A1rio%20%2328.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``Nocturna Fronteira``" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" shape="square" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" button_block="true" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||" css=".vc_custom_1599906913409{margin-top: -20px !important;}"][vc_column_text]“Nocturna Fronteira”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos“, de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem.
A narratividade dos poemas, associada ao tom coloquial, constitui outro traço distintivo da poética do autor. Muitos dos carmes, em todos os andamentos, evocam as narrativas mágicas e imemoráveis que vão passando de geração em geração. Esta narratividade, coadjuvada pelo ritmo rápido e cadenciado da quadra, predetermina a atenção do leitor para a reflexão e a procura de ‘novos sentidos e possibilidades’”.

Créditos da imagem:Jorge Abreu Vale[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

"não desanimeis amigos", poema de Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]não desanimeis amigos

                                                                                        Ao Carlos Pedro


não desanimeis amigos
fazei como eu que devo aos gritos surdos
das recusas e indeferimentos da administração
a força da revolta e o grito da determinação

hoje a censura o cárcere a tortura
subtil manobra destra e cavilosa
pretende amansar-nos pelo desânimo

e a verdade é que a maioria vacila
optando pela submissão

não desanimeis amigos
lembrai-vos dos homens e das mulheres
que na permanente adversidade
mantiveram entre as mãos acesa
a chama da Liberdade

fazei amigos como eu
mamífero como vós
mas que nunca perdeu
da divisa a vista: labor omnia
vincit improbus

soa a virgiliano mofo latim?
dizei então: quem quis sempre pôde!

quão grande a dívida que tenho
para com o repressivo aparelho do estado

da mesma forma que a pobreza
imprescindível é aos ricos
devedores são os insurgentes à tirania

há dias uma anciã amiga anti-fascista
devotada e clandestina de outra época
me dizia ter saudades da ditadura
por ter sido tempo de clarividência

não soçobreis amigos
sabei metamorfosear em força
a força que nos recusam
a força que em nós existe

Carlos d'Abreu[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601409.us.archive.org/13/items/podcast-poemario-21/Podcast%20Poem%C3%A1rio%2321.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``não desanimeis amigos``" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" shape="square" size="sm" align="center" button_block="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F||target:%20_blank|" css=".vc_custom_1598697660225{margin-top: -20px !important;}"][vc_column_text]“não desanimeis amigos”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos“, de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem.
A narratividade dos poemas, associada ao tom coloquial, constitui outro traço distintivo da poética do autor. Muitos dos carmes, em todos os andamentos, evocam as narrativas mágicas e imemoráveis que vão passando de geração em geração. Esta narratividade, coadjuvada pelo ritmo rápido e cadenciado da quadra, predetermina a atenção do leitor para a reflexão e a procura de ‘novos sentidos e possibilidades’”.

Créditos da imagem:Jorge Abreu Vale[/vc_column_text][better-ads type="banner" banner="3814" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][/vc_column][/vc_row]

"40 x abril em Lejuad", poema de Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]40 x abril em Lejuad
Querem mas não podem encaminhar pelo intenso sol a morte
                                                                                              Carlos Sambade

esta noite acolhe-me o deserto,
a luz da estrela polar e do cruzeiro do sul,
o uivo da raposa e dos monstros que povoam
as paredes dos abrigos sob os incelbergs.

acolhe-me a luz da fogueira acesa pelos berberes
que na areia cozeram o nosso pão.

acolhe-me todo o universo
neste seu canto desolado,
num abril que lembra uma criança,
carregando com escarlate cravo uma espingarda.

ao espaço sideral e aos filhos do Sahara,
lanço odes libertárias compassadas

e os guerrilheiros polisários denunciam:
el muro, el muro de la vergüenza...
el muro, el muro de la vergüenza...

verbos da ibéria entrecruzados
em lábios de argonautas sulcando ventos africanos,
verbos e lábios, todos a bordo do poema,
do poema-grito: LIBERDADE!

Carlos d'Abreu[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601504.us.archive.org/10/items/40-x-abril-em-lejuad/40%20x%20abril%20em%20Lejuad.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="40 x abril em Lejuad" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" shape="square" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" button_block="true" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F||target:%20_blank|" css=".vc_custom_1598086466932{margin-top: -20px !important;}"][vc_column_text]“40 x abril em Lejuad”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos“, de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem. Um poema referente aos 40 anos do 25 de Abril, estando o autor em pleno deserto do Sahara em companhia dos guerrilheiros da Frente Polisário.
A narratividade dos poemas, associada ao tom coloquial, constitui outro traço distintivo da poética do autor. Muitos dos carmes, em todos os andamentos, evocam as narrativas mágicas e imemoráveis que vão passando de geração em geração. Esta narratividade, coadjuvada pelo ritmo rápido e cadenciado da quadra, predetermina a atenção do leitor para a reflexão e a procura de ‘novos sentidos e possibilidades’”.

