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| |Hélio Bernardo Lopes| |
A verdade é que Luís Mira Amaral lá expôs que, para os americanos, quando querem, a Justiça funciona. Quando querem... Sim, porque durante uma boa imensidão de tempo, nunca quiseram olhar tudo sobre que foram sucessivamente alertados pelas autoridades reguladores norte-americanas. Uma realidade que já nos foi dado acompanhar por via de um documentário passado num dos nossos canais televisivos, onde uma senhora expôs as vezes sem conta em que avisara as autoridades competentes e sempre sem resultado. Chegaram mesmo a pedir-lhe que evitasse alarmes. E quando certo senador lhe perguntou como tudo funcionava, o pânico atingiu a senhora, que foi repetindo que não podia falar da realidade. E a realidade é muito simples de expor: o crime é a marca central das atividades do setor nos Estados Unidos.
Simplesmente, não foram as autoridades norte-americanas que descobriram o que quer que fosse ao redor de Bernard Madoff, antes este que se lhes entregou e se denunciou, sem perceber que as autoridades nunca poderiam ir muito longe, dado que todo o sistema financeiro norte-americano vive do crime. As autoridades sempre souberam que o sistema financeiro vive de expedientes, legais ou ilegais. O que conta é o lucro, desde que não surjam perturbações inaceitáveis para o funcionamento global do setor.
Com alguma admiração minha, Luís Mira Amaral foi ainda capaz de repetir aquela máxima sem conteúdo, de que estamos num Estado de Direito em Portugal. Para lá de tal ideia estar já longe da realidade, nada ali o obrigava a fazer tal afirmação. Cada um pensaria o que entendesse. Um ou dois dias depois, eis que Fernando Teixeira dos Santos explicou esta evidente verdade na Assembleia da República: se alguém quer enganar o supervisor, engana, escondendo mesmo. Ou seja: o supervisor de nada serve e a Assembleia da República, de facto, está subordinada às maiorias circunstanciais. Não existe qualquer controlo. De resto, o próprio Carlos Costa já nos havia dito, na noite do surgimento do Novo Banco, que tais situações só acabam por se conhecer já no seu final, em face do rebentamento de tudo.
Termino com uma meia dúvida e uma sugestão. A meia dúvida refere-se a saber se Luís Mira Amaral terá visto o Inside Job. Creio que sim, como é evidente. A sugestão é a de que procure visionar o diálogo mostrado pela SIC Notícias, entre Baltasar Garzón, Julian Assange e Roberto Saviano, cuja obra, GOMORRA, aconselho vivamente Luís Mira Amaral a ler.
