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|Tânia Rei| |
É mais uma tirada do “mundo fofo que nos rodeia”, pois é. A camaradagem na estrada, para que a malta não caia nas mãos da justiça é algo bonito e digno de se ver. Assim como quando nos esquecemos de ligar das luzes, quando algo não está bem no carro, ou quando paramos para deixar meter alguém na fila. É fofo e torna aquele mundo melhor. Já a mim, deixa-me a lacrimejar e a cantar Louis Armstrong.
Seja como for, naquele momento, enquanto carregava no travão, pensava no porquê de não podermos ser assim em tudo. Avisar toda a gente, amigos, conhecidos, estranhos e até inimigos, de que algo não está bem.
No amor, então, nem se fala. Se há altura em que precisamos que alguém nos faça sinal de luzes é quando nos apaixonamos por alguém. Ainda assim, de que vale, se as sinaléticas capazes de aterrar um Boeing não são capazes de demover um coração palpitante?
Não custava, no entanto, tentar alertar os imprudentes amantes, que vêem no horizonte unicórnios, prados verdejantes e arco-íris, sem que tenham para isso consumido qualquer substância ilícita. Era, mais uma vez, um episódio do “mundo fofo que nos rodeia”.
Só que, ao contrário dos automobilistas, que agradecem com a mão, e que dizem entre dentes “este gajo foi mesmo bacano, pá”, os apaixonados reagem como condutores de carrinhos de choque – sempre a praguejar, com as mãos fora do volante enquanto carregam pesadamente no acelerador. Não querem conselhos de ninguém, e são bem capazes de levantar o dedo do meio ao senhor que ajuda a meter as fichas e que encosta os carrinhos sem passageiros. É comum vermos estes condutores a levar marradas de tudo quanto é lado, sem saber o que fazer, a tentar deitar as mãos a um volante que deixaram, a meio da pista, desgovernado.
Porque as mãos não têm governo quando o amor governa. A cabeça não reina quando o amor impera. As pernas têm frio quando o amor aquece. O coração, esse, não sabe o que fazer, e palpita, desesperado, no meio disto tudo.
Sabem por que é que avisamos os outros condutores? Porque não nutrimos sentimentos por quem vai na outra faixa. Caso contrário, iríamos acenar-lhe, mandar beijos e desenhar corações no vidro. E, como podem imaginar, neste cenário, andar nas estradas deste mundo seria algo muito semelhante a pista de carrinhos de choque.