Créditos da imagem:Jorge Abreu Vale[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

"Ode às mulheres que querem ser soldados", poema de Jesús Lizano

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]Ode às mulheres que querem ser soldados

Aos quartéis!
Enchei de filhos os quartéis!
Que se misturem os filhos nos desfiles!
Que brinquem com as armas e as munições!
Que as desmontem e confundam!
Que interrompam
as arengas dos coronéis!
Sim, sim, vós!
Passai as noites nas guaritas da guarda!
Levai à cantina os alferes!
Multiplicai os altifalantes!
À carreira de tiro! Descei à carreira de tiro com a merenda
e estendei as toalhas! Toalhas!
Toalhas!
E tapai de queijo os fuzis
ensaiando mil toques novos de corneta.
Que fiquem loucos todos os capitães!
Que dancem até se desconjuntarem os corneteiros!
Estendei as roupas na Sala de Comando!
Desfilai! Desfilai
mostrando os vossos encantos!
Isso! Isso! Soldados!
E logo, aos templos! Há muitos templos!
Enchei de criaturas os templos!
Que brinquem às escondidas pelos armários, pelos sítios recônditos!
Que se disfarcem com as fardas e os lençóis!
Incenso! Muito incenso!
Ide às procissões com os vossos pratos e caçarolas
e que se espalhe pelos armazéns
o cheiro a ovos fritos e a borrego!
A mãe do borrego!
Ala! Ala!
Cumpri a longa marcha até aos bancos!
Confundi todos os códigos!
Acelerai os ventiladores!
Que voem todos os arquivos e se percam todos os créditos!
Casai-vos com os banqueiros!
Com os presidentes de câmara! Com os acionistas!
Enchei com o vosso perfume e o vosso encanto os ministérios!
Levai as meias ao hemiciclo!
Nem luz nem estenógrafas!
Luz? Estenógrafas?
Sim, seres maravilhosos que quereis ser soldados!
Às escolas! Às escolas!
Ponde as patas em cima das geografias e das histórias!
As regras!
Seduzi os catedráticos!
À Aula Magna! À Aula Magna!
E passeai nuas e revestidas com as suas togas!
Pari nos Conselhos de Ministros!
E nas loggias! E nas Academias!
Recebei as vossas amigas nas Academias!
Nas Reais Academias!
Salvai da ordem o mundo!
Começará um tempo novo
e voltaremos à selva!
E assim terminará este ciclo tão antigo
quando Eva, desta vez, devolva ao género humano o Paraíso!

Jesús Lizano[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601503.us.archive.org/27/items/podcast-poemario-12_202009/Podcast%20Poem%C3%A1rio%2312.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``Ode às mulheres que querem ser soldados``" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO | Rubrica de Carlos d'Abreu" size="sm" align="left" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" button_block="true" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_column_text]Jesús Lizano foi um poeta e um pensador libertário espanhol, ligado ao movimento anarquista. Defendeu o Misticismo Libertário que concebia a evolução a partir do mundo selvagem, onde convergem todos os animais excepto a espécie humana, que agora está estagnada no mundo político real, a caminho do mundo real poético .

Estudou filosofia e leccionou, onde foi alcunhado “Antiseñor Lizano” por garantir a aprovação de todos os alunos. Publicou periodicamente “A coluna poética e o poço político” na revista libertária Polémica publicada em Barcelona. Escreveu em jornais.A Sua poesia era oral, o que o levou a participar em numerosos recitais participativos e apaixonados, dos quais existem alguns testemunhos em vídeo que ele editou.

“…exemplo de luta em defesa da humanidade
e de todas aquelas causas justas às quais dedicou a vida… que a sua figura e a sua obra de luta social a favor dos desiguais seja seguida e recordada por muito tempo…”[/vc_column_text][better-ads type="banner" banner="3814" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][/vc_column][/vc_row]

"más notícias me dás", poema de Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]"más notícias me dás"

más notícias me dás da nossa loisa
de trancoso e do nordeste e do país

triste tempo

terão ardido os alcornoques e os pinhos
por ti      por mim      por nós plantados

amarga constatação

ainda se ao menos o fogo
resultasse do combate
entre os tiranos e o nosso povo…

lapso de tempo

natureza atenta
ecologia do lume
parição da terra

hora serôdia

mas das ruas dos campos e dos montes
a multidão perscruta e decide alvoroçada
romper o fumo              e AVANÇAR

Carlos d'Abreu[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia801509.us.archive.org/23/items/podcastpoemario-25masnoticiasmedas/Podcastpoem%C3%A1rio%2325masnoticiasmedas.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``más notícias me dás``" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO | Rubrica de Carlos d'Abreu" size="sm" align="left" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" button_block="true" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_column_text]“más notícias me dás”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos“, de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem.

