Parte-me o coração, só de pensar!

|Tânia Rei|



“¿Quién me va a entregar sus emociones?
¿Quién me va a pedir que nunca le abandone?
¿Quién me tapará esta noche si hace frío?
¿Quién me va a curar el corazón partío?
¿Quién llenará de primaveras este enero,
y bajará la luna para que juguemos?
Dime, si tú te vas, dime cariño mío,
¿quién me va a curar el corazón partío?”

Assim versa uma das músicas latinas da especialidade, quando é necessário responder a esta questão dilacerante. A minha grande dúvida não é quem vai curar corações partidos, até porque fosse isso possível e já haveria empregos no ramo, mas sim quanto tempo demora a curar um coração partido. Não importa saber se e quando virá alguém com super-poderes e super-cola do amor. Não. Importa perceber, primeiro, quanto tempo temos de andar de coração em frangalhos.

Haverá uma medida? Uma quantificação temporal, lá nas medições do amor? Um tempo razoável e aceitável para quem sofre de males sentimentais? Terá de ser proporcional à duração do relacionamento? E se nem houve relacionamento algum? Se foi uma paixoneta à mesa de café ou se só aconteceu na nossa cabeça? É justo que soframos por uma coisa da qual nem tivemos proveito? E se, se por outro lado, tirámos proveitos, imorais até, quem sabe? Deverá o coração ficar a doer mais? Mais tempo?

E curará o tempo tudo? Mesmo quando estamos a falar de algo tão frágil e delicado?

É que o coração é uma chávena daquelas de porcelana, daquelas que nunca podemos tirar o armário porque pode cair ou, pelo menos, lascar. Se isso acontecer, estraga-se um conjunto de seis ou de dúzia, e nunca mais se pode usar, ou usa-se manco de par, apesar de o resultado final não ser o esperado. O pior mesmo, em caso de partir e de ser de porcelana da boa, são os cacos. É uma chatice, que aquilo esmigalha tudo, tudinho. Andaremos uma vida e seguintes encarnações, até, a descobrir novos pedaços debaixo de tudo quanto é móvel.

Parte e não cola mais. Ou, se cola, fica lá a “cicatriz” bem marcada, com UHU a sair por todo o lado.

O que é remendado não volta ao original, por mais tempo de passe. Não é capaz de esconder a mácula. Por isso, em boa verdade, se o nosso coração tivesse de ser um recipiente destinado a beber líquidos (caso o amor venha assim servido, como uma boa taça de vinho), nunca poderia ser uma fina chávena de porcelana. Tinha de ser um púcaro de alumínio. É que às vezes que cai e que, levantado do chão, se sacode o pó e serve outra vez, como se nada fosse, tem de ser feito de um material resistente, e viver sem muitas mariquices.

“Tiritas pa este corazón partío”

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