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|Tânia Rei| |
Um super-herói teve um acidente bizarro, que lhe conferiu os tais super-poderes. Foram picados por insectos, caíram em caldeirões de poções mágicas, minérios vindos de outras galáxias ou são transformados em computadores (e em pen drive, nas versões mais recentes). Enfim, poderia ser só uma história digna da secção de insólitos de um qualquer jornal, mas são, afinal, super-pessoas.
A sério, se eu vos dissesse que fui mordida por uma aranha, iriam rir e pedir para mostrar a picada (ou fazer só cara de “que nojo!”), ou iriam gritar “Ahhh! És uma super-heroína, c’um diabo!). Pois, foi o que eu pensei.
Se nós, meros mortais, temos quem não vá connosco à bola, imaginem os super-heróis. Por isso há os super-vilões, que são em número superior (porque sabemos que a meio vão ser suprimidos, ou ficar bonzinhos) e que nunca são tão bonitos nem tão espectaculares. Os super-vilões também tiveram acidentes bizarros, mas, como nunca conseguiram lidar bem com a situação, entraram em trauma, e resolveram ser plo mal. Normalmente, vestem-se de forma estranha, e isso não consigo explicar. Assim de repente, vilões com estilo, só me recordo do Megamind, e todos sabemos que ele muda de lado no final do filme.
A questão é – quanto tempo demora a criar um super-herói? Sim, nos filmes da Marvel pode ter algumas horas, e dividir-se em imensas partes. A páginas tantas, descobrimos que eles são todos amigos (há as ovelhas ronhosas, que dão um lado mais “humano” à trama) e que até costumam sair juntos, com os seus fatos de licra apertados e cheios de compartimentos secretos (vá-se lá saber como, não é?).
Bom, um super-herói parece aparecer por acaso, e é como os produtos em pó – vem tudo preparado e temperado, nós só temos que juntar água e mexer em lume brando. Era só um tipo normal, que esbarrou num poder ou que nasceu com uma mutação fixe, e descobriu que, pelo sim pelo não, era boa ideia salvar o mundo. Combatendo a fome, a sida ou a extinção de animais? Claro que não, que raio de ideia! Precisa de combater os tipos que também tropeçaram ali em qualquer coisa (e por isso, eu acho que os super-heróis foram todos inventados por homens, porque isso de andar à porrada e destruir coisas sem razão aparente, é fruto de uma imaginação encharcada em testosterona).
Os super-heróis também costumam ter carros grandes, ou coisas que voam, ou andam agarrados aos prédios, numa versão intemporal dos pega-monstros (estão a ver? Invenções de homens… Eu disse…).
Não gosto de super-heróis, não os considero super-fixes nem super-úteis, pelo motivo óbvio - não existem.
Super-herói é a dona Maria, que se levanta de madrugada para cozer pão. Super-herói é o senhor Manuel, que trabalhou uma vida inteira, e que agora tem que fazer manobras do outro mundo para pagar a conta da farmácia. Super-herói é a Cristina, que é boa aluna e que tem planos para o futuro. Ser super-herói não é, afinal, fruto do acaso nem de acidentes estranhos – ser super-herói é o destino de todos os vivos.