A narratividade dos poemas, associada ao tom coloquial, constitui outro traço distintivo da poética do autor. Muitos dos carmes, em todos os andamentos, evocam as narrativas mágicas e imemoráveis que vão passando de geração em geração. Esta narratividade, coadjuvada pelo ritmo rápido e cadenciado da quadra, predetermina a atenção do leitor para a reflexão e a procura de ‘novos sentidos e possibilidades’”.

Do prólogo de Norberto Veiga[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

"Carrossel", poema de Jesús Lizano

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]Carrossel

Que instalem carrosséis
em todas as ruas,
que encham de carrosséis as cidades.
Há séculos
que andamos com esse invento de feira em feira
sem descobrir a sua humaníssima aventura.
Que celebrem os noivos
a sua viagem no carrossel,
de cavalinho em cavalinho.
Que cada família tenha o seu carrossel,
todos ao carrossel!
Que os amigos
falem e sonhem e discutam
dando voltas no carrossel.
Nele celebrem os seus conselhos de ministros,
enquanto houver ministros,
e nele se reúnam os senhores bispos,
naturalmente, revestidos
de senhores bispos,
enquanto houver bispos.
Os pobres montam no carrossel para rir-se do mundo
e os ricos,
que subam os ricos ao carrossel
enquanto todos os aplaudimos!
E os senhoritos!
Que subam os senhoritos!
E venham todos os solitários, todos os vagabundos.
E o congresso dos deputados
será o congresso dos cavalinhos de madeira.
E os empresários, que risa, os empresários!
Que subam os empresários com os seus assalariados,
enquanto houver salários.
Os salários do medo!
E, já agora: comités centrais,
máfias, seitas, castas, clãs, etnias:
aos cavalinhos!
E os músicos com os guarda-venatórios,
e o presidente da câmara e os vereadores
com as vendedeiras e os padeiros.
Viva! Viva!
Gritarão as crianças quando virem
que sobem os Honoráveis.
Vamos, Honoráveis!:
Ao carrossel!
Vamos à cidade para andar nos cavalinhos,
Dirão as monges aos seus abades.
E os académicos:
que se reúnam os académicos no carrossel
e que encerram todas as academias.
Ah, se todos os filósofos tivessem andado no carrossel!
Que instalem carrosséis em todos os cárceres,
nos quartéis,
nos hospitais,
nos frenopáticos
e que fujam todos
montados nos cavalinhos.
E todos os juízes ao carrossel,
vamos! vamos! Aos cavalinhos!
E nada de processos e de sentenças!
Já basta julgar os efeitos e não as causas!
Aos cavalinhos!
E que todos os funerais
se celebrem montados nos cavalinhos do carrossel.
São as novas ordenações,
são os novos preceitos:
todos ao carrossel!
A cavalgada do carrossel!
À confederação de todos os carrosséis!
Até que todos sejamos crianças…

Jesús Lizano[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601406.us.archive.org/0/items/podcastpoemario-19/Podcastpoemario%2319.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``Carrossel``, poema de Jesús Lizano" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO | Rubrica de Carlos d'Abreu" size="sm" align="center" button_block="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_column_text]Jesús Lizano foi um poeta e um pensador libertário espanhol, ligado ao movimento anarquista. Defendeu o Misticismo Libertário que concebia a evolução a partir do mundo selvagem, onde convergem todos os animais excepto a espécie humana, que agora está estagnada no mundo político real, a caminho do mundo real poético .

Estudou filosofia e leccionou, onde foi alcunhado “Antiseñor Lizano” por garantir a aprovação de todos os alunos. Publicou periodicamente “A coluna poética e o poço político” na revista libertária Polémica publicada em Barcelona. Escreveu em jornais.A Sua poesia era oral, o que o levou a participar em numerosos recitais participativos e apaixonados, dos quais existem alguns testemunhos em vídeo que ele editou.

“…exemplo de luta em defesa da humanidade
e de todas aquelas causas justas às quais dedicou a vida… que a sua figura e a sua obra de luta social a favor dos desiguais seja seguida e recordada por muito tempo…”[/vc_column_text][better-ads type="banner" banner="3814" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][/vc_column][/vc_row]

naufragar em teu corpo

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]naufragar em teu corpo

no meu navegar à vista
rio acima entre montanhas
após o meandro da dobra
enxergo ao longe o páramo

(não obstante a névoa)

e se não avisto já o pélago
diviso pelo menos a entrada
algo escura e viscosa do abrigo
a que o eflúvio me conduz

transporei o remoinho
naufragarei em teu corpo
deixar-me-ei engolir uma
e muitas vezes com o ímpeto
da maré invadindo a praia

como o ir e vir do mar
aparentemente furibundo

e sem queixumes deixar-me-ei
pelas vagas tuas agigantar
contribuindo apenas para quebrar
a quietude do teu corpo
até então adormecido

Carlos d'Abreu[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601500.us.archive.org/21/items/prod-podcast-poemario-17uce/ProdPodcast%20Poem%C3%A1rio%2317uce.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="naufragar em teu corpo" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO | Rubrica de Carlos d'Abreu" size="sm" align="right" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" button_block="true" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_column_text]“naufragar em teu corpo”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos“, de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem.

A narratividade dos poemas, associada ao tom coloquial, constitui outro traço distintivo da poética do autor. Muitos dos carmes, em todos os andamentos, evocam as narrativas mágicas e imemoráveis que vão passando de geração em geração. Esta narratividade, coadjuvada pelo ritmo rápido e cadenciado da quadra, predetermina a atenção do leitor para a reflexão e a procura de ‘novos sentidos e possibilidades’”.

Do prólogo de Norberto Veiga[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

"Ah, vã glória...", poema de Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]Ah, vã glória...

Já lhe não basta
o nome do civil
para se afirmar
e parecer ainda mais vil

precisa ter casta
por isso o adjectiva
qualifica e determina
se viscondessa ou barão
malata ou cabrão
mas isso é passado!

O homem moderno
porque inovador
criou novas rimas:

Presidente,           Doutor
Engenheiro,         Administrador
Comandante,       Director
Chefe e                   (sub-repticiamente) Ditador

Mas nunca olvidar               do EX.MO SENHOR!
............................[por vezes ainda Comendador]

Carlos d'Abreu[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601508.us.archive.org/3/items/podcast-poemario-15/Podcast%20Poem%C3%A1rio%2315.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="Ah, vã glória..." songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO DE CARLOS D'ABREU" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" button_block="true" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_column_text]“Ah, vã glória...”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos“, de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem. Um poema em lembrança da passagem do comboio no sítio de Vale de Ferreiros.

A narratividade dos poemas, associada ao tom coloquial, constitui outro traço distintivo da poética do autor. Muitos dos carmes, em todos os andamentos, evocam as narrativas mágicas e imemoráveis que vão passando de geração em geração. Esta narratividade, coadjuvada pelo ritmo rápido e cadenciado da quadra, predetermina a atenção do leitor para a reflexão e a procura de ‘novos sentidos e possibilidades’”.

Do prólogo de Norberto Veiga[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

Poema "Cemitério de Cidade" de Celso Emilio Ferreiro

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]Celso Emilio Ferreiro (1912-1979)

Celso Emilio Ferreiro foi um escritor galego. Era de família remediada, camponesa e galeguista. Aos 22 anos, em 1934, fundou com José Velo Mosquera a Federação de Mocedades Galeguistas.
Quando estalou a guerra Celso Emílio foi obrigado a entrar no exército franquista. Esteve condenado a morte e, nas quatro noites que passou no cárcere até a família conseguir o indulto, escreveu o poema “Longa noite de pedra“, núcleo central do livro do mesmo título.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601408.us.archive.org/24/items/podcast-poemario-27/Podcast%20Poem%C3%A1rio%2327.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``Cemitério de Cidade``" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][/vc_column][/vc_row]

"Vale de Ferreiros", poema de Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]Vale de Ferreiros

Pou ca–te rra pou ca–te rra
Puii-puiiiiiii
Quem assim ronceiro andava
e rouco silvava
cansado vinha.

Olhei pró Cabeço da Mua
e quase fumo não vi
da velhinha locomotiva.

De alegre brilho metálico
passara a encardido tição.

O minério que a trouxera,
era agora impuro em demasia
e quem a exigira         já partira.

Nela de gente apenas
o maquinista e o fogueiro
e de carga adubo pouco.
P’ra baixo mais ninguém traria
e de grão já pouco havia.

Tinha os dias contados,
pois de “viação acelerada”
passara a lenta e criminosa
no dizer dos mercenários:
pirómana, pirómana! (– apontavam)

Carlos d'Abreu[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601503.us.archive.org/32/items/podcast-poemario-006_202006/%23PodcastPoem%C3%A1rio006.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``Vale de Ferreiros``, poema de Carlos d'Abreu" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_column_text]“Vale de Ferreiros”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos“, de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem. Um poema em lembrança da passagem do comboio no sítio de Vale de Ferreiros.

A narratividade dos poemas, associada ao tom coloquial, constitui outro traço distintivo da poética do autor. Muitos dos carmes, em todos os andamentos, evocam as narrativas mágicas e imemoráveis que vão passando de geração em geração. Esta narratividade, coadjuvada pelo ritmo rápido e cadenciado da quadra, predetermina a atenção do leitor para a reflexão e a procura de ‘novos sentidos e possibilidades’”.

Do prólogo de Norberto Veiga[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

"As pessoas curvas", poema de Jesús Lizano

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]As pessoas curvas

A minha mãe dizia: eu gosto
das pessoas rectas.


Pois eu gosto das pessoas curvas,
das ideias curvas,
dos caminhos curvos,
porque o mundo é curvo
e a terra é curva
e o movimento é curvo;
e gosto das curvas
e dos peitos curvos
e dos cus curvos,
dos sentimentos curvos;
a embriaguez: é curva;
as palavras curvas;
o amor é curvo;
o ventre é curvo!
o diverso é curvo.

Eu gosto dos mundos curvos;
o mar é curvo,
o riso é curvo,
a alegria é curva,
a dor é curva;
as uvas: curvas;
as laranjas: curvas;
os lábios: curvos;
e os sonhos: curvos;
os paraísos: curvos
(não há outros paraísos);
eu gosto da anarquia curva.

O dia é curvo
e a noite é curva;
a aventura é curva!
E não gosto das pessoas rectas,
do mundo recto,
das ideias rectas;
eu gosto das mãos curvas,
dos poemas curvos,
das horas curvas:
contemplar é curvo!
(nas que podes contemplar as curvas
e conhecer a terra);
os instrumentos curvos,
não as facas, não as leis:
não gosto das leis porque são rectas,
não gosto das coisas rectas,
os suspiros: curvos;
os beijos: curvos;
as carícias: curvas.

E a paciência é curva.

O pão é curvo
e a metralha recta.

Não gosto das coisas rectas
nem da linha recta:
perdem-se
todas as linhas rectas;
não gosto da morte porque é recta,
é a coisa mais recta, a mais escondida
por trás das coisas rectas;
nem dos professores rectos
nem das professoras rectas:
eu gosto dos professores curvos,
das professoras curvas.

Não dos deuses rectos:
livrem-nos os deuses curvos dos deuses rectos!
O banho é curvo,
a verdade é curva,
eu não resisto às verdades rectas.
Viver é curvo,
a poesia é curva,
o coração é curvo.

Eu gosto das pessoas curvas
e fujo, por serem peste, das pessoas rectas.

Jesús Lizano[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601505.us.archive.org/26/items/podcast-poemario-29/podcast%20Poem%C3%A1rio%2329.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``As pessoas curvas``, poema de Jesús Lizano" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_column_text css=".vc_custom_1592649675097{margin-bottom: 200px !important;}"]




Jesús Lizano foi um poeta e um pensador libertário espanhol, ligado ao movimento anarquista. Defendeu o Misticismo Libertário que concebia a evolução a partir do mundo selvagem, onde convergem todos os animais excepto a espécie humana, que agora está estagnada no mundo político real, a caminho do mundo real poético .

Estudou filosofia e leccionou, onde foi alcunhado “Antiseñor Lizano” por garantir a aprovação de todos os alunos. Publicou periodicamente “A coluna poética e o poço político” na revista libertária Polémica publicada em Barcelona. Escreveu em jornais.A Sua poesia era oral, o que o levou a participar em numerosos recitais participativos e apaixonados, dos quais existem alguns testemunhos em vídeo que ele editou.

“…exemplo de luta em defesa da humanidade
e de todas aquelas causas justas às quais dedicou a vida… que a sua figura e a sua obra de luta social a favor dos desiguais seja seguida e recordada por muito tempo…”









[/vc_column_text]

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[/vc_column][/vc_row]

"Solidão" poema de Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]"Solidão"

Solidão Ão ão
Ladro a esta companheira
e faço-o por antecipação
mesmo sabendo que cairei na ratoeira
para a qual ela de supetão me empurrará

O ardil é a escrita, não digo poesia,
digo escrita, em geral descrita
como fatalidade, como resignação

A escrita são palavras,
umas chochas outras gradas,
manifestações verbais que entretêm o solitário
é exercício que anestesia
e ameniza a ocasião escura e fria

Não haverá compenetração
sem retiro ou mesmo clausura,
apenas apócrifa e erma vastidão

Ladro à solidão merencória e pesarosa
mas procuro o momento, a sós, inspirador
À outra digo: Não!

E com ela embarco e retomo a busca
incessante, esgotante, castradora
esperando mais um naufrágio…

Mas enquanto e não
ladro também ao vento
ão ão ão
pode ser que ouça lamento
de canita à deriva como eu

Carlos d'Abreu[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601402.us.archive.org/14/items/podcast-poemario-14/Podcast%20Poem%C3%A1rio%2314.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``Solidão``" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_column_text]“Solidão”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos“, de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem.

A narratividade dos poemas, associada ao tom coloquial, constitui outro traço distintivo da poética do autor. Muitos dos carmes, em todos os andamentos, evocam as narrativas mágicas e imemoráveis que vão passando de geração em geração. Esta narratividade, coadjuvada pelo ritmo rápido e cadenciado da quadra, predetermina a atenção do leitor para a reflexão e a procura de ‘novos sentidos e possibilidades’”.

Do prólogo de Norberto Veiga

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

"A Ordem", poema de Jesús Lizano

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]A ordem

Isto é a Ordem!
Tudo
sumido numa ordem,
tudo dependente das ordens,
dos mecanismos, dos uniformes,
das fronteiras, dos princípios,
dos códigos, dos fins.
Isto é a Ordem!

Símbolos, mensagens, leis,
ordenamentos, conceitos,
praga de conceitos,
desde que nascemos
até que morremos,
todos
escravos dos conceitos.

Mas, nascemos? Morremos?
É possível tal coisa
no meio de tanta Ordem?

E ordenadores, ordenadores:10
faltava este grande invento
para que tudo seja uma Ordem.

Uma Ordem!
Isto é uma Ordem!
Ordeno e mando!
Às suas ordens!

Uma Ordem é a nossa Razão,
essa sim é uma Ordem,
da qual nascem todas as ordens,
mãe dos nossos crimes,
sombra das nossas luzes,
poço dos nossos sonhos:
A palhaça do mundo!

Determinações, mandamentos:
como dez mandamentos?:
milhares e milhares de mandamentos!

Cálculos, classificações,
rituais, milhares de rituais.
Tudo medido,
tudo milimétrico.
Como poderemos ser
únicos e companheiros?
Ordem de Malta,
Ordem de São Bento,
ordens mendicantes,
ordens e contra-ordens.
A quadratura do círculo!
A quadratura da Beleza!
A quadratura do pensamento!

Pobre pensamento:
se o pensamento é uma criança…

Como sair da Ordem
estabelecida, imposta, justiceira
uma Ordem
de dominados e dominantes,
de vencedores e vencidos.
E a ordem dos factores!

Ordens, Academias,
isso sim, Reais,
mentalizadoras.
O Mundo
é uma Ordem fantástica,
enlouquecida,
faz e desfaz,
faz e desfaz.
Atenha-se às ordens!
Uma Ordem! É uma Ordem!

(Espero que saibais
o que quero dizer
quando digo Ordem…)

Não, não: o que nós
necessitamos são desordenadores,
mudar a Ordem,
a implacável Ordem,
este viver matemático e geométrico,
mimético, envenenador.
É a Ordem!

Que se pode esperar
se nascer é uma ordem,
morrer é uma ordem.
Tanta Ordem
e tanto sofrimento!

Por ordem alfabética!
Por ordem de aparecimento em cena!
Não, não:
eu quero desordenar-me,
necessito de desordenar-me, libertar-me
de tanto ordenamento
que faz de mim uma Ordem.

É a Ordem!
Cuidado com a Ordem!
Como sentir
se se é uma Ordem?
Como pensar
se se é uma Ordem?
Como sonhar
se se é uma Ordem?

Regras, medidas, alfaiates
enlouquecidos, medidores.
Isto é a Ordem!

Ordens de registo:
levo os bolsos
cheios de ordens de registo.
Forças da Ordem.
Claro: da Ordem!

Mal saio de uma Ordem
e já me persegue outra Ordem:
Ordem pública, pública,
Ordem íntima: um
a dar ordens
a si mesmo!

E vozes preventivas
e vozes executivas,
pobres vozes!

Passem, senhores, passem!
A numerar-se! A ordenar-se!
Proibido alterar a Ordem!
Isto
é uma Ordem!

Reflexos condicionados,
funções condicionadas,
pessoas rectas,
ideias fixas,
deuses, deuses
rectos e fixos,
imagens: que mistura
de imagens, de sombras,
de ordens.
Uma Ordem! Uma Ordem!

A norma, a regra:
tem a regra,
cumpre a ordem.
É a Ordem,
o grande teatro da Ordem!
A eterna submissão
do diverso à Ordem!

Liberdade!
dentro de uma Ordem!

A Ordem!
Isto é a Ordem!

Dizei-me: do homem e da mulher!
Que resta aqui do homem e da mulher?

Jesús Lizano[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601402.us.archive.org/32/items/podcast-poemario-22/Podcast%20Poem%C3%A1rio%2322.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="`` A Ordem``, poema de Jesús Lizano" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_column_text]Jesús Lizano foi um poeta e um pensador libertário espanhol, ligado ao movimento anarquista. Defendeu o Misticismo Libertário que concebia a evolução a partir do mundo selvagem, onde convergem todos os animais excepto a espécie humana, que agora está estagnada no mundo político real, a caminho do mundo real poético .

Estudou filosofia e leccionou, onde foi alcunhado “Antiseñor Lizano” por garantir a aprovação de todos os alunos. Publicou periodicamente “A coluna poética e o poço político” na revista libertária Polémica publicada em Barcelona. Escreveu em jornais.A Sua poesia era oral, o que o levou a participar em numerosos recitais participativos e apaixonados, dos quais existem alguns testemunhos em vídeo que ele editou.

“…exemplo de luta em defesa da humanidade
e de todas aquelas causas justas às quais dedicou a vida… que a sua figura e a sua obra de luta social a favor dos desiguais seja seguida e recordada por muito tempo…”[/vc_column_text][better-ads type="banner" banner="3816" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][bs-push-notification style="t2-s1" title="Subscribe for updates" show_title="0" icon="" heading_color="" heading_style="default" title_link="" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" bs-text-color-scheme="" css=".vc_custom_1591456394820{margin-top: 250px !important;margin-bottom: 250px !important;}" custom-css-class="" custom-id=""][better-ads type="banner" banner="3816" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][/vc_column][/vc_row]

"À Tecedeira", poema de Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]À Tecedeira

Revela-me ó tecedeira
como urdes com versos de malha
nesse mágico e sóbrio apresto
o poema-manta que me agasalha

Eu só o fio do poema conheço

Esguia e veloz lançadeira
barcarola-canela de linhas
que roça fricciona insinua
em mão esbelta da tecedeira
qual surfista navegante

vem depois o pente e mistura
a textura do instante

Eu só entrelaçar versos sou capaz

Vai e vem           leva e traz
fios linhas cores ideias
lenços telas e tafetás
e muitas e muitas teias

Eu só tecer poemas sei

Enquanto tu ó tecedeira
após cardar fiar e dobar
teces mantilha-floreira
xaile-manta        amictório
com que me hás-de velar

Carlos d'Abreu[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601408.us.archive.org/10/items/podcast-poemario-30/Podcast%20Poem%C3%A1rio%2330.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``À Tecedeira``" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"]https://ia601408.us.archive.org/10/items/podcast-poemario-30/Podcast%20Poem%C3%A1rio%2330.mp3[/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_column_text]“Rostos Transmontanos”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos”, de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem.

No poema “À Tecedeira”, que, de imediato, reenvia a memória do leitor para a Odisseia, de Homero, e para o episódio da rainha Penélope, o autor apresenta o seu modus faciendi, isto é, a sua arte poética. O escritor, empregando metáforas que associam a poesia às artes do tear e do bordado, compara o texto/poema a um “poema- -manta”, realçando os significados de “tecer, entrelaçar os fios” que escoram a etimologia do vocábulo texto. O labor poético entrelaça vogais, consoantes, sons, palavras e ritmos para formar o texto, ou o “poema-manta”. Esta composição patenteia, ainda, a dificuldade
do trabalho poético, que é comparado ao labor doméstico, ou seja, à renda e ao tear, atividades que exigem muita atenção e concentração. Nota-se, ainda, uma gradação ascendente desse processo, prefigurada nos versos “eu só o fio do poema conheço” (v. 5), “eu só entrelaçar versos sou capaz” (v. 13) e, por fim, “eu só tecer poemas sei” (v. 18). Em suma, enquanto a Tecedeira/Penélope entrelaça.

[Do prólogo de Norberto Veiga][/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

"Mamíferos", poema de Jesús Lizano

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]Mamíferos

Eu vejo mamíferos.
Mamíferos com nomes estranhíssimos.
Esqueceram-se que são mamíferos
e creem-se bispos, canalizadores,
leiteiros, deputados. Deputados?
Eu vejo mamíferos.

Polícias, médicos, porteiros,
professores, alfaiates, cantautores.
Cantautores?
Eu vejo mamíferos…

Presidentes, criados, escriturários, mestres d’obra,
Mestres d’obra!
Como pode crer-se mestre d’obra um mamífero?
Membros, sim, membros, creem-se membros
do comité central, da ordem dos médicos…
académicos, reis, coronéis.
Eu vejo mamíferos.

Actrizes, putas, assistentes, secretárias,
directoras, lésbicas, puericultoras…
Na verdade, eu vejo mamíferos.
Ninguém vê mamíferos,
ninguém, ao que parece, se lembra que é mamífero.
Serei eu o último mamífero?
Democratas, comunistas, xadrezistas,
jornalistas, soldados, camponeses.
Eu vejo mamíferos.

Marqueses, executivos, sócios,
italianos, ingleses, catalães.
Catalães?
Eu vejo mamíferos.

Cristãos, muçulmanos, coptas,
inspectores, técnicos, beneditinos,
empresários, caixeiros, cosmonautas…
Eu vejo mamíferos.

Jesús Lizano[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601400.us.archive.org/32/items/poemarioparamamiferos/poemarioparamamiferos.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``Mamíferos``" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_column_text]Jesús Lizano foi um poeta e um pensador libertário espanhol, ligado ao movimento anarquista. Defendeu o Misticismo Libertário que concebia a evolução a partir do mundo selvagem, onde convergem todos os animais excepto a espécie humana, que agora está estagnada no mundo político real, a caminho do mundo real poético .

Estudou filosofia e leccionou, onde foi alcunhado “Antiseñor Lizano” por garantir a aprovação de todos os alunos. Publicou periodicamente “A coluna poética e o poço político” na revista libertária Polémica publicada em Barcelona. Escreveu em jornais.A Sua poesia era oral, o que o levou a participar em numerosos recitais participativos e apaixonados, dos quais existem alguns testemunhos em vídeo que ele editou.

“…exemplo de luta em defesa da humanidade
e de todas aquelas causas justas às quais dedicou a vida… que a sua figura e a sua obra de luta social a favor dos desiguais seja seguida e recordada por muito tempo…”[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

"Rostos Transmontanos", poema de Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]Rostos Transmontanos

São rostos que não deixam ninguém indiferente
são o rosto de uma região inteira.
Contêm toda a Geografia Transmontana,
revelada pelos sulcos neles impressos
durante a passagem do khrónos.
Tempo e telurismo, juntos.
Solo e clima agrestes.
Ladeiras, fragas e arroios.
Moroiços, socalcos, cepas, oliveiras e amendoeiras.
Janeiros geadeiros e canículas estivais.
As leiras.
Afinal daimosos porque dobrados pela vontade
inquebrantável de sobreviver no território
que lhes calhou para viverem.
São retratos, são gente,
gente que povoa um território que se despovoa.
São metáforas.
Mensagens de canseira, de solidão,
de sofrimento, de mágoa, de privações,
de sobrevivência, por vezes de resignação.
Mas também os há, de confiança, de grandeza,
de fé e até esplendor.
Todos dignos.
Este conjunto de telas é um registo in extremis
de um corpo extenuado, que definha
porque o seu sangue embarca todos os dias.
Já não é só o vinho que desce o Douro,
é também quem plantou as cepas.

Carlos d'Abreu
"Rostos transmontanos", entrevista a Paulo Patoleia [icon name="video-camera" class="" unprefixed_class=""] 

[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601502.us.archive.org/35/items/podcast-poemario-23/Podcast%20Poem%C3%A1rio%2323.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``Rostos Transmontanos``" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2489" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_column_text]“Rostos Transmontanos”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos", de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem.

“A narratividade dos poemas, associada ao tom coloquial, constitui outro traço distintivo da poética do autor. Muitos dos carmes, em todos os andamentos, evocam as narrativas mágicas e imemoráveis que vão passando de geração em geração. Esta narratividade, coadjuvada pelo ritmo rápido e cadenciado da quadra, predetermina a atenção do leitor para a reflexão e a procura de ‘novos sentidos e possibilidades’”.

Do prólogo de Norberto Veiga

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

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